sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Produtividade na agricultura é saída para preservar o clima

Por Sabrina Domingos, do CarbonoBrasil

A demanda por alimentos e biocombustíveis faz com que a fronteira agrícola se expanda pressionando áreas de preservação ambiental. A solução para essa questão é aumentar a produtividade no campo, afirmam especialistas.

A produção de alimento, a geração de energia e a preservação do clima do planeta são temas que entram em conflito quando o assunto é o uso da terra. O problema se apresenta em uma cadeia: o crescimento populacional impulsiona o consumo de grãos, que também são fonte para a geração de bicombustíveis. A necessidade cada vez maior de plantio força a expansão das barreiras agrícolas, que avançam em direção às áreas de proteção ambiental, como a Amazônia. Com o desmatamento, crescem as emissões de gases do efeito estufa, acelerando o processo de aquecimento global.

Um relatório produzido pela ONG The Nature Conservancy (TNC) e pela consultoria LMC International afirma que, até 2014, serão necessários entre 12 milhões e 54 milhões de hectares de terra para atender a demanda por biocombustível em todo o mundo. Deste total, a maior parte - entre 7 milhões e 50 milhões de hectares - virá da América do Sul.

O coordenador do Programa Agricultura e Meio Ambiente da WWF-Brasil, Luis Fernando Laranja, afirma que 33% da superfície da Terra já é utilizada para agricultura e pecuária (o que representa 55% da área habitável do planeta). “Em todo o mundo, mais áreas de terra foram convertidas em lavouras de 1945 até hoje do que nos séculos 18 e 19 somados”, avalia.

No entanto, ele não vê a necessidade de expansão agrícola como um empecilho ao desenvolvimento sustentável do agronegócio no mundo. Laranja explica que o desafio de atender a demanda se resume em produzir mais e melhor, levando em consideração a conservação dos recursos hídricos, dos solos e da biodiversidade.

“A terra ainda é utilizada de forma extremamente ineficiente no Brasil, com 75% da área destinados à pecuária bovina. Se aumentarmos em 20% a produtividade da pecuária no Brasil teremos um excedente de 40 milhões de hectares”, enfatiza.

Esse também é o caminho defendido pelo relatório da TNC e LMC. David Cleary, diretor de Estratégias de Conservação para a América do Sul da TNC e co-autor do estudo, diz que é preciso canalizar a expansão agrícola para áreas já abertas para pastagens e saber conciliar agricultura a uma pecuária mais intensiva.

“O que está em jogo é muito crítico, pois dezenas de milhares de hectares a serem desmatados para biocombustíveis representam um desastre ambiental em termos de biodiversidade e emissões de carbono para a atmosfera”, afirma.

Para que a expansão aconteça em áreas já desmatadas e não em matas nativas, os pesquisadores sugerem aumentar a densidade dos rebanhos na criação de gado e integrar melhor a pecuária e a agricultura, gerando, desta forma, mais valor para as terras já abertas. Assim, é possível evitar possíveis desmatamentos com o deslocamento da pecuária para a Amazônia, por exemplo, fixando os pecuaristas dentro do Cerrado.

“O monitoramento do uso da terra é barato e tecnicamente viável, e se torna uma base para sistemas de certificação que será estratégica para abrir fronteiras no mercado de etanol internacional”, explica Carlos Klink, coordenador da equipe de Agricultura do Programa das Savanas Centrais da TNC e co-autor do estudo.

Pressão

Neste momento a regulamentação para a importação do etanol na União Européia está em debate, e a demanda para certificação da ausência de desmatamento e impactos positivos de carbono está cada vez mais concreta.

A exigência internacional tem motivado os mercados a se adequarem a normas mais rígidas quanto à procedência dos produtos. O chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Meio Ambiente, Ariovaldo Luchiari Júnior, explica que hoje há muitos requisitos para que se consiga exportar para Europa e outros países. “É preciso cumprir exigências de práticas agrícolas, de legislação ambiental, social e trabalhista para conseguir exportar e entrar em certos mercados”, informa.

Isso faz com que os produtores adotem melhores práticas no campo para atender às exigências dos clientes, que são cada vez maiores. Luchiari diz que a conscientização tem aumentado em todo o mundo e que no Brasil várias redes de supermercados já exigem cumprimento de protocolos pelos fornecedores, que precisam ser credenciados e detalhar a identidade de origem dos produtos que comercializam.

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Agricultura e os desafios ambientais

Por Paula Scheidt, do CarbonoBrasil

A FAO fez hoje um alerta sobre as emissões de gases do efeito estufa vindas da agricultura e, a CarbonoBrasil aproveita a ocasião para lançar um especial que faz uma radiografia do problema no mundo e no Brasil.

Justamente na semana de abertura da Conferência de Mudanças Climáticas, na Polônia, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) chama a atenção do mundo para um setor responsável por 13,5% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) e que pressiona fortemente áreas de preservação ambiental como a Amazônia.

“A agricultura e o desmatamento são os grandes contribuintes para as mudanças climáticas, mas os mesmos fazendeiros e usuários da floresta poderiam ser os principais agentes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, disse hoje o assistente do Diretor Geral da FAO, Alexander Müller.

Para mostrar a real dimensão do problema no mundo e no Brasil, a CarbonoBrasil lança hoje o especial “Agricultura e os desafios ambientais”, que será publicado no decorrer do mês de dezembro.

Os GEE das florestas e agricultura somam 30% das emissões anuais totais, com o desmatamento e a degradação florestal respondendo por 17,4%, segundo dados da FAO. A agricultura responde ainda por 50% das emissões mundiais de metano, vindas dos rebanhos de animais e plantações de arroz, e mais de 75% das emissões de óxido nitroso, vindas principalmente da aplicação de fertilizantes.

O crescimento populacional impulsiona o consumo de grãos, que também são fonte para a geração de bicombustíveis. A necessidade cada vez maior de plantio força a expansão das barreiras agrícolas, que avançam em direção às áreas de proteção ambiental, como a Amazônia. Com o desmatamento, crescem as emissões de gases do efeito estufa, acelerando o processo de aquecimento global.

Müller afirmou que são necessários mecanismos financeiros para promover o potencial de mitigação de mudanças climáticas que existe nestes setores, particularmente com usuários de terra de pequena escala em países em desenvolvimento.

Algumas medidas citadas pela FAO são o uso mais eficiente de variedades nas plantações, um melhor controle de queimadas, melhorias no gerenciamento de recursos naturais, captura de biogás em granjas, restauração de terras, gerenciamento de solo orgânico e a promoção de sistemas agro-florestais.


Fonte: CarbonoBrasil

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