segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Índia deve revelar detalhes sobre seu mercado de carbono

Por Fabiano Ávila, da Carbono Brasil 

O governo indiano irá divulgar mais informações sobre um mercado nacional de carbono no dia primeiro de fevereiro.  A princípio, a Índia seguirá o modelo do Esquema de Permissões de Emissão da União Européia (EU ETS) somado às iniciativas adotadas nos anos 1990 nos Estados Unidos para controlar chuvas ácidas.

O projeto piloto do mercado foi desenvolvido por uma equipe de especialistas do MIT em conjunto com a Universidade de Harvard. A intenção é que ele seja implementado nas províncias de Tamil Nadu e Gujarat.

Essas regiões foram escolhidas porque são áreas extremamente poluídas e sedes de grandes setores industriais. Tamil Nadu também se destaca por já possuir um avançado sistema de monitoramento de poluição e qualidade do ar.

Ainda existem muitos pré-requisitos que devem ser cumpridos antes que o mercado saia do papel.  É preciso que o governo estabeleça mecanismos transparentes e regulamentações sólidas para que o esquema receba confiança dos investidores.

(Envolverde/CarbonoBrasil)

IIED destaca papel das cidades na mitigação climática

Por Fabiano Ávila, da Carbono Brasil 

O Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento analisou as emissões em 100 centros urbanos e afirma que novas políticas para o clima podem ser descobertas com a observação das diferenças entre as metrópoles

A cidade de São Paulo possui uma menor emissão per capita de gases do efeito estufa do que muitos centros urbanos do sudeste da Ásia, um exemplo de que mais riqueza não necessariamente implica em mais emissões.

Observar esses contrastes, principalmente no que diz respeito aos hábitos de consumo e padrões de vida, pode revelar grandes oportunidades e lições para novas políticas de mitigação das mudanças climáticas.

É isso que afirma o estudo “Cities and greenhouse gas emissions: moving forward”, do Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED), divulgado nesta quarta-feira (26).

O trabalho coletou dados sobre as emissões de 100 cidades em 33 países justamente para salientar as diferenças entre elas e apontar possíveis sugestões para melhorar as vidas das pessoas diante das transformações do clima.

“Diferenças nos padrões de produção e consumo entre as cidades significam que não é muito útil atribuir as emissões para as metrópoles como um todo. Autoridades precisam entender melhor as fontes de emissões se é que desejam desenvolver soluções reais”, afirmou Daniel Hoornweg, principal autor do estudo e especialista em cidades e mudanças climáticas do Banco Mundial.

As emissões variam bastante ao redor do planeta, mesmo em cidades com aproximadamente o mesmo número de habitantes. Em algumas capitais dos países mais industrializados, as emissões chegam a 15 ou 30 toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e ) por ano, enquanto na Ásia podem ser encontradas cidades com meia tonelada por pessoa.

Entre as metrópoles mais ricas, as capitais européias se mostram mais limpas que as norte-americanas, possuindo em média menos da metade das emissões per capita.

Mas também existem muitas diferenças entre os centros urbanos nos EUA. Denver, por exemplo, apresenta o dobro das emissões per capita de Nova York. O motivo seria a maior utilização de automóveis e a preferência por veículos grandes, como caminhonetes e SUVs (Sport Utility Vehicles).

Até mesmo dentro uma só cidade pode haver grandes contrastes entre as emissões de seus habitantes. O estudo usa como exemplo Toronto, no Canadá, onde as pessoas que moram no centro, com acesso ao sistema público de transporte, apresentam apenas 1,3 tCO2e por ano, já as que vivem nos subúrbios mais distantes chegam a 13 tCO2e.

De forma semelhante, os índices podem variar conforme os critérios utilizados para medi-los.  Uma metrópole onde a população possui hábitos de grande consumo pode até ter poucas emissões se o critério for em termos de produção.

Uma das conclusões do trabalho foi que não é válido culpar as cidades como um todo pelas emissões. Existem muitas particularidades que devem ser levadas em conta e que também devem ser analisadas para o desenvolvimento de programas mais eficientes de redução.

“Este Estudo nos relembra que são as cidades mais ricas e os seus habitantes mais ricos que promovem índices insustentáveis de gases do efeito estufa, não cidades em geral”, concluiu David Satterthwaite, editor do portal Urbanização e Meio Ambiente e membro do IIED.

(Envolverde/Carbono Brasil)

Estudo da IUFRO recomenda inversão da lógica do REDD

Por Fabiano Ávila, da Carbono Brasil 

A União Internacional de Institutos de Pesquisa Florestal acredita que o foco do mecanismo em reduzir as emissões de gases do efeito estufa é prejudicial para os povos nativos e sugere a criação do Forest+

A Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) parte do princípio que as florestas são essenciais para o equilíbrio do clima e por isso os países com grandes áreas intocadas de mata nativa devem ser incentivados a mantê-las assim. Dessa forma, o mecanismo permite acordos internacionais que recompensem ou ao menos compensem a não exploração dessas regiões.

Porém, logo surgiu a preocupação de que para arrecadar com o REDD, grandes latifundiários e corporações iriam expulsar índios e povos ribeirinhos de seus lares ou alterar o modo de vida dessas pessoas, para lucrar com os créditos de carbono.

Diante disso, foi preciso pensar além, e assim nasceu o REDD+, que leva em conta o tradicional estilo de vida das populações que vivem nas florestas. Essa nova iniciativa prevê uma gestão sustentável da floresta.

Agora, a União Internacional de Institutos de Pesquisa Florestal (IUFRO) alerta que apesar do REDD ter exemplos concretos de proteção florestal, mesmo sua versão REDD+ ainda é falha no que diz respeito às necessidades dos povos nativos.

“REDD+ foi um avanço, já que coloca a conservação das florestas como um objetivo e a administração sustentável das florestas como uma solução. Mas ainda continua a priorizar o valor do armazenamento de carbono acima das melhoras necessárias nas condições de vida das populações”, explicou Jeremy Rayner, presidente do painel da IUFRO.

A necessidade de expandir o REDD+ com novos conceitos foi apresentada pela IUFRO no estudo “Embracing complexity: Meeting the challenges of international forest governance” divulgado nesta segunda-feira (24) na abertura da nona edição do Fórum sobre Florestas das Nações Unidas (UNFF) como parte do lançamento do Ano Internacional das Florestas.

Produzido por 60 especialistas de diversos países e áreas de estudo, o relatório é considerado pela IUFRO como o mais completo trabalho científico sobre governança florestal já realizado.

Uma das soluções dadas pelo estudo é o estabelecimento do que foi chamado de “Forest +”, que tem como objetivo conservar as matas ao incentivar incrementos nas condições de vida das populações nativas.
“O Forest+ seria focado nas muitas maneiras que as pessoas utilizam as florestas. Assim, ele incentivaria melhores práticas sustentáveis ao mesmo tempo em que também encorajaria a compra de produtos que tenham o menor impacto no ecossistema”, explicou Benjamin Cashore, professor de governança ambiental e ciência política da Universidade de Yale e colaborador do estudo.

A IUFRO acredita que essa inversão da lógica, colocando as populações nativas acima do armazenamento de carbono, é o melhor caminho para a real preservação das florestas.

“O REDD foi mais eficiente do que qualquer outra estratégia de preservação no passado. Porém, povos indígenas acabam sofrendo com a criminalização do seu tradicional modo de vida e com a pressão de pessoas de fora querendo lucrar com os créditos de carbono. Melhor que ter uma iniciativa que olhe as coisas de cima para baixo, do global para o local, seria incentivar os bons exemplos regionais de preservação e multiplicá-los”, concluiu Constance McDermott, do Instituto de Mudanças Ambientais da Universidade de Oxford.

Segundo a IUFRO, o REDD+ está fadado ao fracasso se não revisar sua lógica de funcionamento.

(Envolverde/Carbono Brasil)

Além da meta de dois graus

Por Oliver Gedenis* 

Nos círculos internacionais de políticas climáticas existe um amplo consenso sobre a meta de limitar o aquecimento global a um máximo de dois graus acima dos níveis pré-industriais. Ainda assim, atingir essa meta é quase impossível.

Mas se os líderes mundiais abandonarem esse alvo, terão de tomar uma decisão estratégica fundamental em relação à estrutura e aos níveis de exigência de um novo objetivo climático. Portanto, é preciso uma mudança de paradigma. A abordagem científica da tradução da temperatura global em orçamentos nacionais de emissões precisos é politicamente inviável. Em vez disso, países com uma forte agenda de política climática devem defender fórmulas dinâmicas para fixação de metas.

O alvo dos dois graus é o ponto primário de referência para o debate atual. Um aumento correspondente na temperatura média global é normalmente visto como o limite além do qual os efeitos das mudanças climáticas começam a ficar perigosos. Mas, ao contrário da crença generalizada, o último relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) não ligou para a meta dos dois graus, o que, desde o final dos anos 90, tem surgido como um símbolo e um ponto de orientação para uma ambiciosa, porém realista, agenda climática global.

A União Europeia foi a primeira força a impulsionar o alvo dos dois graus internacionalmente. Os ministros do ambiente europeus têm defendido a meta desde 1996. À frente da Conferência de Copenhagen, em 2009, a União Europeia conseguiu fazer com que todos os parceiros relevantes no âmbito das negociações incluindo até China, Índia, Rússia e Estados Unidos se comprometessem com a meta.

Dado que a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) emitida até agora vai aumentar as temperaturas em 1,5°C em comparação com a época pré-industrial, decisões políticas maiores são necessárias para garantir o cumprimento da meta de dois graus. A ciência climática pressupõe que o pico das emissões globais deve ocorrer dentro dos próximos anos. Atualmente, entretanto, há poucos indícios de que uma reversão de tendências será mesmo visível no horizonte.

Então, até certo ponto no futuro próximo, um crescente número de vozes da comunidade científica deve definitivamente rejeitar a possibilidade de manter essa meta. Quando isso acontecer, simplesmente defender um alvo mais suave, de 2,5°C ou 3°C, não será suficiente.

De acordo com o paradigma atual, a meta global é definida por categorias científicas e entendida como um limite máximo absoluto. Dada essa abordagem, todos os esforços iniciais têm buscado criar um acordo climático global, levando a um forte foco em negociações globais, negligenciando os esforços concretos de descarbonização por países industrializados e em industrialização.

O resultado é um empate, porque os governos podem sempre culpar pelas falhas a falta de ação dos outros. Mesmo os EUA têm usado esse argumento para justificar sua recusa para aumentar a redução de emissão de GEE de 20% para 30% até 2020.

Um paradigma alternativo teria que combinar realismo com uma visão global positiva. Uma possibilidade é estabilizar uma neutralidade climática como um objetivo global de longo prazo, trabalhar para reduzir em rede as emissões de GEE. Mesmo que esse objetivo fosse inicialmente ligado a um calendário definido de forma ampla, ele estabeleceria o padrão para a ação, segundo o qual todos os países teriam de se basear.

Dentro desse quadro, ambiciosos atores da política climática como EUA, Suíça ou Japão enfrentariam a tarefa de se comprometer com medidas exatas de descarbonização. Eles teriam de reunir provas de que a transição para uma economia de baixo carbono é tecnicamente viável e rentável, gerando efeitos positivos não só para o clima, mas também para os preços da energia e para a segurança do abastecimento. O sucesso estimularia outros países do G-20, atuando fora do auto-interesse, a seguir os passos dos líderes do clima.

Esse tipo de abordagem, de baixo para cima, levaria a significativas reduções de emissões. Para ter certeza, seria impossível de prever, com base no princípio favorecido atualmente, de cima para baixo, quanto de aumento da temperatura o mundo suportaria. Dado que a exploração a um limite de temperatura estrito não é uma opção politicamente viável, focalizando a política do clima em benchmarks flexíveis, tais como a neutralidade do clima , seria mais eficaz no curto prazo e mais promissora no longo prazo.

*Oliver Gedenis é pesquisador sênior no SWP, o maior centro de estudos alemão de política de segurança e relações exteriores.

(Envolverde/Zero Hora)

Dor contratada

Por Míriam Leitão*, para O Globo 

Os economistas mostram que o erro é investir pouco na prevenção e gastar muito para remediar. Os meteorologistas descrevem encontros de fenômenos naturais que os tornam mais potentes. Os climatologistas alertam que vai piorar. Os urbanistas apontam erros do passado. Um conservacionista viajou pelo Brasil e viu a insensatez. Assim se contrata a dor presente e futura.

Cada especialista no seu ângulo registra um pedaço do erro. Eles juntos produzem uma zona de convergência de tragédias futuras. O Brasil é bom na emergência: os poderes se juntam, os diagnósticos são precisos, as soluções são prometidas, o dinheiro aparece, a generosidade brota, a imprensa se concentra. Cessou o momento extremo e tudo volta ao leito do rio dos adiamentos.

Marcelo Seluchi, meteorologista do Inpe, explicou ontem a coincidência dos fenômenos que vitimaram a Região Serrana do Rio:

- A Zona da convergência do Atlântico Sul produz umidade concentrada. Isso piorou pela nebulosidade da Serra, mas houve também o que a gente chama de Sistema de Bloqueio, que deixou essa umidade sobre o Rio e São Paulo. São fenômenos naturais, mas as grandes catástrofes estão ficando mais frequentes.

Chuvas, tempestades, enchentes sempre existiram, tragédias já marcaram o passado em eventos históricos, mas o que está convergindo são os avisos de especialistas de diversas áreas de que é perigoso insistir no mesmo padrão de comportamento. A presidente Dilma ontem sobrevoou a tragédia e disse que a população pode esperar medidas fortes. Que sejam também permanentes.

Do Japão, o climatologista Carlos Nobre mostrou empolgação com o sistema de alertas e prevenção de enchentes e deslizamentos em encostas que será criado no Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) usando computadores e sabedoria do INPE:

- Remover as pessoas de áreas de risco é mais difícil, mas é possível e factível um sistema de alertas efetivo. E esta será uma das minhas mais importantes tarefas no MCT.

Aumentou a volatilidade do clima, os fenômenos estão mais ativos, os extremos mais frequentes. Isso é evidente para qualquer leigo e uma constatação científica. Portanto, é mais do que repetição, é um movimento de piora constante. A cada nova tragédia, ela pode ser pior. Não tem volta, a humanidade já contratou uma parte da mudança climática. O que nos cabe agora é tentar mitigar seus efeitos, se adaptar aos seus rigores, evitar a continuação dos erros.

- O que tem sido observado globalmente é uma exacerbação dos ciclos naturais, isto é, extremos climáticos têm acontecido com mais freqüência, há maior volatilidade do clima. No Brasil, faltam estudos de longo prazo do clima contemporâneo para sermos mais conclusivos, mas é bom nos prepararmos para este aumento de volatilidade. Vamos desenvolver e implementar tão rápido quanto possível formas de reduzir riscos de desastres através do sistema de alerta. No longo pra$, esse aumento da volatilidade vai mexer profundamente com os usos da terra, principalmente nas áreas de risco e cidades. Há um limite para obras de engenharia. É preciso fazer a paisagem rural e urbana voltar a responder de maneira mais natural aos fenômenos climáticos — disse Carlos Nobre.

É como declarou ontem a presidente Dilma após visitar os locais da tragédia na Região Serrana. Cabe às autoridades atender às emergências e prevenir com política habitacional, drenagem, saneamento:

- Porque se o terreno aqui é uma camada fina sobre rocha e há deslizamento quando chove, que deslize, mas que não morra gente.

O sinal da presidente é exato: em vez de culpar a natureza, precisamos nos preparar. Para lidar com fenômenos que ela descreveu como “montanhas que se dissolveram.”

Foi o que viu também o conservacionista Miguel Milano. Ele acaba de voltar de uma viagem de 5 mil quilômetros, de carro, pelo interior do Brasil. Foi do Sul até a Bahia e passando por São Paulo, Minas, Rio, visitou o Vale do Paraíba e voltou pelo Espírito Santo, onde já pegou, na virada do ano, áreas alagadas:

- De propósito, fugi das grandes vias e viajei por dentro. Vi morro derretendo, vi todo o tipo de irregularidade. Não há áreas de preservação permanente, reserva legal, vegetação em declives. Vi encosta desmoronando por causa de erosão. Fiquei lembrando do que estudei de hidrologia florestal nos meus tempos de estudante, há décadas. Um desses estudos mostrava que a diferença entre o pico da cheia e o da seca nas áreas vegetadas é de sete vezes. Nas áreas degradadas, é de 20 vezes. A vegetação é proteção, atenua o impacto das chuvas, reduz o volume e o tempo do escorrimento, protege contra o vento e tem o efeito de transpiração, ou seja, as árvores bombeiam parte da água de volta para a atmosfera. Fui vendo isso e pensando na loucura do Brasil, que não só não respeita o Código Florestal como quer, a esta altura, mudá-lo.

No meio da mudança climática é estranho propor reduzir proteção das margens dos rios, dos picos dos morros, dos terrenos íngremes e diminuir as áreas de reserva legal. Mas é isso que o Congresso Nacional está votando na mudança do Código Florestal.

A presidente Dilma disse que agora é a hora de resgatar, amparar e cuidar das pessoas. Depois, reconstruir e prevenir.

É o triste momento de contar os mortos. Eles já passam dos 480. É também hora de ver que caminhamos no sentido contrário ao que manda a razão e a sensatez.

*Publicado originalmente na coluna da autora no site do jornal O Globo, em 14/01/2011 - http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2011/01/14/dor-contratada-356593.asp

(Envolverde/Portal do Meio Ambiente)

Estudo demonstra efeito de mudanças climáticas


Por Antônio Martins, do Outras Palavras* 

Movimentos como prosperidade do Império Romano, pestes e migrações maciças teriam sido influenciados por alterações ambientais.

Surgiu mais um dado importante, para o debate crucial sobre as consequências do aquecimento da Terra. A revista Science acaba de publicar os resultados de um vasto estudo que relaciona episódios marcantes da História, nos últimos 2500 anos, com mudanças atmosféricas na Europa. Situações naturais favoráveis, revela a pesquisa, influenciaram períodos de expansão da atividade material e intelectual humana — como no fase de glória do Império Romano. Em contrapartida, fenômenos como a peste que dizimou a população europeia no século 14, ou as crises que provocaram grandes migrações no século 19, teriam, entre suas causas, um clima hostil.

O trabalho é obra de uma equipe de cientistas coordenada por Ulf Büntgen, paloclimatólogo do Instituto Federal de Pesquisas sobre a Floresta, de Zurique. Baseou-se na dendrocronologia, o estudo que relaciona as idades das árvores com os aneis de seus troncos. A equipe de Büntgen examinou estudos de 9 mil amostras de árvores, colhidas nos últimos trinta anos, no Velho Continente, por arqueólogos. Cotejou-as com outras amostras, de plantas vivas. A partir da comparação, pensa ter feito descobertas importantes sobre a evolução da temperatura e umidade do ar.

O período de cinco séculos que se estende entre 300 a.C e o ano 200 parece ter sido marcado por verões quentes e úmidos. Eles favoreceram a atividade agrícola, base principal da economia da Antiguidade, e impulsionaram uma longa fase de desenvolvimento da produção, comércio, ciência e artes. É, também, o período de expansão do Império Romano. Um outro período quente e úmido abrangeu os séculos 11 a 13, quando se deu a chamado apogeu da Idade Média.

Já o período de declínio acelerado de Roma, e desmantelamento de seu império, pode ter sido acelerado por uma fase de seca prolongada. Outras condições metorológicas desfavoráveis (agora, temperaturas muito baixas associadas a umidade alta) coincidiriam com a epidemia de peste que dizimou boa parte da população europeia, no século 14, e com a escassez de alimentos que provocou as migrações maciças (rumo à América, principalmente) nos anos 1800.

O estudo, possivelmente pioneiro (veja resumo - http://www.sciencemag.org/content/early/2011/01/12/science.1197175 - e coleção de gráficos e tabelas - http://www.emetsoc.org/annual_meetings/documents/presentations_2010/UC4_Buentgen.pdf), abre uma pista para o investigação sobre as mudanças climáticas do passado e suas consequências. Além disso sugere, como declarou Büntgen, “repensar a hesitação atual, política e fiscal, em enfrentar a mudança climática acelerada do século 21″.

*Publicado originalmente no portal Outras Palavras. Para conhecer acesse http://ponto.outraspalavras.net/.

(Envolverde/Outras Palavras)

As alternativas da alternativa

Marilia Bugalho Pioli*, para a Agência Ambiente Energia – Que a energia eólica – e as outras fontes de energias renováveis – é uma alternativa vantajosa à matriz energética de fontes fósseis já é praticamente lugar comum, mas as vantagens são tantas que já se pode falar em alternativas dessa alternativa.

Com isso se pretende dizer que a energia eólica extrapola os limites dos parques eólicos que enchem os olhos de quem por eles passa – sem embargo dos protestos daqueles que reclamam do “enfeiamento” que as torres provocariam, em especial em locais próximos a sítios históricos e turísticos como acontece na Europa – e representa alternativa de geração de energia para consumidores domésticos e para consumo próprio.

Noticiou-se na imprensa, por exemplo, que no estado de Santa Catarina há um projeto de construção de condomínio residencial (Neo) no qual dois aerogeradores deverão alimentar aquecedores centrais. Em Maringá, cidade do noroeste do Paraná, foi instalada uma torre de 40 metros no condomínio Ecogarden Residence, com conclusão prevista para janeiro de 2012. A energia gerada pela turbina eólica deverá suprir a área comum do condomínio (quadras de tênis, salão de festas e postes das praças). A utilização de energia eólica em áreas residenciais contribui para o conceito de sustentabilidade, tão importante e tão em voga hoje em dia.

As vantagens da energia limpa, em especial da fonte eólica, servem inclusive de inspiração para a genialidade criativa dos inventores. Para proporcionar o acesso ao uso de energia eólica para unidades residenciais, Jonathan Globerson criou o GreenGenerator, um gerador com  miniturbinas eólicas e células solares em filme flexível que pode ser instalado em sacadas. O inventor defende que cada aparelho pode reduzir até 6% a conta de energia e impedir a emissão de cerca de 900 quilos de CO2 na atmosfera.

Divulgado como o primeiro prédio comercial do Brasil a usar energia eólica, o Edifício Eólis, localizado em Porto Alegre (RS), pretende que 20% de toda a energia consumida pelas áreas comuns (corredores, elevadores, estacionamento) provenha da energia eólica. O gerador eólico, que custou cerca de R$ 40 mil, foi instalado no topo do prédio e tem capacidade para gerar 3 KW. A expectativa da empresa administradora do projeto é que o retorno do investimento aconteça em cinco anos e que a economia, possibilitada também por tratativas com a Companhia Estadual de Energia Elétrica, supere 50%. Se as expectativas se concretizarem, a intenção dos responsáveis pelo projeto é triplicar a produção de energia eólica no prédio.

A energia eólica também se apresenta como alternativa de consumo para grandes empresas, a exemplo do Walmart do México. Perseguindo o objetivo de obter 100% de energia de fontes renováveis até 2025, desde 6 de maio de 2010 a divisão Walmart do México e América Central passou a ter as cerca de 350 lojas, lojas de descontos e restaurantes da capital mexicana e da cidade de Morelos integralmente supridas por energia eólica. Espera-se que a operação reduza a emissão de CO2 em cerca de 137.000 toneladas/ano, o que equivale à emissão de 21.000 automóveis.

As possibilidades de uso de energia eólica além dos parques chega mesmo a alcançar os oceanos (e não estamos aqui falando em instalação offshore). Recentemente navegou em águas brasileiras o primeiro – e por enquanto único – navio eólico. Trata-se do E-Ship 1, o primeiro cargueiro movido a energia eólica (em conjunto com propulsão diesel-elétrica). Os giros de quatro rotores cilíndricos (torres de 27 metros de altura por 4 metros de diâmetro) instalados no convés principal do navio, associados ao efeito do vento lateral, criam a força que ajuda a impulsionar o navio.

Com estes poucos e tímidos exemplos – certamente há muitos outros casos espalhados pelo mundo – denota-se que a energia eólica representa um mercado emergente (com as vantagens da sustentabilidade e com ganhos inquestionáveis para o meio ambiente) não somente para os milionários investidores de parques eólicos, mas também para bolsos e empreendimentos bem mais modestos, cabendo até mesmo “nos quintais” de nossas casas.

* Marilia Bugalho Pioli é advogada, sócia do escritório Becker, Pizzatto & Advogados Associados, coordenadora da área jurídica de Energia Eólica

Fonte:  Ambiente Energia