Por Oliver Gedenis*
Nos círculos internacionais de políticas climáticas existe um amplo consenso sobre a meta de limitar o aquecimento global a um máximo de dois graus acima dos níveis pré-industriais. Ainda assim, atingir essa meta é quase impossível.
Mas se os líderes mundiais abandonarem esse alvo, terão de tomar uma decisão estratégica fundamental em relação à estrutura e aos níveis de exigência de um novo objetivo climático. Portanto, é preciso uma mudança de paradigma. A abordagem científica da tradução da temperatura global em orçamentos nacionais de emissões precisos é politicamente inviável. Em vez disso, países com uma forte agenda de política climática devem defender fórmulas dinâmicas para fixação de metas.
O alvo dos dois graus é o ponto primário de referência para o debate atual. Um aumento correspondente na temperatura média global é normalmente visto como o limite além do qual os efeitos das mudanças climáticas começam a ficar perigosos. Mas, ao contrário da crença generalizada, o último relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) não ligou para a meta dos dois graus, o que, desde o final dos anos 90, tem surgido como um símbolo e um ponto de orientação para uma ambiciosa, porém realista, agenda climática global.
A União Europeia foi a primeira força a impulsionar o alvo dos dois graus internacionalmente. Os ministros do ambiente europeus têm defendido a meta desde 1996. À frente da Conferência de Copenhagen, em 2009, a União Europeia conseguiu fazer com que todos os parceiros relevantes no âmbito das negociações incluindo até China, Índia, Rússia e Estados Unidos se comprometessem com a meta.
Dado que a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) emitida até agora vai aumentar as temperaturas em 1,5°C em comparação com a época pré-industrial, decisões políticas maiores são necessárias para garantir o cumprimento da meta de dois graus. A ciência climática pressupõe que o pico das emissões globais deve ocorrer dentro dos próximos anos. Atualmente, entretanto, há poucos indícios de que uma reversão de tendências será mesmo visível no horizonte.
Então, até certo ponto no futuro próximo, um crescente número de vozes da comunidade científica deve definitivamente rejeitar a possibilidade de manter essa meta. Quando isso acontecer, simplesmente defender um alvo mais suave, de 2,5°C ou 3°C, não será suficiente.
De acordo com o paradigma atual, a meta global é definida por categorias científicas e entendida como um limite máximo absoluto. Dada essa abordagem, todos os esforços iniciais têm buscado criar um acordo climático global, levando a um forte foco em negociações globais, negligenciando os esforços concretos de descarbonização por países industrializados e em industrialização.
O resultado é um empate, porque os governos podem sempre culpar pelas falhas a falta de ação dos outros. Mesmo os EUA têm usado esse argumento para justificar sua recusa para aumentar a redução de emissão de GEE de 20% para 30% até 2020.
Um paradigma alternativo teria que combinar realismo com uma visão global positiva. Uma possibilidade é estabilizar uma neutralidade climática como um objetivo global de longo prazo, trabalhar para reduzir em rede as emissões de GEE. Mesmo que esse objetivo fosse inicialmente ligado a um calendário definido de forma ampla, ele estabeleceria o padrão para a ação, segundo o qual todos os países teriam de se basear.
Dentro desse quadro, ambiciosos atores da política climática como EUA, Suíça ou Japão enfrentariam a tarefa de se comprometer com medidas exatas de descarbonização. Eles teriam de reunir provas de que a transição para uma economia de baixo carbono é tecnicamente viável e rentável, gerando efeitos positivos não só para o clima, mas também para os preços da energia e para a segurança do abastecimento. O sucesso estimularia outros países do G-20, atuando fora do auto-interesse, a seguir os passos dos líderes do clima.
Esse tipo de abordagem, de baixo para cima, levaria a significativas reduções de emissões. Para ter certeza, seria impossível de prever, com base no princípio favorecido atualmente, de cima para baixo, quanto de aumento da temperatura o mundo suportaria. Dado que a exploração a um limite de temperatura estrito não é uma opção politicamente viável, focalizando a política do clima em benchmarks flexíveis, tais como a neutralidade do clima , seria mais eficaz no curto prazo e mais promissora no longo prazo.
*Oliver Gedenis é pesquisador sênior no SWP, o maior centro de estudos alemão de política de segurança e relações exteriores.
Mas se os líderes mundiais abandonarem esse alvo, terão de tomar uma decisão estratégica fundamental em relação à estrutura e aos níveis de exigência de um novo objetivo climático. Portanto, é preciso uma mudança de paradigma. A abordagem científica da tradução da temperatura global em orçamentos nacionais de emissões precisos é politicamente inviável. Em vez disso, países com uma forte agenda de política climática devem defender fórmulas dinâmicas para fixação de metas.
O alvo dos dois graus é o ponto primário de referência para o debate atual. Um aumento correspondente na temperatura média global é normalmente visto como o limite além do qual os efeitos das mudanças climáticas começam a ficar perigosos. Mas, ao contrário da crença generalizada, o último relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) não ligou para a meta dos dois graus, o que, desde o final dos anos 90, tem surgido como um símbolo e um ponto de orientação para uma ambiciosa, porém realista, agenda climática global.
A União Europeia foi a primeira força a impulsionar o alvo dos dois graus internacionalmente. Os ministros do ambiente europeus têm defendido a meta desde 1996. À frente da Conferência de Copenhagen, em 2009, a União Europeia conseguiu fazer com que todos os parceiros relevantes no âmbito das negociações incluindo até China, Índia, Rússia e Estados Unidos se comprometessem com a meta.
Dado que a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) emitida até agora vai aumentar as temperaturas em 1,5°C em comparação com a época pré-industrial, decisões políticas maiores são necessárias para garantir o cumprimento da meta de dois graus. A ciência climática pressupõe que o pico das emissões globais deve ocorrer dentro dos próximos anos. Atualmente, entretanto, há poucos indícios de que uma reversão de tendências será mesmo visível no horizonte.
Então, até certo ponto no futuro próximo, um crescente número de vozes da comunidade científica deve definitivamente rejeitar a possibilidade de manter essa meta. Quando isso acontecer, simplesmente defender um alvo mais suave, de 2,5°C ou 3°C, não será suficiente.
De acordo com o paradigma atual, a meta global é definida por categorias científicas e entendida como um limite máximo absoluto. Dada essa abordagem, todos os esforços iniciais têm buscado criar um acordo climático global, levando a um forte foco em negociações globais, negligenciando os esforços concretos de descarbonização por países industrializados e em industrialização.
O resultado é um empate, porque os governos podem sempre culpar pelas falhas a falta de ação dos outros. Mesmo os EUA têm usado esse argumento para justificar sua recusa para aumentar a redução de emissão de GEE de 20% para 30% até 2020.
Um paradigma alternativo teria que combinar realismo com uma visão global positiva. Uma possibilidade é estabilizar uma neutralidade climática como um objetivo global de longo prazo, trabalhar para reduzir em rede as emissões de GEE. Mesmo que esse objetivo fosse inicialmente ligado a um calendário definido de forma ampla, ele estabeleceria o padrão para a ação, segundo o qual todos os países teriam de se basear.
Dentro desse quadro, ambiciosos atores da política climática como EUA, Suíça ou Japão enfrentariam a tarefa de se comprometer com medidas exatas de descarbonização. Eles teriam de reunir provas de que a transição para uma economia de baixo carbono é tecnicamente viável e rentável, gerando efeitos positivos não só para o clima, mas também para os preços da energia e para a segurança do abastecimento. O sucesso estimularia outros países do G-20, atuando fora do auto-interesse, a seguir os passos dos líderes do clima.
Esse tipo de abordagem, de baixo para cima, levaria a significativas reduções de emissões. Para ter certeza, seria impossível de prever, com base no princípio favorecido atualmente, de cima para baixo, quanto de aumento da temperatura o mundo suportaria. Dado que a exploração a um limite de temperatura estrito não é uma opção politicamente viável, focalizando a política do clima em benchmarks flexíveis, tais como a neutralidade do clima , seria mais eficaz no curto prazo e mais promissora no longo prazo.
*Oliver Gedenis é pesquisador sênior no SWP, o maior centro de estudos alemão de política de segurança e relações exteriores.
(Envolverde/Zero Hora)
Nenhum comentário:
Postar um comentário