segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mudança climática: Para a UE, melhor do que fazer é falar

Por David Cronin, da IPS

Bruxelas, 28/11/2008 – Às vésperas da conferência internacional sobre mudança climática que começará dia 1º de dezembro na cidade polonesa de Poznan, altos funcionários europeus apresentam-se como campeões de sólidas políticas ambientais. O comissário europeu para o Meio Ambiente, Stavros Dimas, descreveu esta semana uma série de medidas que a União Européia considera como “o pacote legislativo de maior alcance no mundo para combater a mudança climática”. Mas, ativistas “verdes” que avaliaram detalhadamente essas iniciativas se mostram menos impressionados e consideram que a retórica da UE não corresponde às suas ações.

Uma das principais razões pela qual o bloco não pode afirmar que exerce liderança na matéria – acrescentam – é que até o momento negou-se a tomar medidas drásticas para reduzir as emissões de dióxido de carbono, o gás que mais contribui para o aquecimento global. Em 2007, os 27 governos da UE se comprometeram a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa no mínimo em 20% até 2020, em relação aos níveis de 1990. Porém, as últimas propostas sugerem que cerca de 65% dessa redução não acontecerão na pratica em território europeu. Por outro lado, serão “compensados” com financiamento de “desenvolvimento limpo” em outras partes do mundo.

Joris den Blanken, ativista do Greenpeace, disse que “a falta total de ação” significa que os governos da UE somente poderão dizer que atingiram suas metas exclusivamente pelo menor consumo de energia derivado de uns poucos invernos não muito rigorosos. Além disso, afirmou que o mecanismo de “desenvolvimento limpo” no qual países europeus colocam suas esperanças tem sérias deficiências. Até agora, cerca de 40% das medidas adotadas como parte dele “não se traduziram em reduções reais” de gases de efeito estufa. Blanken acrescentou que alguns projetos da China prejudicam o ambiente, pois emitem hidrofluorocarbonados, que segundo o Greenpeace são “gases de efeito estufa extremamente potentes”.

A crise econômica internacional levou alguns governos da UE a dizer que algumas das medidas para combater a mudança climática são muito caras. A coalizão direitista liderada pelo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, integra esse grupo. Embora grupos de pressão empresariais tenham tentado diluir as medidas para enfrentar o aquecimento global, muitos analistas dizem que proteger o ambiente é prudente do ponto de vista econômico. Em um momento em que se verifica aumento no desemprego, os projetos ligados a fontes de energia renováveis têm um enorme potencial para gerar empregos, afirmam.

“Há atualmente 15 mil postos de trabalho no setor ambiental, que facilmente podem ser triplicados com os investimentos corretos. A UE deve analisar as mudanças estruturais necessárias”, afirmou Sonja Meister, da não-governamental Amigos da Terra. Stephan Singer, do Fundo Mundial da Natureza (WWF), disse que países mais pobres do que os europeus levam mais a sério os desafios da mudança climática.

Singer regressou há pouco tempo de uma viagem à China, que em 2006 se converteu no maior emissor mundial de gases de efeito estufa, posição até então ocupada pelos Estados Unidos. Apesar disso, acrescentou, também é o maior investidor em energia renovável e fornece muito dos painéis que estão nos tetos das casas na Alemanha. “A idéia de que a Europa assumirá a liderança em questões ambientais é um disparate”, assegurou.

Os analistas não têm grandes expectativas a respeito da reunião de Poznan, que se estenderá por 11 dias. O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, assumirá no dia 20 de janeiro e o mandatário que sai, George W. Bush, é visto como um “pato coxo”. Mas o encontro deveria preparar o terreno para as negociações que acontecerá em 2009 em Copenhague, das quais deveria surgir um novo acordo internacional sobre mudança climática.

Matthias Duwe, da filial européia da coalizão internacional Climate Action Network, disse que a reunião de Poznan deveria abordar temas como as formas com que os países serão auxiliados para adaptarem-se à escassez de água e outras conseqüências do aquecimento global, as emissões geradas pelo desmatamento e o futuro do mecanismo de “desenvolvimento limpo”.

A organização humanitária Oxfam estima que são necessários no mínimo US$ 49,5 bilhões por ano par ajudar os países pobres a enfrentarem o aquecimento global e considera que a UE deve entrar com um terço desta soma, como reflexo de sua riqueza e sua porcentagem de contribuição para as emissões. Elise Ford, do escritório da Oxfam em Bruxelas, disse estimar-se que 250 milhões de pessoas sofrerão séria escassez de água até 2020. “Os países mais pobres não são responsáveis pela mudança climática, mas são os mais afetados e os que menos recursos têm para enfrentar o problema. A Europa tem uma óbvia responsabilidade neste assunto”, afirmou. (IPS/Envolverde)


Fonte: Envolverde/IPS

Nenhum comentário: