quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pesquisadores criticam o mercado de carbono

Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil

A falta de uma preocupação real com o meio ambiente é o principal argumento do físico Luiz Carlos Molion para criticar o mercado de carbono da forma como é conduzido atualmente. Oposicionista das teorias que defendem o aquecimento global causado pelo homem, Molion diz que o interesse das empresas e governos está em como entrar nesse mercado para ganhar dinheiro e não com a preservação do meio ambiente.

A opinião é compartilhada pelo pesquisador da fundação sueca Dag Hammarskjold e autor do livro Carbon Trading, Larry Lohmann, para quem o Protocolo de Quioto e o comércio de carbono nele previsto não trazem grandes alterações para o cenário mundial de emissões de gases do efeito estufa. “Trata-se um mecanismo de mercado, pouco prático e nada efetivo, que promove o comércio do direito de poluir. Acabou funcionando de maneira perversa ao drenar as atenções de soluções mais radicais e efetivas que agora se mostram urgentes”, defende.

Molion destaca que o lobby de grandes empresas geradoras de energia é prejudicial nesse contexto. Na Europa, os governos avaliam dados das emissões de carbono coletados entre 2002 e 2004; verificam o quanto as empresas locais poluíram nesse período e definem, por meio de cotas, o quanto elas poderão poluir daquele ponto em diante. O problema, ressalta o físico, é que muitas dessas empresas já melhoraram seus equipamentos ao longo desse tempo e estão poluindo menos do que o permitido – com isso, ganharão dinheiro vendendo suas cotas para as empresas altamente poluidoras que ultrapassam o limite estabelecido. “Por isso eu digo que não existe preocupação com o meio ambiente e com o futuro da humanidade. Isso se transformou atualmente em um comércio, uma nova bolsa, tanto que hoje existem firmas prontas para investir 1 trilhão de dólares em créditos de carbono com a intenção de vendê-los posteriormente”.

O que ocorre na Europa é exatamente o contrário do princípio “poluidor - pagador”, é o princípio “quem polui, ganha”, afirma Lohmann em entrevista concedida ao jornalista Rafael Evangelista para o site Com Ciência. O pesquisador argumenta que os grandes poluidores se beneficiam também comprando direitos de poluir mais, a partir de projetos em que investem no exterior e que, supostamente, economizariam carbono. É o caso de empresas que compram créditos gerados por projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), como os que geram eletricidade a partir da queima de gases de um aterro sanitário. “Esses projetos oferecem, de bandeja, um turbilhão de direitos futuros de poluir para o conjunto já enorme de direitos à disposição das corporações do Norte”.

Em países como o Brasil, o desmatamento evitado das florestas tropicais tem sido apontado como uma alternativa na luta contra as mudanças climáticas. Molion afirma que a Floresta Amazônica é um seqüestrador ativo de carbono, absorvendo 2 toneladas de CO2 por hectare por ano. “Mas quando você olha o Protocolo de Quioto, as florestas nativas não são levadas em consideração, apenas as plantadas - exatamente para não permitir que países como o Brasil possam se utilizar disso”. Ele lembra que a maior parte das madeireiras que atuam na Amazônia são de fora do país e ressalta que esses empresários adotam um discurso contraditório. “Que hipocrisia é essa de dizer: você desmata, mas a madeira nós queremos aqui? É preciso acabar com essa hipocrisia”.

Saída

Lohmann considera que a única maneira de reverter a situação é promover uma regulação dura, que taxe e controle a indústria poluente, ao lado de reformas estruturais e investimentos fortes na redução do consumo de energia. “Os governos dos países industrializados precisarão transferir subsídios dos combustíveis fósseis para energia renovável; precisarão empreender investimentos públicos grandiosos em eficiência energética e transportes para fornecer a seus cidadãos mais opções sobre como utilizar energia; precisarão aplicar a regulação convencional e taxações de maneira mais radical”.

O tempo para se lidar com os problemas ambientais é uma questão que preocupa Molion. “Em 2045 teremos 9 bilhões de pessoas no planeta, que é finito e conta com recursos naturais finitos. A humanidade precisa viver mais alguns milhares de anos para que a tecnologia possa se desenvolver e nós possamos arranjar outras formas de gerar energia como, por exemplo, a fusão nuclear, ou desenvolver novos tipos de alimentos, ou até mesmo começar a explorar outros planetas”, avalia. “Tudo o que se puder fazer para economizar e utilizar melhor os recursos naturais existentes será muito bem-vindo. É importante olhar para o futuro e dar um tempo para a humanidade conseguir se desenvolver tecnologicamente. Mas nós realmente precisamos de tempo para isso”, conclui.

Fonte: CarbonoBrasil

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