sexta-feira, 30 de maio de 2008

Déficit informativo sobre a mudança climática


Por Mario Lubetkin *

Roma, maio/2008 – Para um setor da opinião pública o agravamento da mudança climática é a maior ameaça que a humanidade enfrenta, enquanto o restante a coloca em segundo ou terceiro grau de gravidade. Mas, não há humano medianamente informado que o considere abaixo dessa aterradora classificação. Cabe, portanto, nos perguntarmos se nesse assunto os meios de comunicação estão cumprindo um papel à altura do desafio e se estão assumindo a missão de gerar consciência sobre a magnitude do problema.

Em termos gerais e no aspecto quantitativo se examinarmos os meios de comunicação ao longo das últimas três décadas, é evidente que o espaço dedicado aos temas ambientais aumentou significativamente, embora seja claro que está longe de ser suficiente. O até agora conseguido é mérito inquestionável dos membros da comunidade científica que, tachados inicialmente de indesejáveis profetas de desventuras, souberam explicar, convencer e orientar o público e os meios de comunicação, em particular.

Mas o espaço dedicado atualmente às questões ambientais é majoritariamente o resultado de uma atitude passiva da mídia, que reflete as denúncias e as mensagens dos cientistas, mas não costumam ir mais além, embora certamente existam honrosas exceções. E se isto infundiu justificada preocupação em alguns setores da opinião pública, não se traduziu nem em mínima parte na mudança de comportamento maciço que será necessária para reverter uma situação que se agrava progressivamente.

De fato, o Protocolo de Kyoto adotado em dezembro de 1997 estipula o compromisso de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em 5% ate 2012. Mas essas emissões não foram contidas e estão aumentando desde então. Além disso, existe consenso sobre a insuficiência dos objetivos do Protocolo de Kyoto (ainda não ratificado pelos Estados Unidos e outros países), e, por fim, de selar – e aplicar rigorosamente – acordos de maior impacto ambiental.

Essa meta não poderá ser alcançada sem uma firme e constante pressão da cidadania informada e responsável sobre os governos e as empresas e impulsionando uma ação mais efetiva da sociedade civil. E é impensável que a cidadania assuma essa função se não estiver informada, orientada e estimulada pela mídia. Desde o enfoque do jornalismo ambiental, a missão dos meios de comunicação deve incluir os seguintes aspectos:

- Informar objetivamente sobre os perigos relacionados com a mudança climática sem cair em uma espécie de terrorismo ecológico.

- Fazer compreender que a proteção ambiental não é contrária ao desenvolvimento econômico e que os dois conceitos se harmonizam no paradigma do desenvolvimento sustentável.

- Difundir as iniciativas e as propostas sobre estratégias para determinar uma redução das emissões nos países desenvolvidos, enquanto a contribuição das nações em desenvolvimento consistirá em adotar estratégias mais sustentáveis que não afetem o crescimento econômico continuado ao qual têm direitos inalienáveis. Este é um aspecto fundamental e, ao mesmo tempo, é um tema conflitivo, já que requer estratégias e tratamentos diferentes entre os países industrializados e os que ainda não atingiram a industrialização e o desenvolvimento. Os primeiros, mediante um consumo intensivo de energia que em suas origens foi ineficiente e altamente contaminante, são os responsáveis pelo estado atual de coisas e devem reduzir suas emissões significativamente, enquanto os segundos precisam aumentar seu consumo de energia para desenvolver suas economias. Para que este aumento seja compatível com os objetivos de Kyoto e os instrumentos que se adotar sucessivamente, os países industrializados devem cooperar amplamente com as nações em desenvolvimento para ajudá-las a incorporar tecnologias limpas e eficientes mediante apoio financeiro e tecnológico. Esta diferenciação estratégica entre Norte e Sul encontra resistência em setores influentes dos países industrializados, o que requer um trabalho de esclarecimento e persuasão por parte dos meios de comunicação.

- Relacionar a sustentabilidade ambiental com a luta para erradicar a pobreza e a fome no mundo. No contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio a erradicação da pobreza figura como primeiro objetivo e a sustentabilidade como sétimo. Esta relação é indissolúvel já que a mudança climática penaliza principalmente os mais pobres.

- Os meios de comunicação devem destacar através da informação as boas práticas ambientais, mas, sobretudo, devem propiciar uma mudança cultural e de comportamento de longo prazo. Como diz o acadêmico da Universidade de Pequim Chai Szu Kiang, falar de mudança climática é pensar nas próximas gerações e sermos capazes de transformar esta crise em uma oportunidade.

Embora seja justo reconhecer que nas últimas décadas a quantidade de espaço dedicado aos assuntos ambientais aumentou, também é justo esperar que agora a mídia passe para uma fase qualitativa superior, o que supõe que os jornalistas abandonem uma atitude de reflexo informativo e atuem ativamente sobre a opinião pública e os fatores de poder para induzi-los a cumprir os objetivos fixados pela comunidade internacional a fim de afastar o fantasma da mudança climática. (IPS/Envolverde)

* Mario Lubetkin é diretor-geral da agencia informativa Inter Press Service (IPS).

(Envolverde/IPS)

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