sexta-feira, 30 de maio de 2008

Um mercado socialmente responsável: o desafio dos próximos dez anos


Por Redação do Instituto Ethos

Com o olhar voltado para o futuro e ciente do imenso desafio que tem pela frente, o Instituto Ethos celebrou na noite de 27 de maio a abertura da Conferência Internacional 2008, lembrando seus dez anos de caminhada. Uma platéia atenta compareceu ao Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, disposta a contribuir para a construção de um mercado socialmente responsável, tema que vai permear todas as oficinas, painéis e debates. O evento reúne representantes de variados setores da economia e da sociedade civil empenhados em dialogar, trocar experiências e sugerir atalhos que implementem a gestão socialmente responsável nas empresas.

O ponto alto da noite foi a apresentação do ator Paulo Goulart, interpretando um texto* baseado na Carta da Terra**. Sua fala era ilustrada por um vídeo com cenas da vida no planeta e de momentos marcantes da história relacionados aos direitos humanos. A atuação de Goulart emocionou a platéia, especialmente quando declamou o poema Mundo Grande, de Carlos Drummond de Andrade. Um quarteto de cordas, tocando ao lado dele no palco, contribuiu para o clima emocional que distinguiu a abertura da Conferência Internacional 2008 das edições anteriores.

Ao fazer um rápido balanço dos 10 anos de trajetória do Instituto Ethos, seu presidente, Ricardo Young, disse que “o movimento está em movimento”, reforçando o empenho da entidade em olhar para a frente, para os próximos 10 anos. Ele reconhece que as empresas “andaram bastante”, mas que ainda há muito a fazer para conseguir “mudanças sistêmicas, com colaboração entre setores e compreensão das responsabilidades de cada um”.

Segundo Ricardo Young, o objetivo dessa conferência voltada para mercado sustentável é descobrir como desenvolver uma cultura na qual os mecanismos de mercado trabalhem a favor do desenvolvimento sustentável, da diversidade, da inclusão social, da economia justa. A capacidade de avançar nesses temas dará, segundo Young, “a moldura do desafio dos próximos 10 anos” e que, sem dúvida, passa pelo empreendedorismo e pela inovação tecnológica.

Ele lembrou que há 10 anos não existia quase nenhuma ferramenta para gestão de RSE e, a partir de 2000, as empresas começaram a incorporar, ainda que timidamente, alguns indicadores em suas estratégias. “Fizemos muito. Houve uma conjunção de fatores que ajudaram o Ethos a abrir caminhos, mas ainda falta muito”, ressalta. Young recorda que empresas são conjuntos de pessoas interagindo com conjuntos de valores e convoca a sociedade para definir metas e decidir entre “o que devemos fazer e o que não pode mais esperar”.


Guardiões da ética

Não se pode falar da trajetória do Instituto Ethos sem evocar a figura de Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo da entidade. Foi ele quem mobilizou alguns empresários em torno da idéia de fundação do Ethos. “Há 10 anos, um grupo de amigos resolveu dar um passo a mais na luta por um Brasil melhor. Nem a expressão ‘responsabilidade social’ existia”, lembra Grajew, agora engajado no fortalecimento do Movimento Nossa São Paulo.

Grajew faz um balanço da dimensão do “pulo” dado a partir de 1998. Afirma que, nas empresas campeãs em ações sociais, mesmo entre as estrangeiras, os investimentos raramente ultrapassavam 1% do faturamento das empresas. “Hoje, queremos que 100% do que a empresa faça seja mensurado pelo impacto que causa sobre todos os seus públicos”, compara.

O empresário Helio Mattar, um dos convocados por Grajew há dez anos, lembra o que disse ao amigo, após ouvi-lo expondo suas idéias num jantar. “Não entendi nada do que você disse, mas vamos em frente”, confessa Mattar, que acabou fundando e preside o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. Para ele, não há empresa saudável numa sociedade doente, da mesma forma não existe empresa sustentável sem que haja um mercado igualmente responsável. “As empresas são o que o mercado faz delas”, frisou, propondo um “pacto em favor de uma economia ética, a fim de mudar o rosto do mundo”.

Paulo Itacarambi, vice-presidente executivo do Instituto Ethos, informou que as idéias debatidas no encontro serão posteriormente discutidas com os associados da instituição nos Estados. Se as propostas avançarem, é possível que, daqui a dez anos, o sonho expresso por Oded Grajew se concretize: “Poderemos chegar ao Palácio das Convenções do Anhembi de barco, pelo rio Tietê, que estará vivo novamente, recuperado pelos esforços de todos nós”.


Leia a Carta da Terra em http://www.wowbrazil.com.br/ethos08/carta.html

Leia o texto lido por Paulo Goulart em http://www.wowbrazil.com.br/ethos08/texto_pg.html

Crédito de imagem: Claudia Perroni

(Envolverde/Instituto Ethos)

Nenhum comentário: