terça-feira, 15 de abril de 2008

América Latina a caminho de conciliar petróleo e ambiente

Por Humberto Márquez*

A indústria petroleira latino-americana caminha de forma desigual para práticas menos agressivas ao meio ambiente.

Caracas, 14 de abril (Terramérica) - Os anos sob o escrutínio público, as tecnologias modernas, leis e controles estatais, a responsabilidade empresarial e a necessidade de eficiência começaram a melhorar o desempenho ambiental da prospecção e exploração de hidrocarbonos na América Latina. “Nossa linha torna incompatível explorar a riqueza no subsolo enquanto na superfície as populações vivem na pobreza”, disse ao Terramérica Juan Bravo, gerente da área ambiental do consórcio estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA) na Faixa Petrolífera do Orenoco. Durante décadas, a exploração de petróleo e gás na Venezuela contaminou campos, rios, lagos e cidades, e deixou crescer cinturões de miséria junto às instalações que produziam a riqueza.

Desde a nacionalização da empresa (1976), nenhum negócio de hidrocarbonos é aprovado sem projetos de melhoria social e cuidado ambiental. Ao estender um gasoduto entre o norte da Colômbia e o da Venezuela, a PDVSA destinou US$ 15 milhões dos US$ 150 milhões investidos em programas para as comunidades das áreas por onde passava. Na Faixa, de 550 quilômetros quadrados com depósitos estimados em 1,2 bilhão de barris (de 159 litros) de óleo muito pesado (pelo menos um quinto recuperáveis), a PDVSA e seus sócios de 30 companhias estrangeiras extraem meio milhão de barris por dia.

“Em boa parte, os êxitos ambientais se devem aos novos códigos de conduta das companhias energéticas globais. Não entram em nenhum negócio sem ver o estado do território ou sem fazer auditorias ambientais”, disse ao Terramérica o engenheiro de petróleo venezuelano Diego González. Por exemplo, ao contrário de campos tradicionais do ocidente venezuelano varado por milhares de perfuradoras verticais, agora se perfura horizontalmente: quando a broca chega ao nível da jazida no subsolo, as bombas hidrosubmergiveis extraem o petróleo de vários pontos, sem alterar nem mesmo a paisagem da superfície, explicou González.

No Brasil, a Petrobras “executa projetos de monitoração que avaliam o meio ambiente antes da implantação de empreendimentos de perfuração ou produção”, particularmente na Bacia de Campos, nordeste do Rio de Janeiro, disse a empresa em uma declaração escrita entregue ao Terramérica. Os estudos “identificam restrições à localização das unidades (de perfuração e dutos), diante da existência de ecossistemas importantes, como corais de água profunda, para propor alternativas de menor impacto ambiental. Além disso, são monitorados todos os efluentes lançados, como água de produção, efluentes sanitários, cascalho e fluido de perfuração”, afirmou a Petrobras.
No Equador, outro país produtor de petróleo, a reclamação ambiental chega com um forte repasse de fatura por causa dos danos à Amazônia causados pela multinacional ChevronTexaco, durante 25 anos, e que deveria levar a indenizações entre US$ 7 bilhões e US$ 16 bilhões, quase o que fatura anualmente essa corporação, segundo peritos equatorianos. Essa contaminação, causada por mais de 600 desaguadouros de dejetos de petróleo, escaldou de tal modo a sociedade equatoriana que deu lugar a um vasto movimento ecológico, com apoio internacional, pela não exploração, na Amazônia, dos campos de Ishpingo, Tambococha e Tiputini – nos quais a Petrobras está interessada – com a finalidade de preservar espaços do Parque Nacional Yasuní.

“Casos como os do Brasil e do Equador tendem a evitar os vazamentos de petróleo, com a melhoria constante das tecnologias. Em parte, devemos isto ao início da exploração no Mar do Norte há mais de 30 anos”, disse González ao Terramérica. Ao contrário das grandes explorações - no México, Venezuela, Golfo Pérsico ou Arábico, ou na extinta União Soviética -, que precederam legislações e considerações ecológicas, as que Grã-Bretanha e Noruega autorizaram, sob o leito do Mar do Norte, chegaram nos anos 70 e tiveram de se ajustar a rígidas normas ambientais. Além disso, para tornar rentável a exploração de petróleo nessa área e não desperdiçar nem um barril, as companhias precisaram desenvolver tecnologias modernas e seguras, depois exigidas pelos órgãos reguladores em outros países.

Os vazamentos continuam sendo a dor de cabeça de empresas como a Petróleos Mexicanos (Pemex), com sério declive de suas jazidas e que destina 1% de seus US$ 17,16 bilhões de orçamento a questões ambientas. Dos 24 mil barris de petróleo da Pemex derramados a cada ano, um terço tem origem em roubo em seus dutos, segundo a empresa. Os grupos ambientalistas a identificam como a empresa mexicana que mais contamina e responsável por 57% das emergências ambientais. No código de conduta da companhia, como no de outras empresas do setor, o primeiro ponto é “respeitar e melhorar o meio ambiente” e seus 155 mil funcionários são proibidos de “considerar mais importante a produção do que o equilíbrio ecológico”.

A venezuelana PDVSA fez planos de manejo para os 28 blocos em que dividiu os 21 mil quilômetros quadrados, nos quais atualmente trabalha na Faixa do Orenoco. Novos mapas e reconhecimentos das áreas “permitem decisões sobre os melhores locais e rotas para instalações, estradas ou tubulações, e também trabalhar cada bacia como um projeto, começando por reflorestar a fim de capturar dióxido de carbono, enquanto prossegue a atividade petroleira”, disse Bravo. Por sua vez, González reconheceu que “o armazenamento de petróleo já não representa problemas, porque cada tanque ou estação de fluxo tem uma proteção - em forma de espaço amuralhado - para contenção de vazamentos equivalentes a uma vez e meia a capacidade dos depósitos”. Entretanto, para converter em sintéticos leves o petróleo pesado na Faixa, a extração “gera novos problemas ambientais, devido ao seu alto conteúdo de enxofre e metais, que devem ser armazenados ou transportados para a venda, mas cujos mercados não são tão fáceis como o do petróleo”, destacou. A produção na Faixa, de 600 mil barris diários – um quinto do total venezuelano – deixa a cada dia 1,6 mil toneladas residuais de enxofre e 14,5 mil de coque.

O coque é insumo da indústria siderúrgica e é vendido na Venezuela, e os derivados do enxofre são exportados, para utilização na fabricação de adubos, agroquímicos, borracha vulcanizada, tintas, entre outros. Porém, o armazenamento e o transporte do enxofre têm altos custos financeiros e ambientais. “Se for cumprida a intenção do governo de produzir na Faixa até quatro milhões de barris por dia de petróleo, a cada jornada deixará mais de dez mil toneladas de enxofre e quase cem mil de coque”, disse González.
A PDVSA convidou empresas do Brasil, Argentina, China, Espanha, Índia, Irã, Rússia e Uruguai para que a ajudem a certificar que podem ser extraídos da Faixa 236 bilhões de barris de petróleo, o que colocaria a Venezuela como uma das maiores reservas do planeta.

* Com as colaborações de Mario Osava (Brasil), Kintto Lucas, (Equador) e Diego Cevallos (México).


LINKS EXTERNOS

+PDVSA
http://www.pdvsa.com/

+Pemex
http://www.pemex.com/index.cfm

+Petrobras
http://www2.petrobras.com.br/espanhol/index.asp


Crédito de imagem: Photo Stock
Legenda: Plataforma de petróleo no Golfo do México.


Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

(Envolverde/Terramérica)

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