Recentemente, o Ibase divulgou seu Código Interno de Relações com as Empresas. Elaborado para deixar clara sua postura nas suas relações com empresas privadas, o documento reflete a preocupação da organização no que diz respeito à coerência com suas posições políticas, em suas relações institucionais. “O Ibase faz parte de uma campanha contra a liberação de transgênicos. Não dá para estabelecermos parcerias com quem patrocina esse tipo de mercadoria”, exemplifica Ciro Torres, diretor de Responsabilidade Social da ONG, uma das maiores do país.
Em entrevista à Rets, Torres detalha os critérios utilizados na elaboração do código e fala sobre a relação entre empresas e organizações não-governamentais, além de comentar algumas práticas de responsabilidade social realizadas por grande companhias. Para abordar este assunto, ele faz menção a outra novidade divulgada pelo Ibase – a queda do número de empresas que receberão o selo Balanço Social Ibase/Betinho em 2007. Das 60 empresas que se candidataram, apenas 13 cumpriram todas as exigências, este ano mais rígidas. Além da transparência, foi pedido o cumprimento de legislação de inclusão social, como a de cotas para pessoas com deficiência, [o que derrubou a maioria], e investimentos socioambientais. “O discurso de responsabilidade social tem crescido, mas pouco tem sido feito na prática”, critica o diretor.
Rets - O Ibase lançou um documento no qual considera riscos e critérios de associar sua imagem à de empresas. Que riscos e critérios são esses?
Ciro Torres - Vou dar alguns exemplos. O Ibase faz parte de uma campanha contra a liberação de transgênicos. Não dá para estabelecermos parcerias com quem patrocina esse tipo de mercadoria. A mesma coisa ocorre em relação ao software livre. Há tempos apoiamos o uso desse tipo de programa, logo não podemos aceitar patrocínio da Microsoft, por exemplo. É uma questão de coerência com nossos princípios. Não estamos dispostos a dar palestras em eventos, apoiar campanhas ou qualquer outra iniciativa relacionadas a essas empresas.
Rets - A ausência em palestras não impede o debate?
Ciro Torres - Estamos dispostos a dialogar, claro. Não nos negamos a ir a qualquer debate com qualquer empresa, seja ela contrária aos nossos princípios ou não. Apenas nos negamos a participar de eventos promocionais destas companhias. Quando entramos como palestrantes ou debatedores neste tipo de evento, há sempre um aspecto político a ser considerado.
Rets - E quais são os critérios adotados pelo Ibase?
Ciro Torres - O principal fundamento desta iniciativa é “um outro mundo com empresas é possível, mas não de qualquer jeito”. Outro ponto a ressaltar é que não podemos colocar o lucro acima da ética. Não afirmamos ser necessário um mundo sem empresas, mas não vamos pedir apoio ou patrocínio a quem atua em campos opostos ao nosso. É uma questão de princípios.
Rets - Na declaração, o Ibase afirma que se reserva o direito de romper relações com empresas que estejam sendo questionadas por ONGs, campanhas e investigações. Não seria mais prudente esperar uma condenação?
iro Torres - Como instrumento político, não podemos depender apenas do fator jurídico. É preciso levar em consideração parcerias e redes que formamos. A idéia é evitar entrar em conflito, mas seria uma incoerência não levarmos adiante as campanhas de nossas parceiras e seus pontos de vista.
Rets - O Ibase lançou recentemente uma prévia da lista de empresas aptas a receber o selo de Balanço Social. A procura pela obtenção do selo tem aumentado?
Ciro Torres - Sim, bastante. Em 2006, 54 empresas formalizaram o pedido pelo selo. Este ano, foram 60.
Rets - Não é um número pequeno?
Ciro Torres - Mais ou menos. Há pouco tempo, tínhamos apenas 20 pedidos por ano. Além disso, é preciso recordar que nosso alvo são grandes empresas e médias-grandes. Portanto, o número não é tão pequeno assim. Mas é claro que poderia ser maior. É sempre bom lembrar que apenas se candidata quem acredita que possa conseguir o selo. A quantidade de interessados que acabam não se candidatando é bem maior.
Rets - Apesar do aumento da procura, o número de empresas que conseguiram o selo diminuiu. Os critérios estão mais rigorosos?
Ciro Torres - Antes, não analisávamos o conteúdo dos formulários, apenas defendíamos um modelo de transparência corporativa. Há três anos vínhamos avisando que passaríamos a questionar cada item. Pedimos investimentos externos, em educação, na promoção da diversidade, em meio ambiente, na igualdade de oportunidades de gênero e raça.
Muitas empresas não passaram por esses critérios, apesar de toda a transparência. Das 60 requerentes, 47 foram reprovadas em ao menos um item. Dessas, 39 não cumpriram a legislação de cotas para pessoas com deficiência, uma lei que já foi regulamentada há nove anos. Essa cota, que varia de acordo com o número de funcionários, não foi uma invenção nossa, um critério do Ibase. É uma lei que está sendo descumprida. Nossa idéia foi chamar a atenção para esse problema. O discurso de responsabilidade social tem crescido, mas pouco tem sido feito na prática. Não há espaço para pessoas com deficiência. Na maioria das empresas, elas não passam de 1% do quadro de funcionários. Em alguns casos, esse índice deveria chegar a 5%. Outras oito empresas não investiram em meio ambiente. Ou seja, apesar de serem
totalmente transparentes em suas práticas, as ações socioambientais não mudam.
Rets - O discurso de responsabilidade social, portanto, não está sempre amparado em práticas?
Ciro Torres - Este é um desafio importante. As boas práticas precisam avançar e as empresas precisam também começar a apresentar resultados.
Rets - Houve reclamações pela mudança de critérios para obtenção do selo?
Ciro Torres - Avisamos sobre a mudança com antecedência para que ninguém fosse pego de surpresa e todas as empresas assinaram termos de compromisso de buscar atender os novos critérios. Algumas entendem, outras choram. Mas é preciso ter cuidado para que esse tipo de ação não seja algo voltado apenas para conseguir prêmios ou selos.
Rets - Falamos sobre relações de ONGs e empresas. Como ficam estas relações? É possível que as organizações consigam apoio empresarial sem se comprometer?
Ciro Torres - Acho possível, desde que esses apoios sejam transparentes e autônomos. Se uma organização consegue manter a transparência e ter autonomia total em seu pensar e agir, sempre de acordo com os seus princípios públicos, não vejo problema algum em firmar parcerias. O que não se pode é, no momento de desespero financeiro, por exemplo, aceitar apoio de qualquer um.
Em entrevista à Rets, Torres detalha os critérios utilizados na elaboração do código e fala sobre a relação entre empresas e organizações não-governamentais, além de comentar algumas práticas de responsabilidade social realizadas por grande companhias. Para abordar este assunto, ele faz menção a outra novidade divulgada pelo Ibase – a queda do número de empresas que receberão o selo Balanço Social Ibase/Betinho em 2007. Das 60 empresas que se candidataram, apenas 13 cumpriram todas as exigências, este ano mais rígidas. Além da transparência, foi pedido o cumprimento de legislação de inclusão social, como a de cotas para pessoas com deficiência, [o que derrubou a maioria], e investimentos socioambientais. “O discurso de responsabilidade social tem crescido, mas pouco tem sido feito na prática”, critica o diretor.
Rets - O Ibase lançou um documento no qual considera riscos e critérios de associar sua imagem à de empresas. Que riscos e critérios são esses?
Ciro Torres - Vou dar alguns exemplos. O Ibase faz parte de uma campanha contra a liberação de transgênicos. Não dá para estabelecermos parcerias com quem patrocina esse tipo de mercadoria. A mesma coisa ocorre em relação ao software livre. Há tempos apoiamos o uso desse tipo de programa, logo não podemos aceitar patrocínio da Microsoft, por exemplo. É uma questão de coerência com nossos princípios. Não estamos dispostos a dar palestras em eventos, apoiar campanhas ou qualquer outra iniciativa relacionadas a essas empresas.
Rets - A ausência em palestras não impede o debate?
Ciro Torres - Estamos dispostos a dialogar, claro. Não nos negamos a ir a qualquer debate com qualquer empresa, seja ela contrária aos nossos princípios ou não. Apenas nos negamos a participar de eventos promocionais destas companhias. Quando entramos como palestrantes ou debatedores neste tipo de evento, há sempre um aspecto político a ser considerado.
Rets - E quais são os critérios adotados pelo Ibase?
Ciro Torres - O principal fundamento desta iniciativa é “um outro mundo com empresas é possível, mas não de qualquer jeito”. Outro ponto a ressaltar é que não podemos colocar o lucro acima da ética. Não afirmamos ser necessário um mundo sem empresas, mas não vamos pedir apoio ou patrocínio a quem atua em campos opostos ao nosso. É uma questão de princípios.
Rets - Na declaração, o Ibase afirma que se reserva o direito de romper relações com empresas que estejam sendo questionadas por ONGs, campanhas e investigações. Não seria mais prudente esperar uma condenação?
iro Torres - Como instrumento político, não podemos depender apenas do fator jurídico. É preciso levar em consideração parcerias e redes que formamos. A idéia é evitar entrar em conflito, mas seria uma incoerência não levarmos adiante as campanhas de nossas parceiras e seus pontos de vista.
Rets - O Ibase lançou recentemente uma prévia da lista de empresas aptas a receber o selo de Balanço Social. A procura pela obtenção do selo tem aumentado?
Ciro Torres - Sim, bastante. Em 2006, 54 empresas formalizaram o pedido pelo selo. Este ano, foram 60.
Rets - Não é um número pequeno?
Ciro Torres - Mais ou menos. Há pouco tempo, tínhamos apenas 20 pedidos por ano. Além disso, é preciso recordar que nosso alvo são grandes empresas e médias-grandes. Portanto, o número não é tão pequeno assim. Mas é claro que poderia ser maior. É sempre bom lembrar que apenas se candidata quem acredita que possa conseguir o selo. A quantidade de interessados que acabam não se candidatando é bem maior.
Rets - Apesar do aumento da procura, o número de empresas que conseguiram o selo diminuiu. Os critérios estão mais rigorosos?
Ciro Torres - Antes, não analisávamos o conteúdo dos formulários, apenas defendíamos um modelo de transparência corporativa. Há três anos vínhamos avisando que passaríamos a questionar cada item. Pedimos investimentos externos, em educação, na promoção da diversidade, em meio ambiente, na igualdade de oportunidades de gênero e raça.
Muitas empresas não passaram por esses critérios, apesar de toda a transparência. Das 60 requerentes, 47 foram reprovadas em ao menos um item. Dessas, 39 não cumpriram a legislação de cotas para pessoas com deficiência, uma lei que já foi regulamentada há nove anos. Essa cota, que varia de acordo com o número de funcionários, não foi uma invenção nossa, um critério do Ibase. É uma lei que está sendo descumprida. Nossa idéia foi chamar a atenção para esse problema. O discurso de responsabilidade social tem crescido, mas pouco tem sido feito na prática. Não há espaço para pessoas com deficiência. Na maioria das empresas, elas não passam de 1% do quadro de funcionários. Em alguns casos, esse índice deveria chegar a 5%. Outras oito empresas não investiram em meio ambiente. Ou seja, apesar de serem
totalmente transparentes em suas práticas, as ações socioambientais não mudam.
Rets - O discurso de responsabilidade social, portanto, não está sempre amparado em práticas?
Ciro Torres - Este é um desafio importante. As boas práticas precisam avançar e as empresas precisam também começar a apresentar resultados.
Rets - Houve reclamações pela mudança de critérios para obtenção do selo?
Ciro Torres - Avisamos sobre a mudança com antecedência para que ninguém fosse pego de surpresa e todas as empresas assinaram termos de compromisso de buscar atender os novos critérios. Algumas entendem, outras choram. Mas é preciso ter cuidado para que esse tipo de ação não seja algo voltado apenas para conseguir prêmios ou selos.
Rets - Falamos sobre relações de ONGs e empresas. Como ficam estas relações? É possível que as organizações consigam apoio empresarial sem se comprometer?
Ciro Torres - Acho possível, desde que esses apoios sejam transparentes e autônomos. Se uma organização consegue manter a transparência e ter autonomia total em seu pensar e agir, sempre de acordo com os seus princípios públicos, não vejo problema algum em firmar parcerias. O que não se pode é, no momento de desespero financeiro, por exemplo, aceitar apoio de qualquer um.
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