Agência EFE
WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, mudou de posição oficial e propôs nesta quinta-feira que os 15 países mais poluentes do mundo determinem, até o final de 2008, uma meta com limites para emissões de gases que geram o efeito estufa. Pela primeira vez, Bush aceitou a idéia de estabelecer um limite internacional à geração de gases que produzem o aquecimento global, mas essa meta seria 'de longo prazo' e só seria fixada no final do ano que vem.
O presidente fez o anúncio em discurso às vésperas da reunião de cúpula do G8 que acontecerá de 6 a 8 de junho em Heiligendamm (Alemanha), na qual a mudança climática terá papel predominante. Até agora, o Governo Bush se tinha negado a aceitar limites para as emissões de gases poluentes, como as previstas pelo Protocolo de Kyoto, e preferia indicar o avanço tecnológico como solução para o problema.
Por isso, os EUA iam à cúpula do G8 como alvo de todas as críticas. Mas com o plano anunciado hoje, a Casa Branca pretende oferecer sua própria resposta para o problema.
- Os Estados Unidos vão trabalhar para estabelecer um novo marco sobre as emissões de gases do efeito estufa para quando vencer o Protocolo de Kyoto em 2012 - disse Bush.
O pacto obriga os países que o ratificaram a reduzir até 2012 as emissões ao mesmo nível de 1990. A Alemanha, que atualmente preside o G8 e a União Européia, propôs que o grupo feche um acordo para definir o que haverá depois dessa data. A chanceler alemã, Angela Merkel, recebeu positivamente o anúncio americano.
- Isto estabelece um terreno comum de onde avançar - disse ela à imprensa em Berlim.
Merkel sugeriu que os oito países se comprometam a limitar o aumento da temperatura mundial a no máximo dois graus centígrados, antes de começar a cair. Para isso, é preciso que em 2050 o volume de emissões de gases como o dióxido de carbono seja a metade do registrado em 1990, segundo especialistas. No entanto, o principal assessor ambiental de Bush, Jim Connaughton, disse hoje que esse enfoque 'não é muito prático' e rejeitou a criação de um mercado internacional no qual se possam comprar e vender cotas de emissão de gases poluentes.
Com o novo plano, Bush aparentemente aspira a objetivos menos estritos e quer evitar que só os membros do G8 se comprometam com eles. Isso não agradou as entidades ecologistas.
- O que a Alemanha propõe é muito mais específico do que o plano de Bush - disse David Willett, em nome do Sierra Club, a maior organização ambientalista do país.
- Até mesmo o que a Alemanha sugere não é suficiente. Então, que é que Bush vai propor? - perguntou.
Connaughton disse que os números concretos sairão das negociações que os EUA vão sediar. Washington convidará "entre 10 e 15 países" que são responsáveis por mais de 80% da poluição do mundo. Bush mencionou especificamente a Índia e China, embora na lista provavelmente também estarão o Brasil, e mais Austrália, África do Sul, Coréia do Sul, México, Rússia e as maiores economias da Europa.
O primeiro encontro deve acontecer em Washington no último trimestre do ano, segundo a Casa Branca. Além de representantes oficiais, participarão empresários e ONGs para promover a distribuição de tecnologias não poluentes. O presidente explicou que também será criado um sistema "robusto e transparente" para medir a poluição gerada por cada país. O plano propõe ainda eliminar as barreiras tarifárias que dificultam a difusão de tecnologias "limpas" nos próximos 18 meses.
- A forma de superar o desafio da energia e da mudança climática mundial é por meio da tecnologia - insistiu Bush.
Apesar das críticas dos ambientalistas, o anúncio de hoje reflete uma mudança de atitude na Casa Branca, que durante o primeiro mandato de Bush retirou a assinatura dos EUA do Protocolo de Kyoto e se negou a discutir aquecimento global. No entanto, no discurso do Estado da União em janeiro, Bush reconheceu pela primeira vez que a mudança climática era um "desafio sério".
O principal aliado dos EUA, o Reino Unido, recebeu bem o anúncio e enfatizou que todo acordo deve ter a participação de outras potências, como a China e a Índia. O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, elogiou proposta como um 'enorme passo à frente'.
- É o que estivemos esperando todo o tempo, porque o importante é que precisamos de um acordo que envolva pela primeira vez os EUA, a China e a Índia, um acordo para limitar essas perigosas emissões - declarou Blair, que está na África do Sul, à emissora de TV 'Sky News'.
Para o primeiro-ministro, os EUA devem "liderar o mundo compartilhando o objetivo comum ao resto dos países" pois, se não fizerem parte do acordo "não se vai avançar".
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