terça-feira, 22 de maio de 2007

Mudança no clima ameaça bancos genéticos naturais

Não bastassem todos os danos que a mudança climática global prenuncia para os países pobres, um novo estudo indica que até mesmo a adaptação de algumas lavouras ao novo clima deve ser prejudicada: diversas variedades selvagens de batata, amendoim e feijão-de-corda podem se extinguir até 2055 devido ao aquecimento, limitando a possibilidade de melhoramento genético das variedades hoje em cultivo.

De acordo com a pesquisa, patrocinada pelo CGIAR (Grupo Consultivo sobre Pesquisas Agrícolas Internacionais), até sete de 108 espécies de batata selvagem analisadas no trabalho podem sumir. No caso do amendoim, cujas variedades selvagens vivem sobretudo no cerrado brasileiro, até 31 espécies de 51 podem desaparecer.

"As plantas de amendoim selvagem crescem em planícies e teriam de migrar uma distância considerável até alcançar climas mais frescos", disse Andy Jarvis, do Ciat (Centro Internacional para Agricultura Tropical), co-autor do estudo.

O feijão-de-corda africano tem só duas espécies de 48 ameaçadas. Mesmo que não haja extinção, todas as espécies selvagens estudadas perderão território. A maioria das espécies dos três vegetais perde mais da metade da área que ocupa hoje. Os amendoins podem perder 90% da área, afirma o trabalho, a ser publicado na revista "Climatic Change".

"Há uma necessidade imperiosa de coletar e preservar as sementes de espécies selvagens em coleções de diversidade agrícola antes que desapareçam", diz Jarvis.

A importância de preservar a biodiversidade natural dessas espécies é que elas possuem os genes que podem conferir às plantas comerciais características como resistência a pragas e tolerância a secas.

Isso foi feito para o milho e o trigo durante a chamada Revolução Verde, o esforço de pesquisa agrícola que evitou que milhões morressem de fome após a Segunda Guerra Mundial.

"O irônico do caso é que os geneticistas vão utilizar, mais do que nunca, as variedades selvagens para desenvolver variedades domesticadas que possam se adaptar às mudanças das condições climáticas", diz Anne Lane, do instituto Bioversity International, sediado em Roma, que também participou do estudo.

da Folha de S.Paulo

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