quinta-feira, 26 de abril de 2007

Pequim quer reduzir poluição, mas rejeita limites

Valor Online
17/04/2007


Emma Graham-Harrison

Até 2020 a China pretende reduzir quase a metade a quantidade de gases causadores do efeito estufa emitidos para cada dólar gerado por sua economia, mas rejeitará durante décadas limites rígidos de emissões, diz a cópia de uma avaliação nacional sobre o aquecimento global obtido pela agência de notícias Reuters.

A China, segundo maior emissor mundial de carbono, tem se mostrado reticente sobre o que está disposta a fazer para enfrentar o aquecimento mundial.

Embora o relatório revele que as autoridades acreditam que o fenômeno seja um grave problema, o texto sugere que o governo não deseja tornar medidas preventivas que possam tolher o crescimento econômico. Essa primeira avaliação chinesa dos problemas criados pelo aquecimento do planeta propõe uma meta ainda mais ambiciosa - uma redução de 80% na "intensidade de carbono" em torno de 2050, em comparação com o nível em 2000 -, mas afirma que as emissões per capita provavelmente ultrapassarão os níveis previstos para os países desenvolvidos, antes de começar a diminuir.

Se a meta for adotada oficialmente, a China será o primeiro país em desenvolvimento importante a estabelecer metas de longo prazo para conter as emissões crescentes, conforme recomendado pela União Européia (UE) e muitos outros países industrializados signatários do Protocolo de Kyoto. "Antes de alcançar um padrão generalizado de modernização em meados do século XXI, a China não deveria assumir obrigações absolutas e compulsórias de redução nas emissões", diz a tradução de uma síntese do relatório.

O documento Primeira Avaliação Nacional das Mudanças Climáticas não é a última palavra sobre como a China pretende abordar o aquecimento, mas foi elaborado durante quatro anos de consultas com poderosos ministérios, o que sugere um consenso oficial. A versão final, que não oferece números para o total de emissões atual ou futuro, ainda não foi aprovado para publicação. Trata-se de um documento independente de um plano nacional sobre mudanças climáticas que Pequim deverá apresentar em 24 de abril.

O conceito de redução das emissões correspondentes a cada unidade de renda nacional é uma rara convergência de correntes de opinião entre os dois maiores produtores mundiais de dióxido de carbono - China e EUA. O presidente americano George W. Bush insistiu que a medição das emissões de carbono sejam feitas em relação ao crescimento econômico americano e exortou as e,presas a reduzirem voluntariamente em 18% a intensidade de suas ereções ate 2012. Mas alguns Estados, como a Califórnia, planejam criar regras de comercialização de direito de emissão sem apoio federal.

Pequim visa conseguir urna redução inicial de 40% até 2020 na intensidade das emissões, recorrendo a medidas diversas, da expansão de florestas a ampliação do uso de energia renovável.

Em 2020, as temperaturas poderão estar ate 2,1°C acima da média do período de 1961 a 1990, o que poderá começar a pressionar o suprimento de alimentos e de água. As temperaturas em terra já subiram 1,1°C ao longo dos últimos 50 anos, acrescenta o texto. "Devido ao ambiente ecológico extremamente frágil, extenso litoral e escassez de recursos naturais per capita... a China é extremamente vulnerável aos impactos negativos da mudança climática."

Em seu pronunciamento ao Parlamento este ano, o premie Wen Jiabao enfatizou o "crescimento verde", embora o tema aquecimento não tenha sido citado.

A China deverá ultrapassar os EUA como principal emissor de gases causadores do efeito estufa antes do fim desta década, possivelmente já desde este ano, o que provocará crescente pressão estrangeira para que tome medidas a respeito. A UE e a maioria dos outros países ricos que aderiram ao Protocolo de Kyoto querem que os países em desenvolvimento comecem a frear o crescimento de suas emissões a partir de 2012. Segundo eles, as metas de emissões são relevantes para os países mais pobres, mas a velocidade do crescimento econômico chinês, em torno de 10% ao ano, implica que as emissões continuarão em alta mesmo com o aumento da eficiência econômica do país.

Um relat6rio recente da ONU advertiu para os sombrios impactos do aquecimento mundial- como fome na África e degelo rápido no Himalaia - mas nas negociações que antecederam sua aprovação, autoridades e cientistas chineses levantaram dúvidas sobre diversos trechos do documento e tentaram minimizar algumas conclusões. A minuta indica que o ceticismo de Pequim quanto a algumas alegações científicas sobre o aquecimento mundial está sendo usado para justificar a resistência aos tetos obrigatórios as emissões.

"Devido a incertezas sobre as mudanças climáticas, não deve ser obedecida a proposta sobre a fixação, de cima para baixo, de limites para os direitos de emissão para cada país, baseados em determinado nível de concentração de CO2 e emissão mundial de carbono, se os cenários forem prematuros e as metas forem demasiado grandes", diz a tradução da síntese do relatório. E mais: diz que as cotas podem prejudicar o desenvolvimento de países mais pobres, e exorta os industrializados a assumirem a dianteira na redução de emissões.

A China alega que os paises ricos geraram a maior parte do dióxido de carbono já acumulado na atmosfera quando se industrializaram, e deveriam reduzir suas emissões, em vez de pressionar pela imposição de limites que tolheriam o crescimento de outros países. O relatório aconselha manter essa posição até em tomo de 2050, quando a renda média superar o equivalente a US$ 10mil.

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