quinta-feira, 26 de abril de 2007

O calor modifica Aspen

O calor modifica Aspen
Como o aquecimento global transformou a famosa estação de esqui em modelo de turismo sustentável


Por Ana Paula Greghi

Nessa última temporada de inverno, nos Estados Unidos e na Europa, as agências de viagens enfrentaram um grande problema. Muitos turistas que haviam programado esquiar na neve tiveram de cancelar os pacotes turísticos devido a um detalhe crucial para quem pratica qualquer tipo de esporte no gelo: a falta de neve. De acordo com o relatório do World Wildlife Fund (WWF) publicado no final do ano passado, boa parte da neve esquiável do planeta deverá sumir nos próximos anos por conta do aquecimento global. Só nos Estados Unidos, desde a década de 80, mais de 300 resorts já desapareceram. Nos 500 restantes, a preocupação é a mesma. Como enfrentar o aumento de temperatura que derrete as principais estações de esqui? Em Aspen, uma das mais badaladas do mundo, o aumento de 1ºC na temperatura não foi motivo de pânico. Pelo contrário, foi o estopim para que a estação se tornasse pioneira em turismo sustentável. “Em Aspen, o clima faz parte do negócio”, disse Patrick O’Donnell, diretor da Aspen Skiing Company, à revista americana Fast Company. “Se nós não pensássemos em novas alternativas, aí sim, teríamos problemas.”

Para contornar o problema do aquecimento, a companhia tomou várias medidas de prevenção. A energia utilizada, por exemplo, vem de painéis fotovoltaicos que convertem os raios do sol em energia elétrica. Os tratores que limpam as pistas foram trocados por novos modelos movidos a biodiesel. Em Snowmass, uma das montanhas mais visitadas de Aspen, um teleférico movido a energia eólica foi construído. Os banheiros da estação também foram adaptados à nova realidade. Ao acionar a descarga ou a torneira, os clientes conseguem perceber que a quantidade de água necessária é muito menor do que a que eles estão habituados a usar. Além disso, os caminhões que fabricam neve artificial estão utilizando água de reservatórios construídos somente para isso e a companhia também implantou 20 novas máquinas automáticas de refrigerante que possuem sensores que desligam o sistema de refrigeração quando não há ninguém por perto. Mais: na conta de cada hóspede são acrescidos US$ 2 por dia, destinados à preservação do meio ambiente da região.

Referência

O modelo de Aspen tem inspirado outras estações de esqui. Park City, também nos EUA, está na luta contra os efeitos do aquecimento. “Já adotamos a energia eólica e estamos incentivando o transporte público”, conta Patton Murray, gerente de marketing do Park City Conventions and Visitors Bureau. Os especialistas no assunto, contudo, fazem ressalvas. “As medidas ajudam, mas é preciso mais do que isso”, diz Gilvan Sampaio, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). “É necessário uma conscientização das pessoas e dos governos.” Aos poucos, é verdade, isso está acontecendo.

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