Por Neuza Árbocz, para a Envolverde
Estamos fazendo as perguntas corretas?
Compreender as mudanças que o planeta atravessa não é tarefa simples. A ciência debruça olhares divergentes sobre fenômenos antigos e recentes em busca de respostas e caminhos para proteger a vida humana na Terra.
Uma das iniciativas mais significativas neste campo é o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, formado em 1988 a pedido da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
O Painel é coordenado por um bureau eleito pelos países membros da ONU que recebe indicações de especialistas de todo o mundo e os nomeia para atuarem como autores, editores e revisores de relatórios sobre o clima e cenários futuros.
Suas conclusões tornaram-se referência para a tomada de decisão de grande número de países e lhe valeram o Prêmio Nobel da Paz em 2007, em conjunto com Al Gore que as popularizou em seu documentário: “Uma Verdade Inconveniente”. Mas, no final de 2009, o IPCC viu sua reputação ser questionada ao admitir erros nos dados de seu quarto relatório. Estes incluíam imprecisões sobre o degelo do Himalaia e em dados meteorológicos de estações chinesas da segunda metade do século passado.
Para quem conhece seu funcionamento, estes foram dois fatos considerados isolados na maior análise colaborativa de dados coletados em todo o mundo. Eles serviram, contudo, para mostrar quanto de imediatismo pode ainda dominar a assim chamada 'opinião pública'. Termos como "escândalo do clima" ou "climagate" surgiram rapidamente, ameaçando desacreditar um trabalho de compilação e estudo feito por milhares de cientistas de mais de 100 países, que acontece desde 1990.
Os costumeiros "leitores de manchetes" que não passam dos títulos, subtítulos e legendas, deixaram de saber que no caso do Himalaia, suas geleiras estão de fato diminuindo sim e a uma taxa preocupante. A confusão com o relatório do IPCC está na previsão de quando ela desapareceria por completo: o ano de 2035 - para a qual não foi apontado estudo de embasamento. Graham Cogley, professor de geografia e geleiras na Trent University, Canadá, que chamou a atenção para o erro, também destacou outras quatro falhas neste mesmo parágrafo sobre o Himalaia e concluiu “é um trecho mal formulado”.
O texto em questão foi incluído, conforme mensagem de retratação do próprio IPCC em 20 de janeiro de 2010, fora dos procedimentos padrões de seu trabalho, que envolvem uma revisão científica por pares de todos os dados e análises feitas. O fato das informações listadas serem atribuídas a uma ONG ambientalista, e não a uma instituição formal de pesquisa, também contraria seus critérios científicos. Na nota de esclarecimento, o IPCC reafirma a necessidade da metodologia acordada entre as partes ser seguida à risca e se compromete a garantir que isto aconteça.
O segundo episódio partiu de uma investigação do jornal The Guardian, de mais de 2 mil emails da UEA - Universidade de East Anglia, Reino Unido, obtidos ilegalmente, através de um hacker. No meio de todo este material, o jornal identificou uma mensagem afirmando que os dados de estações meteorológicas chinesas da segunda metade do século 20 não sustentariam a tese de um paper publicado na revista Nature, em 1990, separando-as em zonas rurais e urbanas. Este estudo foi citado como indicador de que a urbanização não teria um papel tão significativo no aquecimento global quanto às emissões de gases de efeito estufa (GEEs), no quarto relatório do IPCC, publicado em 2007.
Quem leu as conclusões deste relatório, contudo, pôde entender que este prioriza a aplicação de modelos globais e as simulações de larga escala e especifica que a magnitude das emissões de CO2 por alteração no uso do solo e as emissões de gás metano por fontes individuais permanecem incertezas chaves*.
*Item 6.1 Observed changes in climate and their effects, and their causes, da Síntese do Relatório. http://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/syr/en/main.html
Revelação do mesmo jornal The Guardiam tumultou a COP15 – encontro entre as partes realizado em Copenhague em dezembro passado, onde se esperava ver firmado um novo acordo mundial climático - ao anunciar a existência de um rascunho de texto final, preparado antes do encontro, sem a participação dos países emergentes. Fato que foi desmentido por todas as delegações, mas que chegou a afetar o clima nas salas de negociações e desviou energia e tempo dos presentes para seu esclarecimento.
Após a divulgação das falhas nos relatórios do IPCC, efeito semelhante alcançou a comunidade científica internacional que passou a questionar: podemos confiar nos mecanismos e nas conclusões do Painel? Chris Field, professor de Stanford e chefe de parte das pesquisas do Painel em 2008, lamentou que erros tenham manchado a imagem, até então intocada, do IPCC, mas considera que eles apontam que há “a oportunidade de fazer muito melhor”, sem desmerecer o que já foi feito. Já o professor de ciência ambiental e política da Colorado University, Roger Pielke Jr desconfia de uma “avaria sistemática nos procedimentos do IPCC” e da existência de mais erros.
Entre tantas vozes, o órgão e o próprio divulgador dos erros, Graham Cogley, os consideraram não significativos, em comparação a todo o relatório, que possui 838 páginas no total. “É como debater se o Titanic afundou mais ou menos depressa; mas não há como negar seu naufrágio” comparou, em 21 de janeiro, Yvo de Boer, secretário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, reafirmando a gravidade do aquecimento global. Boer anunciou que a partir de julho se desligaria da ONU para se tornar um consultor independente. Ele sofreu forte pressão pela expectativa de um acordo mundial já na Conferência Climática de Copenhague e sua decisão apimentou ainda mais a situação.
Estrutura e funcionamento pouco conhecidos
Assim como as confusões sobre a COP15 mostraram que o grande público e boa parcela da própria imprensa desconhecem o mecanismo formal de uma Conferência entre as Partes, julgamentos expressos do trabalho do IPCC também revelaram uma grave ignorância sobre métodos científicos e os relatórios do Painel gerados até o momento.
Quantas pessoas leram de fato estes estudos antes de opinar sobre eles?
Incomodado com as suspeitas levantadas e as críticas "exacerbadas", segundo qualificou o chairman do órgão, Rajendra K. Pachauri, o IPCC convocou, em 16 de fevereiro de 2010, os governos a formar um comitê independente para avaliar todos os procedimentos do Painel e também examinar quais mudanças possam ser necessárias. Ao mesmo tempo, reiterou a validade do 4o Relatório, afirmando que suas conclusões são baseadas em massivas evidências de milhares de estudos científicos independentes e verificados por pares e apoiadas em múltiplas linhas de análises e bancos de dados. Para estancar as críticas, a ONU anunciou em 10 de março o patrocínio de uma revisão autônoma do trabalho científico do Painel.
A conclusão deste estudo, entregue em 30 de agosto, avalia que “os processos empregados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para produzir seus relatórios periódicos têm sido, de modo geral, bem sucedidos. Entretanto, o IPCC precisa reformar fundamentalmente sua estrutura gerencial e fortalecer seus procedimentos, para que possa lidar com avaliações climáticas cada vez mais complexas, bem como com uma intensa demanda pública a respeito dos efeitos das mudanças climáticas globais”, conforme informações da Agência Fapesp.
O órgão também estuda a possibilidade de ter um quadro de cientistas fixos, remunerados para uma dedicação exclusiva e não contar mais apenas com o engajamento de cientistas voluntários.
O voluntariado passou a ser motivo de preocupação na crise deflagrada. Os cientistas participantes do IPCC são, em geral, pesquisadores de Universidades ou integrantes de Ministérios e órgãos públicos de seu país. Eles mantêm sua remuneração normalmente, enquanto avaliam os estudos e emitem seus pareceres e sabem da responsabilidade e da repercussão que este trabalho tem. Contudo, precisam fazer esta tarefa junto com todas as demais sob sua responsabilidade. “Na época que eu estava tocando um dos capítulos, meu co-chair era um pesquisador japonês da Honda. Ele tinha uma porção de estagiárias ajudando. No meu caso, eu era só eu, eu e eu mesma", afirmou Suzana Kahn, secretária nacional de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente durante encontro do Painel, realizado em 1 de março em Oxford, na Inglaterra, para planejar medidas que evitem novos erros.
Em todo caso, seus autores usam sempre de cautela e diferenciam suas afirmações em "provavelmente", "muito provavelmente" e como todo bom cientista, detalham os modelos usados para simulações e suas incertezas.
A maior limitação parece estar em contar com dados meteorológicos de mais longa data e de pontos mais variados no globo. Os dados utilizados são de 1850 para cá e há regiões não cobertas, principalmente nos países ainda em desenvolvimento. Mesmo assim, em vinte anos de trabalho, comprovações importantes foram alcançadas da interferência dos GEEs emitidos por atividade humana no equilíbrio do clima.
É importante salientar que Gases de Efeito Estufa (GEE) incluem não apenas o CO2, mas também metano (CH4), óxido nitroso (N2O), perfluorocarbonetos (PFC), hidrofluorocarbonetos (HFC) e enxofre (SF6). Uma das críticas comuns às previsões do Painel é de que emissões de carbono fariam bem ao Planeta, já que este elemento é alimento para as plantas e árvores. Esta visão desconsidera que quando se fala em 'emissões de carbono' se está apenas usando uma medida de equivalência para facilitar a comunicação e o entendimento dos cenários existentes e previstos.
Todas as simulações feitas pelo IPCC, até agora, mostraram um aumento artificial da temperatura, em todo o globo. Isto, mesmo se descontando o resfriamento causado por aerossóis e por menor incidência solar registrada nas últimas décadas. Os relatórios de 1990 e de 1995 serviram para mostrar como a atividade industrial nos países mais ricos provocaria danos sérios aos mais pobres nas décadas futuras. Graças a eles, foi firmado o Protocolo de Quioto que estabeleceu metas de redução de emissões para os mais industrializados e um mecanismo de compensação. Quem não atingisse a sua meta poderia financiar projetos que reduzissem emissões nos países em desenvolvimento, ganhando por isto, "créditos de carbono".
Este também foi um mecanismo mal compreendido. Sobretudo, em seu aspecto complementar. Só pode receber crédito de carbono, quem comprova que está agindo localmente para diminuir suas emissões e que, sem o dinheiro do mecanismo, ainda não teria recursos para fazer as melhorias necessárias. Por outro lado, só pode comprar este crédito, somando-os a sua meta de redução, países também comprometidos com as mudanças internas.
De qualquer forma, a velocidade destes projetos ficou prejudicada pela complexidade e custos de sua elaboração e aprovação junto aos organismos internacionais, onde toda documentação deve ser encaminhada em inglês. Mesmo assim, foram financiados a transformação de lixões em aterros; a captura e queima do metano (gás 21 vezes mais potente na geração do efeito estufa que o CO2); biodigestores e o reflorestamento de áreas degradadas, entre outras iniciativas. O Protocolo vence em 2012 e está sendo arquitetada uma renovação, que poderá abranger a remuneração por desmatamento evitado (REDD). Espera-se, inclusive, a adesão dos EUA ao novo acordo.
Resultado de Copenhague
Os EUA ficaram de fora do Protocolo de Quioto, no final dos anos 90, por não acreditar no efeito das emissões industriais sobre o clima global. Enquanto o terceiro relatório, de 2001, apontava evidências fortes do efeito da ação industrial sobre o aquecimento global, considerando-o "provável" (66% de chances ou mais), a análise de 2007 (IPCC AR4) concluiu como "muito provável" (até 90% de chance) que as atividades humanas, lideradas pela queima de combustível fóssil, estejam fazendo a atmosfera esquentar desde meados do século 20. Os últimos 11 anos, 1995-2004 (com exceção de 1996), estão entre os mais quentes no período e a Terra está se aquecendo mais no Hemisfério Norte.
Os EUA agora se convenceram deste fato, mas, sempre competitivos, apontam para a necessidade de todos os maiores poluidores se comprometerem com uma redução, mesmo aqueles ainda em desenvolvimento como China, Brasil e Índia. Sem isto, continuam resistindo a abraçar metas específicas internas e seu Congresso chegou ao ponto de proibir que Estados o fizessem voluntariamente, como aconteceu com a Califórnia. Este impasse e mais incertezas quanto às metas de redução necessárias passaram a elaboração de um documento final para o próximo encontro das partes no México, em 2010. Isto causou grande frustração aos que esperavam um novo acordo já na COP15 em dezembro passado. Contudo, o caminho está pavimentado para as negociações terem sucesso antes do vencimento do atual Protocolo. O próprio presidente norte-americano, Barack Obama, propôs no final da COP15, uma lista de compromissos, aceita no ato por África do Sul e Brasil e, em março deste ano, pela China e Índia. Este documento chamado de “Acordo de Copenhague” ainda não tem detalhamentos de metas e nem validade de lei, mas já reúne interlocutores de peso para a formulação de um documento legal futuro. Carlos Nobre, doutor em meteorologia e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), observa: “Copenhague não deu muito certo, mas há um movimento mundial de transição para uma economia de baixo carbono”.
Outra voz de peso que faz uma análise otimista da situação é Al Gore, ex-vice-presidente norte-americano, realizador do documentário Uma Verdade Inconveniente, ganhador junto com o IPCC do Nobel da Paz de 2007 por seu esforço em combater as mudanças climáticas. Al Gore defende que temos tempo e ferramentas suficientes para solucionar até três ou quatro crises do clima, como a que estamos atravessando em seu novo livro “Nossa Escolha”.
O que falta?
Mais do que um acordo global, o Planeta precisa de ações locais imediatas. Mesmo sem todo este esforço de pesquisas, é fácil perceber que poluir o ar, o solo e as águas é destruir vida. Como atender uma demanda crescente de consumo por itens industrializados, lazer, viagens etc. sem sacrificar a Natureza e eliminar os serviços ambientais que ela nos presta? Esta é a pergunta para a humanidade decifrar. Tentar respondê-la de forma unificada, para além de fronteiras políticas, compartilhando descobertas, tecnologias e recursos naturais, dentro de uma visão de responsabilidade universal, pode custar muito menos a todos do que uma corrida de "salve-se quem puder".
O Planeta nos dá sinais claros que já não suporta tanta pressão. Escolher a cooperação, em vez da bruta competição entre nações que marcou os séculos passados, pode ser a decisão mais inteligente para enfrentar os impactos das mudanças já em curso.
“A ação humana tem capacidade para alterar o clima, tanto para melhor, quanto para pior. Podemos desertificar uma área, desmatando, eliminando elementos que retêm as águas ou diminuem sua velocidade, para que elas infiltrem no solo e podemos fazer o contrário”, apontou José A. Marengo, pesquisador do CPTEC/INPE, em um extenso estudo elaborado em colaboração com o Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP/IAG) e com a Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS).
Marengo afirma que as informações transmitidas ao público em geral têm sido, quase sempre, muito concisas e, por vezes, imprecisas. Neste sentido, não somente a população, mas principalmente os tomadores de decisão, nem sempre têm conseguido discernir as certezas e incertezas com relação às variações do clima presente e, principalmente, do futuro.
Como um relatório é gerado
As análises do IPCC são as mais completas de que dispomos. Elas são realizadas por três Grupos: um centrado em Base Científica, outro no estudo da Vulnerabilidade, Consequências e Adaptação e o terceiro na Mitigação, apontando onde e como é possível reduzir as emissões de GEEs. Além disto, o Painel mantém uma força tarefa em Inventários Nacionais de GEEs e um grupo de apoio em dados e cenários para análises de clima e seus impactos. Este último cuida, sobretudo, de tornar acessível os dados utilizados e gerados pelo Painel, o que faz por meio de Centro de Distribuição, de consulta aberta em http://www.ipcc-data.org/.
Os relatórios levam em conta manifestações climáticas periódicas, como as correntes El Nino e a El Nina e também o fato de que o clima regional e o global podem mudar com o desmatamento e outras atividades associadas ao uso da terra, como a agricultura e construção de grandes cidades. Prédios e asfalto retêm muito mais radiação térmica do que as áreas não-urbanas. Assim, buscam registros de temperatura fora dos grandes centros e também sobre os oceanos. No Brasil, por exemplo, o INMET – Instituto Nacional de Metereologia administra mais de 400 estações, espalhadas por todo o país, sendo 29 de altitude. O Instituto possui 10 Distritos Regionais que recebem, processam e enviam estes dados para sua sede, em Brasília. Esta, por sua vez, processa estes dados e os envia por satélite para todo o mundo.
Os estudos do IPCC utilizam dois modelos de clima: Modelos Globais Atmosféricos (GCMs) ou Modelos Globais Acoplados Oceano-Atmosfera (AOGCMs). As simulações acontecem segundo quatro cenários: A1 é o cenário que descreve um mundo futuro onde a globalização é dominante; A2 é o cenário que descreve um mundo futuro muito heterogêneo onde a regionalização é dominante; B1 é o cenário que descreve uma rápida mudança na estrutura econômica mundial, onde ocorre uma introdução de tecnologias limpas e B2 é o cenário que descreve um mundo no qual a ênfase está em soluções locais, na sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Como o planeta é dinâmico, há muitas variáveis nas previsões realizadas. Sobretudo porque novos elementos modificam as condições naturais constantemente. Assim, os cientistas convivem com várias incertezas para suas análises e previsões. Marengo define as principais como:
- Incertezas nas emissões futuras de gases de efeito estufa e aerossóis e nas atividades vulcânica e solar que afetam o sistema climático;
- Incertezas na inclusão de efeitos diretos do aumento na concentração de CO2 atmosférico nas plantas e do efeito de comportamento das plantas no clima futuro;
- Incertezas na sensibilidade do clima global e nos padrões regionais das projeções do clima futuro simulado pelos modelos. Isto devido às diferentes formas em que cada AOGCM representa os processos físicos e os mecanismos do sistema climático. Cada AOGCM simula um clima global e regional com algumas diferenças nas variáveis climáticas como temperatura do ar, chuva, nebulosidade e circulação atmosférica.
- Variabilidade natural do clima, derivadas de perturbações internas do sistema climático (não forçadas pelos gases de efeito estufa) e associadas à poluição atmosférica e liberação de gases de efeito estufa, devido ao desenvolvimento industrial em muitos países do mundo.
Olhando-se para isto, pode-se entender porque um consenso em relação a metas e compromissos é um exercício complexo que demanda tempo. As novas tecnologias em satélites e supercomputadores e o desenvolvimento de modelos acoplados, que incluem mais realisticamente as interações da vegetação e carbono com a baixa atmosfera e com uma resolução espacial maior, podem ajudar a reduzir as dúvidas nas previsões climáticas para os anos por vir. O quarto relatório do IPCC já é uma prova disto, atingindo graus maiores de probabilidade em relação aos relatórios anteriores, como já citado.
Uma perspectiva ainda mais ampliada, como o fato de todo o sistema solar estar em movimento no universo e isto também afetar as condições terrestres, também pode trazer novidades e aspectos até agora ignorados nas simulações e previsões. Em todo caso, o trabalho conjunto organizado pelo IPCC já cumpriu o objetivo mais importante: chamar a atenção para a necessidade de mudança e da atividade humana reencontrar um ritmo em equilíbrio com os ciclos naturais, o quanto antes.
Que país fará isto primeiro é realmente a pergunta errada. O jogo de "só faço, se você fizer também" pode levar ambas as partes a colapsos indesejados. A humanidade, em horas de cataclismos, demonstra que a solidariedade prevalece. Unir forças e privilegiar, não um sistema econômico artificial, sem lastros reais, mas, sim os elementos vitais de sobrevivência é uma opção presente. Resta saber quando acordaremos para ela e, em vez de contas bancárias polpudas ou negociações internacionais infindáveis, que geram contratos e dívidas, negociados por outros contratos e dívidas, iremos preferir investir em rios, ar e cidades limpas.
Se governantes demoram a se decidir, a população pode agir por conta própria, reduzindo seu consumismo, usando água e energia com mais consciência e evitando comprar aquilo que não tem descarte adequado já estabelecido. Se ao contrário, a população demora a se conscientizar, os governantes podem acelerar o processo através de campanhas, leis e fiscalização eficazes. Ao mesmo tempo, empresários podem buscar melhores tecnologias e processos, garantindo a sobrevivência de seus negócios no futuro. Construir uma nova cultura, pautada na responsabilidade socioambiental, é uma tarefa que cabe a todos.
Muitas soluções inovadoras já existem. Urge multiplicá-las. Quem olha para o planeta como um todo, sabe desta premência. Comunicá-la aos que ainda não compreenderam é perturbar egoístas e acomodados e despertar reações muitas vezes destrutivas. Os integrantes do IPCC que o digam.
(Agência Envolverde)
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