terça-feira, 31 de agosto de 2010

IPCC precisa de reforma "fundamental", constata comitê ligado a ONU

 

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (à esq.) e o atual chefe do IPCC, Rajendra Pachauri, ainda vão ler o documento de revisão do IPCC/Foto: Eskinder Debebe/UN

Apesar de ter sido avaliado positivamente no âmbito geral, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) necessita de uma reforma fundamental em relação a maneira como é gerenciado, no intuito de se evitar erros, anunciou nesta segunda-feira, 30 de agosto, o grupo de especialistas responsável por revisar o relatório de 2007.

O IPCC foi duramente criticado há três anos em razão de erros cometidos no último relatório do órgão, que divulgava, por exemplo, a previsão de que as geleiras do Himalaia poderiam desaparecer até 2035 - estimativa posteriormente desconsiderada. Apesar de o documento apresentar mais acertos do que equívocos, o episódio ajudou a reforçar o movimento dos chamados "céticos do clima", que negam a existência do aquecimento global.

O chefe do comitê de especialistas que revisou o desempenho do órgão, Harold Shapiro, elogiou o trabalho do IPCC à frente das avaliações sobre o clima. "Em nossa opinião, de forma geral, o trabalho do IPCC tem sido um sucesso e serve positivamente à sociedade." Contudo, o líder do InterAcademy Council (IAC) fez uma ressalva, ao afirmar que a reação do órgão da ONU sobre os erros de 2007 foi feita de forma "lenta e inadequada".

Conclusões

Uma das recomendações do comitê sugere que o IPCC deverá nomear um diretor-executivo que se encarregue de atividades diárias, seja considerado um porta-voz do órgão e permaneça no cargo apenas durante os cinco anos da elaboração de cada um dos relatórios.

Atualmente, as regras estabelecem que o chefe do IPCC (hoje é o indiano Rajendra Pachauri) pode permanecer no cargo por dois mandatos de seis anos. Pachauri foi eleito para o cargo em 2002 e reeleito para um segundo mandato em 2008.

Em entrevista concedida nesta segunda-feira, Pachauri, esclareceu que não comentaria o resultado do relatório porque ele ainda não havia lido o documento. Ao ser perguntado se renunciaria ao cargo, o indiano mostrou-se disposto a implementar as mudanças sugeridas e que não especularia sobre nenhum ponto antes de ler a revisão. O atual chefe do IPCC ressaltou que quaisquer que sejam as ações e recomendações, "elas ajudarão a guiar as futuras avaliações sobre a ciência das mudanças climáticas".

A revisão também recomenda que os grupos de trabalho do IPCC passem a adotar diretrizes semelhantes ao analisar as incertezas referentes a ciência climática, com o objetivo de que haja mais coerência entre eles. Hoje esses comitês usam critérios diferentes.

"O que o IAC espera é uma contribuição especial para que os trabalhos do IPCC tenham a base científica mais sólida possível, o que é fundamental para que as conclusões e projeções tenham legitimidade junto a governos e ao público", explicou ao jornal O Estado de S.Paulo o físico Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) - único brasileiro entre os 12 membros do comitê.

O InterAcademy Council elogiou a utilização de trabalhos acadêmicos ainda não revisados ou divulgados em publicações científicas pelo IPCC, mas ponderou que os autores devem seguir mais de perto as diretrizes do órgão, embora algumas delas tenham sido consideradas vagas.

Agilidade

Em nota, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, agradeceu aos revisores do relatório, e afirmou que devido à gravidade das mudanças climáticas, é vital que o mundo receba as melhores avaliações sobre o tema por meio do IPCC. Ele informou que vai ler o documento, além de pedir aos 194 países-membros do painel que também o examinem e tomem a ação apropriada o mais rápido possível.

Segundo o IPCC, o erro cometido em 2007 não muda o fato de que a ação humana contribui diretamente para o agravemento do aquecimento global.

As recomendações do comitê serão discutidas na próxima sessão plenária do IPCC, entre os dias 11 e 14 de outubro, na Coreia do Sul.

 

Nenhum comentário: