terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Globo usa internautas no Orkut para monitorar queimadas ilegais na Amazônica

Os veículos de comunicação tradicionais estão finalmente entendendo o potencial de usar a Rede para engajar suas audiências a partir de temas de interesse comum. A Abril está demonstrando ter chegado a essa maturidade pelo lançamento da Abril Digital. E agora a Rede Globo apresenta um grande produto 100% colaborativo.
O projeto chama Globo Amazônia e é uma ação que permite ao usuário de internet ajudar a monitorar as queimadas na Amazônia.
É uma ação idealizada no início de 2007 por um velho amigo, o jornalista Eduardo Acquarone, começou a ser produzida em 2008 e foi lançada em setembro do ano passado.

Ir onde o internauta está

Me surpreendeu a decisão lúcida dos responsáveis pela Web na emissora de não ter medo de compartilhar tráfego. Existe um site de notícias do projeto - www.globoamazonia.com. Mas todos os protestos são feitos por um aplicativo externo. Eles aproveitaram a força do Orkut.
Até dezembro, quando escrevi este post, mais de 463 mil pessoas tinham instalado o aplicativo de monitoramento em seus perfis no Orkut e mais de 42 milhões de protestos foram registrados. Além do monitoramento com imagens de satélite, o internauta também pode enviar denúncias, o que até o momento gerou sete reportagens sobre desmatamento que foram ao ar nos últimos 3 meses.
Nem a emissora tinha idéia da repercussão que o projeto traria. No dia seguinte ao lançamento, feito pelo Fantástico, mais de 2 milhões de protestos haviam sido feitos.
Talvez você esteja dizendo: - com uma promoção dessas, qualquer um. Tanto não é verdade que o tráfego do Globo Amazônia, em outubro, foi o terceiro maior da Globo em outubro, perdendo só para o G1 e para o Globo Esporte, mas ficando à frente do próprio Fantástico, na quarta posição, que se auto-promove muito mais do que promove outros projetos.

Repercussões chegaram ao Congresso Nacional

O sucesso do Globo Amazônia é consequência ainda da disposição da emissora de enfrentar interesses comerciais e de aceitar que este tipo de mobilização está fora de controle.
Em quatro meses, por exemplo, o projeto foi citado no Congresso pela ex-Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Leia aqui

Construir não é problema

E considere que se trata de um projeto relativamente barato. Toda a parte técnica foi desenvolvida pela globo.com. Uma equipe de 11 pessoas, chefiada por Diego Cox, trabalhou no projeto.
Aqui em São Paulo dois jornalistas - Dennis Darbosa e Iberê Thenório - editam o site, e eles ainda contam com a colaboração e estrutura do Fantástico, Globo Rural e demais veículos da Globo para cobrir a Amazônia.
É um exemplo de projeto de mídia cruzada, a plataforma online abrindo oportunidade de reportagens que, por sua vez, retroalimentam o site com novas denúncias e participação.

Mash-up com dados públicos

Tecnicamente, ele funciona da seguinte maneira: os dados de queimadas e desmatamento são fornecidos pelo INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Esses dados são públicos. Eles apenas conseguiram uma forma muito dinâmica de apresentá-los ao público.
Os dados de queimadas são em tempo real, atualizados até seis vezes por dia. Ou seja, o que se vê no mapa são os pontos que estão queimando neste momento na Amazônia.
Os dados de desmatamento são sempre os dados mais recentes divulgados pelo INPE. Normalmente esses dados são divulgados todos os meses, exceto agora, no período em que a Amazônia fica quase toda coberta por nuvens e os satélites não conseguem "enxergar" direito o que acontece lá.

Diferença entre protestos e denúncias

Os protestos são ações virtuais, mini-abaixo assinados contra uma situação institucionalizada na Amazônia: o desmatamento ilegal.
Quando o site registra 42 milhões de protestos em 3 meses, é um indício de que a sociedade está dizendo em alto e bom som que o desmatamento da Amazônia incomoda.
Mas os protestos não são denúncias. Até para termos um peso jornalístico correto no projeto, todos os pontos onde é possível protestar são os pontos identificados pelo Inpe, ou seja, chancelados por especialistas em monitoramento por satélite.
Além disso as pessoas são estimuladas a fazer relatos e denúncias do que acontece na região, e essa é a base das matérias feitas pelo site e pelo Fantástico.

Superando a burocracia

Outra vitória da equipe foi conseguir demonstrar internamente que não havia problema em mencionar nas reportagens o site de relacionamentos Orkut, o que, de praxe, se evita, para não fazer promoção gratuita.
E vamos torcendo para que a iniciativa continue dando os passos certos. Um deles, por exemplo, seria abrir o conteúdo para o resto do mundo, oferecendo um espelho do site em inglês.
Para quem quiser saber um pouco mais, aqui está a entrevista dos criadores do projeto para o Jô Soares.


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