segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Enchentes refletem aquecimento global

Por Rodolfo Borges, da UnB Agência

Climatologista acredita que tragédia está relacionada ao efeito estufa, mas diz que Brasil pode virar um dos países mais limpos do mundo.

Santa Catarina sofre há três dias com chuvas intensas. A água já matou mais de 79 pessoas e desalojou outras 54 mil. Em palestra no auditório da reitoria, o climatologista Carlos Nobre avaliou que a explicação para o estado de calamidade da região está no aquecimento global. “Isso é uma demonstração do que as mudanças climáticas são capazes, mesmo num estado como Santa Catarina com o melhor sistema de Defesa Civil do Brasil”, disse o especialista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Convidado do Seminário Franco-Brasileiro de Mudanças Climáticas, Nobre considera inegável que o homem esteja influenciando as variações de temperatura do planeta, e de “uma forma sem precedentes na nossa história”. Mais do que influir na amplitude das mudanças climáticas, o climatologista considera que o homem aumenta a velocidade do aquecimento pelo qual o mundo passa, e numa ordem de 50 a 100 vezes.

Nesse cenário catastrófico, o Brasil pode desempenhar um papel muito importante, apesar de estar numa posição vulnerável, de acordo com o especialista. “O Brasil ainda é um país em desenvolvimento e tem 50% de sua população abaixo da linha da pobreza, mas a redução de emissões no país não afetaria diretamente a sua economia”, disse.

Nobre explica que 80% das emissões de CO2 da China, por exemplo, estão associadas diretamente ao crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB). Poluir menos, portanto, significaria diminuir o crescimento do país. No Brasil, contudo, 55% das emissões estão relacionadas ao desmatamento. “Quando diminuir o desmatamento na Amazônia, o Brasil vai se tornar um dos países mais limpos do mundo, e sem que a sua economia sofra impactos negativos”, garantiu.

BIOCOMBUSTÍVEL – Os biocombustíveis também desempenham papel fundamental entre as medidas que pretendem diminuir as agressões do homem ao meio ambiente, segundo o climatologista. E o Brasil está entre os mais interessados no campo dos combustíveis renováveis. “Se houver expansão na área de biocombustíveis, ela acontecerá na América do Sul e na África, onde há clima adequado para plantações de cana-de-açúcar, terra disponível e água”, disse Nobre.
Marcelo Poppe, que também participou do seminário de mudanças climáticas, chamou atenção para a eficiência do bioetanol de cana-de-açúcar durante sua exposição. “O balanço energético da cana é muito positivo. Ela é capaz de produzir de oito a dez vezes a quantidade de energia utilizada para a sua produção”, disse o membro do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do Ministério da Ciência e Tecnologia. “A beterraba, por exemplo, gera apenas três vezes mais energia do que exige”, completou.

Segundo Poppe, o Brasil já consome mais bioetanol de cana-de-açúcar do que gasolina em carros leves, e sem nenhum prejuízo ao desempenho dos automóveis. “Existe um desconhecimento muito grande sobre o assunto no exterior. Atualmente o percentual de álcool na gasolina brasileira é de 25%, e nós utilizamos esse combustível em carros importados”, lembrou, ao dizer que as restrições dos estrangeiros à mistura não se justifica.

O pesquisador do CGEE finalizou sua palestra dizendo que o Brasil tem uma possibilidade bastante ampla de expansão na área de biocombustíveis, mas precisa de uma política rigorosa para evitar a utilização de áreas impróprias para o plantio.


Crédito da imagem: Daiane Souza/UnB Agência


Fonte: Envolverde/UnB Agência

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