segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Brasil divide opiniões em Poznan

A semana decisiva para as discussões diplomáticas da 14ª Conferência do Clima das Nações Unidas, em Poznan, Polônia, dirá se, ao fixar metas para a redução do desmatamento da Amazônia, o Brasil se tornou líder ou vilão na questão ambiental. Apresentadas na segunda-feira, em Brasília, dentro do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, as metas de reduzir 70% o desflorestamento vêm dividindo opiniões em Poznan.

O País é elogiado por se comprometer com números, atitude vista por parte dos analistas como arrojada, em uma conferência marcada por evasivas. Mas enfrenta críticas de ambientalistas por prever objetivos "pouco ambiciosos", reconhecendo, na melhor das hipóteses, a perda 70 mil km² de floresta - um território igual ao da Bélgica e da Holanda somados.

O plano nacional, divulgado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, marca uma reviravolta na política de Estado para a Amazônia. Cobrado desde sempre nos fóruns internacionais, o Brasil até aqui não aceitava estipular metas para redução do desmatamento enquanto nações industrializadas não se comprometessem.

Segundo o consenso da comunidade científica em 2007, 20% das emissões mundiais de gases-estufa têm origem no desflorestamento. No Brasil, essas emissões representam 75% do total. Pelo texto, o governo se responsabiliza a reduzir em 40% o desmatamento médio anual no período 2006 a 2009 comparado a 1996-2005. Nos períodos seguintes (2010-2013 e 2014-2017), a meta passa para 30% em cada etapa. Com isso, o País evitaria a emissão de 4,8 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO2) até 2017.

Em Poznan, os primeiros sete dias de discussões foram impactados pelas divergências na União Européia, pelas evasivas de China e Índia e pela indiferença ao tema de parte da delegação dos EUA. Em meio à crise financeira, quando nenhuma delegação se mostra disposta a anunciar metas ambiciosas, o Brasil enviou sinal forte, dizem observadores.

"Estão todos impressionados em Poznan. O fato de as metas serem muito limitadas ainda não ressoou", disse Paula Moreira, advogada do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. "De maneira geral, o PNMC provocou uma reação positiva", confirmou Juliana Russar, da ONG Vitae Civilis. "Para os outros países, o Brasil, um país em desenvolvimento e com papel-chave nas negociações, apresentar um plano sobre mudanças climáticas é considerado relevante."

Mas o discurso elogioso pode virar crítica ao longo desta semana, quando os representantes das delegações governamentais tentarão detalhar o "mapa do caminho" de um futuro acordo pós-Protocolo de Kyoto, previsto para ser assinado em Copenhague, em 2009. Paulo Adario, coordenador da Campanha de Amazônia do Greenpeace, reconhece que o PNMC criou euforia na Polônia, mas também ceticismo. "Houve um entusiasmo grande. Mas também tive contato com delegações que me disseram: 'O Brasil não está falando sério?'", conta.

Uma prova dos argumentos que podem vir contra o Brasil nesta semana são os discursos dos militantes ambientalistas. Na quinta-feira, Jamie Woolley, da seção britânica do Greenpeace, analisou as intenções do ministério: "Na superfície, o plano deveria soar ambicioso e visionário, mas mesmo que as metas sejam alcançadas, elas reduzirão o desmatamento, mas não acabarão com ele." A ONG diagnosticou pontos fracos: metas restritas ao desmatamento ilegal - quando o Congresso analisa a ampliação da área legal de desflorestamento - e baseadas em previsões de doações ao Fundo da Amazônia que podem não se concretizar.

Um termômetro preciso da reação gerada pela iniciativa brasileira será conhecido na quinta ou na sexta, quando Carlos Minc apresentará o PNMC na Conferência do Clima.

Fonte: Andrei Netto / Estadao.com.br

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