quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Carbon Disclosure Project sintetiza informações de 1.550 empresas

Por Leticia Freire, do Mercado Ético

O Relatório Global 2008 do Carbon Disclosure Project (CDP) e a versão específica sobre as empresas brasileiras foram apresentados na última quarta-feira (5), no auditório da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

Trezentos e oitenta e cinco investidores globais, com ativos acima de US$ 57 trilhões são signatários do projeto, o que faz do CDP a maior coalizão de investidores do mundo. Em sua sexta solicitação anual de informação, os relatórios lançados sintetizam as informações sobre emissões de gases de efeito-estufa e políticas de controle encaminhadas por 1.550 empresas. O percentual de respostas registradas no Brasil (83%) ficou atrás apenas do Reino Unido (90%), país de origem do projeto.

Giovanni Barontini, da Fábrica Éthica Brasil, empresa responsável pela facilitação do CDP América Latina, reforçou o interesse e o comprometimento da comunidade empresarial e financeira brasileira no projeto. “Existe, no Brasil, uma atenção crescente dos investidores ao CDP, especialmente depois que uma pergunta explícita sobre relacionamento com o CDP foi inserida no questionário de admissão ao ISE (Índice de sustentabilidade Empresarial da BOVESPA)”.

Os questionários entregues às empresas abrangeram quatro áreas principais: visão da administração sobre riscos e oportunidades que a mudança climática representa para os negócios; contabilidade das emissões de gases do efeito estufa; estratégia geral de redução das emissões/minimização de riscos e capitalização de oportunidades; e governança corporativa relativa às mudanças climáticas.

Panorama mundial

Com o agravamento das conseqüências das mudanças climáticas e o início do primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto, países e empresas estão cada vez mais empenhados na busca de soluções (tanto para a mitigação, quanto para a adaptação), assim como na realização de novos negócios.

“Nós estamos vendo os impactos das mudanças climáticas acontecendo muito mais rápido do que previsto. O que nós fizemos com nosso sistema financeiro, que foi fazer empréstimos de ativos que não poderão ser pagos, é o que estamos fazendo para nosso ecossistema”, disse Paul Simpson, chefe de operações do CDP no mundo, em sua apresentação.

Mas, para ele, medidas importantes de correção já estão sendo tomadas. “Governos estão tomando medidas para internalizar o custo do carbono. Por exemplo, já existe um sistema de cotas já existente em empresas da Comunidade Européia, Austrália e Japão. Além disso, no ano passado, US$ 150 milhões de dólares foram investidos em tecnologias limpas. Isso mostra que existem oportunidades para as empresas que sabem avaliar o mercado”.

Em relação aos Estados Unidos, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, Paul se mostrou otimista com o resultado da última eleição presidencial. “Agora que Obama foi eleito presidente, certamente veremos um plano de trocas de créditos de carbono acontecendo também nos Estados Unidos.”

Finalizando sua apresentação, o chefe de operações do CDP destacou a importância do projeto em ajudar a criar um padrão global de registro e mensuração das mudanças climáticas no mundo. “O CDP nos permite lidar com questões como taxação e regulamentação de iniciativas frente às mudanças climáticas, inovações tecnológicas e mudanças de atitude em relação a consumo e demanda”.

Brasil: da ‘abertura de informação’ para a ‘efetiva ação’

Este ano, o CDP consultou 75 empresas de capital aberto brasileiras (escolhidas no índice IBRx, de maior liquidez, na Bovespa), sendo que 83% dessas empresas responderam ao questionário. Nesse contexto, os presentes ao evento foram unânimes ao apontar que a adoção de metas internas nos diferentes países é uma tendência mundial e que o Brasil deve assumir essa posição o quanto antes.

“Eu defendo metas para o Brasil. No cenário internacional elas impediriam o famoso jogo de soma zero, ou seja, enquanto um dos maiores emissores de carbono não assume compromisso nós também não. Além disso, as definições de metas asseguram a competitividade da economia brasileira. Uma empresa brasileira, como player global, dificilmente aceitará ter um perfil de emissão maior que seu concorrente”, enfatizou Fabio Feldman, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas e Biodiversidade.

A avaliação de Rachel Biderman, coordenadora adjunta do GVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV), instituição que apóia o CDP Brasil, é que a definição de metas deve ser discutida com mais comprometimento pelos governantes. Para ela, “a definição de metas pode ser realmente uma grande oportunidade que garante a competitividade, uma vez que a matriz energética do planeta tende a descabonização”.

Bom, mas não o suficiente

Dentro das empresas brasileiras de maior capitalização do mercado, e inclusas na listagem Global 500, 60 foram listadas no índice de liderança em relatórios de carbono (Carbon Disclosure Leadership Index). A inclusão da Companhia Vale do Rio Doce, como única representante brasileira, foi a novidade para 2008.

Ainda assim, Giovanni Barontini, enfatizou que ainda há muito a ser feito no Brasil e no mundo. “Existem oportunidades de melhoria na qualidade dos relatórios, na relação com a cadeia de valor, na governança climática e na verificação independente das informações prestadas.”

Os relatórios do Carbon Disclosure Project estão disponíveis em: http://www.carbondisclosureproject.net/

Perfil do CDP

Criado em 2000, o Carbon Disclosure Project (CDP) é uma entidade sem fins lucrativos patrocinada pelo Carbon Trust do governo britânico e por grupo de fundações liderado pela Rockefeller Foundation, que visa facilitar o diálogo entre os investidores e corporações que procuram minimizar os impactos ambientais de seus negócios diante das mudanças climáticas.


Fonte: Envolverde/Mercado Ético

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