quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Mamíferos regeneram clareiras abertas nas matas da Amazônia Por Antonio Fausto, da Agência Museu Goeldi A regeneração de áreas florestais devastadas

Por Antonio Fausto, da Agência Museu Goeldi

A regeneração de áreas florestais devastadas pela indústria madeireira, pecuária, mineração e, mais recentemente, pela abertura de frentes para exploração petrolífera representa um desafio para a ciência brasileira. Porém, as instituições de pesquisa vêm unindo esforços para dar uma resposta à altura, a exemplo de estudo desenvolvido no âmbito do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e da Universidade Federal (UFPA), intitulado “Estudo da Comunidade de Mamíferos de Médio e Grande Porte e o Potencial desta Fauna na Regeneração de Clareiras Artificiais na Região do Rio Urucu, Coari, Amazonas”. A pesquisa se propõe a avaliar as influências que os mamíferos, animais que se alimentam de plantas e dispersam sementes, podem exercer na recuperação dessas paisagens alteradas.

Desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Zoologia, mantido por convênio firmado entre Museu Goeldi e UFPA, o estudo integra a Rede CTPETRO Amazônia e é de autoria da mestranda Fernanda da Silva Santos, que conta com a orientação da especialista em Mastozoologia – ramo da Biologia que estuda os mamíferos - Ana Cristina Mendes de Oliveira, professora da UFPA e pesquisadora colaboradora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

A pesquisa foi dividida em duas etapas, que incluem o inventário dos mamíferos de médio e grande porte na região e o monitoramento de como essa fauna se comporta nas chamadas clareiras artificiais - áreas desmatadas pela ação humana em meio à cobertura florestal. Fernanda Santos explica que a regeneração dessas áreas alteradas depende das taxas de germinação, crescimento e mortalidade das plantas e predação de sementes. “As clareiras criam novas condições ambientais”, afirma.

Para realizar o levantamento dos mamíferos existentes na região do Rio Urucu, a pós-graduanda analisou os vestígios deixados pelos animais ao longo de quatro trilhas percorridas diariamente, totalizando 12 quilômetros. Pegadas, fezes e carcaças atestaram a presença de primatas, roedores, veados, porcos-do-mato e grandes predadores na região analisada.

Até o momento, foram 35 espécies inventariadas, o que equivale a 11,25% das 311 espécies de mamíferos registradas na Amazônia até agora. Os primatas foram os que mais se mostraram presentes no inventário, com 12 espécies registradas. ”É o grupo mais diverso na área”, comenta Fernanda, que verificou também registros de ariranhas, quatis, esquilos, antas e tamanduás.

A segunda etapa rumo à obtenção do grau de mestra é analisar como esses mamíferos se comportam nas clareiras. Para isso, a jovem cientista lançou mão de armadilhas fotográficas, com a instalação de câmeras no interior de cada clareira para registrar a presença dos animais, e da construção de plataformas para observação in loco. Tudo para descrever, da forma mais precisa possível, a locomoção, alimentação e defecação dos mamíferos dentro das clareiras. “É um estudo difícil de realizar em função da diversidade dessa fauna”, destaca a futura mestra.

Seminário – O resultado final da tese “Estudo da Comunidade de Mamíferos de Médio e Grande Porte e o Potencial desta Fauna na Regeneração de Clareiras Artificiais na Região do Rio Urucu, Coari, Amazonas” só será conhecido em meados de 2009. O trabalho de Fernanda Santos foi um dos 20 apresentados durante o V Seminário de Pós-Graduação em Zoologia, realizado entre os dias 17 e 19 de setembro, quando os futuros mestres e doutores do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Goeldi e da UFPA tiveram a chance de expor os caminhos trilhados até agora para a elaboração de suas teses. O evento teve lugar no Auditório Paulo Cavalcante, do Campus de Pesquisa do Museu, na Terra Firme.

Coordenado pelos pesquisadores Luciano Montag, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e Francílio da Silva Rodrigues, do Museu Goeldi, o Seminário também serviu para que os alunos do Programa compartilhassem experiências e informações com os colegas. Na oportunidade, eles ouviram também as contribuições de renomados pesquisadores de instituições científicas locais e nacionais, convidados para o evento, que avaliaram a metodologia e os resultados preliminares das 20 pesquisas. Segundo Montag, dos 20 trabalhos apresentados, dois constituem teses de doutorado. As demais exposições comporão dissertações de mestrado. O prazo para defesa dos trabalhos é o final de 2009.

De fora, vieram para participar do Seminário os pesquisadores Antonio Brescovit, do Instituto Butantã (SP); Adrian Garda, da Conservação Internacional – Brasil; e Roberto Reis, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Marlúcia Martins, pesquisadora da Coordenação de Zoologia (CZO), do Museu Goeldi, também participou da avaliação representando o Programa de Pós-Graduação em Zoologia. Para Roberto Reis, da PUC-RS, os trabalhos apresentados no seminário são, “sem exceção, de alta qualidade”.

Vice-coordenadora do Programa de Pós-graduação, a herpetóloga Ana Prudente, da CZO do Museu Goeldi, diz que a participação de avaliadores externos ao Programa é de grande importância. “Todos têm feito excelentes comentários sobre a qualidade das teses. Isso é bom, pois o Seminário representa um fórum onde os alunos podem apresentar seus trabalhos e ouvir a opinião de pessoas externas ao Programa, que é o principal objetivo do evento”, destaca. Graças a essa contribuição, “o evento se torna muito mais interessante do ponto de vista científico”, acrescenta a pesquisadora.

“Certamente, os alunos do Programa conseguirão transformar suas teses em publicações científicas em pouco tempo. A qualidade é compatível”, complementa o estudioso da PUC-RS, que também ministrou a palestra “As Bases da Sistemática: História e Filosofia” para os participantes do evento na tarde de sexta-feira, dia 19. Adrian Garda, da CI, proferiu na tarde de quinta-feira, dia 18, a palestra “Sistemática das Rãs Paradoxais: O Papel de Caracteres ‘Tradicionais’ na Era ‘Molecular’”. O primeiro dia do evento foi marcado pela apresentação de Antonio Brescovit, do Instituto Butantã.

O V Seminário de Pós-Graduação em Zoologia encerrou na tarde de sexta-feira, dia 19, com a coordenadora do Programa, Maria Cristina dos Santos Costa, da UFPA, ressaltando a necessidade de os pós-graduandos atentarem para as contribuições feitas aos trabalhos durante o evento.

Crédito de imagem: Arquivo Museu Emílio Goeldi
Fonte: Museu Emílio Goeldi

Nenhum comentário: