sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Conferência divulga estudos inéditos sobre a Amazônia

Por Glória Malavoglia e Ana Paula Soares, do Inpa

Um amplo panorama com dados inéditos sobre a Amazônia será apresentado pelos maiores especialistas do mundo na área ambiental, durante a Conferência Científica Internacional Amazônia em Perspectiva: Ciência Integrada para um Futuro Sustentável, organizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA, Museu Paraense Emílio Goeldi/ MPEG e outras instituições parceiras e patrocinada pelo MCT, através do PPA, Fundos Setoriais, FINEP e CNPq, dentre outros apoiadores. O evento ocorrerá entre os dias 17 a 20 de novembro, em Manaus (AM).

Pela primeira vez, os três mais importantes programas de pesquisas do Ministério da Ciência e Tecnologia para a Amazônia (MCT), o LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), o Geoma (Rede Temática em Modelagem Ambiental da Amazônia) e o PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade) realizam uma conferência conjunta.

As discussões terão como foco principal a geração, síntese e integração de dados recentes sobre a Biodiversidade, o Clima, as Políticas Públicas e o Desenvolvimento Sustentável, e o Uso e Cobertura da Terra e suas Dimensões Sociais na Amazônia, bem como a discussão e avaliação dos diferentes cenários de alteração ambiental provocados pelo desmatamento e pelo aquecimento global.

Pesquisas inéditas

Abrindo a Conferência, a plenária Amazônia – Um sistema em desequilíbrio? Avaliações integradas da biogeoquímica, hidrologia, clima e biodiversidade da Amazônia, apresentará estudos mostrando, por exemplo, que a radiação solar para fotossíntese das plantas pode ser reduzida em até 60%, em algumas áreas da Amazônia, devido à fumaça das queimadas. As pesquisas, coordenadas por Paulo Artaxo (USP), indicam também que aumentos modestos de concentrações de aerossóis no ar podem aumentar a formação de nuvens e aumentar a fotossíntese de plantas em luz difusa.

A retro-alimentação atual entre as ações humanas e a integridade do funcionamento climático, hidrológico e biológico do sistema amazônico serão apresentadas por Meinrat Andreae (Max Planck Institute for Chemistry).

A visão dos jovens cientistas – O que foi aprendido no LBA, GEOMA e PPBio e as necessidades futuras de pesquisas na Amazônia é o tema de outra plenária, que tem como moderador Irving Foster Brown (Universidade Federal do Acre). Esta sessão tratará dos avanços nas pesquisas de cada um dos programas envolvidos na Conferência.

A importância das redes de parcelas permanentes para inventários de biodiversidade e estoques de carbono apresentada por Oliver Phillips (University of Leeds) e Elizabeth Franklin (INPA) é um dos principais destaques na área. Os pesquisadores mostrarão como essas redes têm sido usadas para estudos de diversos grupos de organismos, desde microorganismos do solo até animais de médio porte, e incluindo toda a vegetação.

O presente e o futuro da modelagem da biodiversidade amazônica também está entre as novidades. O trabalho tratará dos resultados obtidos pelos diversos estudos da distribuição da biodiversidade na paisagem e a modelagem de suas relações com o ambiente. A especialização do PPBio de gerar informações com abrangência e qualidade sobre a ocorrência da biodiversidade, complementa perfeitamente com os objetivos do LBA (modelar processos ecossistêmicos) e do GEOMA (modelar distribuição das espécies em função do ambiente). A sessão será coordenada por Ana Albernaz (Museu Paraense Emilio Goeldi) e Bruce Nelson (INPA).

Outro destaque nessa área, coordenado por Alexandre Bonaldo (Museu Paraense Emilio Gueldi) e Mike Hopkins (PPBio Amazônia Ocidental), enfocará a integração de taxonomia e das coleções biológicas com estudos ecossistêmicos. Essa integração é fundamental, pois estudos ecossistêmicos têm potencial de gerar uma quantidade enorme de material biológico de grande interesse para as coleções biológicas, enquanto que a qualidade desses estudos depende muito da identificação correta das espécies que compõem os ecossistemas amazônicos.

Acelerando o efeito estufa


A integração e disseminação de dados e metadados, um grande desafio para o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), será o tema da sessão coordenada por Marlúcia Martins (Museu Paraense Emilio Goeldi) e Laurindo Campos (Inpa). Como o programa está se especializando em obter, gerir e disseminar dados sobre a biodiversidade em diversos sítios da Amazônia, a busca por soluções nesse sentido é prioridade absoluta.

Conferência irá apresentar também trabalhos que comprovam que os desflorestamentos e as queimadas aceleram o efeito estufa, alteram o mecanismo da formação de nuvens e podem diminuir as chuvas na Amazônia e em outras partes do país ou mesmo do continente. Estudos recentes revelam ainda que outros compostos orgânicos voláteis importantes para a formação de gotas de chuva vêm do chão ou sub-bosque.

As evidências de uma forte relação entre a formação de nuvens na Amazônia e a ocorrência e distribuição de chuvas no Sudeste e Sul do Brasil e em toda a América do Sul serão debatidas na Conferência. Especialistas em meteorologia, ligados ao Programa LBA e a outros projetos internacionais de pesquisa, têm agora fortes razões para acreditar que a mudança de clima, em conseqüência do desmatamento amazônico esteja afetando o regime de chuvas nessas áreas, inclusive na Bacia do Prata. A fumaça das queimadas também estaria alcançando o sul do continente.

Efeitos do desmatamento

Outro assunto inédito a ser debatido é a comprovação de que, ao contrário de pensamentos iniciais, sistemas com adição de material vegetal triturado não produzem grandes aumentos de emissão de CO2 e outros gases do efeito estufa. Ao contrário, podem servir para fixar carbono no solo. Esse estudo vem complementar pesquisas anteriores, que demonstram que áreas abandonadas e/ou degradadas após uso como pastagens ou cultivos agrícolas podem ser recuperadas, voltar a ser produtivas e prestar serviços ambientais ecossistêmicos, por meio de métodos de cultivo sem queima ou do uso de sistemas agroflorestais diversificados, com espécies arbóreas nativas.

O desenvolvimento e a criação de sistemas avançados de detecção de desflorestamentos e queimadas por imagens de satélite, permitindo não somente estimar a extensão e o impacto da extração seletiva de madeira, mas também a construção de novas estradas de penetração na floresta (em geral ilegais), em tempo quase real, permitindo prontas ações de fiscalização e controle do desmatamento, é outro destaque da Conferência.

Na área de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável e de Mudanças de Uso e Cobertura das Terras e suas Dimensões Sociais, destacam-se as sessões sobre as causas socioeconômicas de mudanças de uso da terra, apresentada por Diógenes Alves (INPE) e Mateus Batistella (Embrapa); Modelos e cenários de múltipla escala sobre mudanças de uso e cobertura da terra para a Amazônia, apresentada por Ana Paula Dutra (INPE) e Ima Vieira (Museu Paraense Emilio Goeldi); Cenários para o desenvolvimento sustentável, apresentada por Paulo Moutinho (IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e Roberto Araújo (Museu Paraense Emilio Goeldi).

Na área de Clima, os destaques são: Efeitos do desmatamento no clima regional e global, apresentado por John Gash (Centre for Ecology & Hydrology Crowmarsh Gifford, UK) e Maria Assunção Dias (INPE); Cobertura da terra e mudanças climáticas, população humana e infecções na Amazônia: conexões e riscos para o futuro, apresentadas por Alisson Barbieri (UFMG) e Ulisses Cofalonieri (Fiocruz).

Saiba mais sobre a Conferência em http://www.lbaconferencia.org/lbaconf_2008

Fonte: Envolverde/Agência Amazônia

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