terça-feira, 16 de setembro de 2008

A reação da Terra

Uma retrospectiva acerca dos acontecimentos ambientais no mundo

A primeira reportagem de VEJA sobre o aquecimento global data de 1983. Catorze anos depois, foi assinado o Protocolo de Kioto. Nesse documento, os países industrializados, com exceção dos Estados Unidos, comprometeram-se a frear as emissões de dióxido de carbono (CO2) e demais gases responsáveis pelo aumento da temperatura média da Terra e pelas conseqüentes oscilações e mudanças climáticas.

A previsão era que as 38 nações signatárias reduzissem as emissões em 5% em relação aos níveis de 1990, até 2012. Faltando quarto anos para o prazo estabelecido no protocolo, em dezessete desses países o lançamento de CO2 na atmosfera aumentou, em vez de diminuir. Além disso, as nações emergentes que não assinaram o protocolo estão poluindo mais. Kioto pode ter fracassado em seus objetivos, mas proporcionou que o aquecimento global deixasse de ser um assunto restrito às rodas acadêmicas e diplomáticas. O temor, agora, é mundial.

Foi comprovado que, de maneira geral, a temperatura média da Terra subiu 1 grau nos últimos 120 anos — o que vem acarretando o derretimento rápido dos pólos e uma freqüência maior de tempestades violentas e inundações, entre outros fenômenos. Como impedir que o planeta se torne ainda mais quente? Deixando de lado propostas mirabolantes (como a de colocar trilhões de espelhos na órbita do planeta, a fim de que reflitam para o espaço parte dos raios solares), o caminho mais exeqüível parece ser o da substituição gradativa dos combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, por etanol e outros biocombustíveis. Uma solução paralela, e bem mais rápida, é retomar a construção de usinas nucleares, para a produção de eletricidade. Em que pesem os argumentos dos opositores da energia atômica, o fato é que um país como a França, que jamais renunciou a usinas nucleares, tem hoje mais de 80% de sua eletricidade gerada dessa forma, sem nenhum prejuízo ao ambiente.

O QUE DISSE VEJA EM 2001
“Sem se dar conta, os 6 bilhões de pessoas tornaram-se um fardo pesado demais para o planeta, tanto sobre o solo quanto no mar e no ar. Agora, a natureza está mandando a conta. O efeito mais apocalíptico dessa mensagem é o aquecimento global.”

PERSPECTIVA
Prevalece, entre os cientistas, a previsão de que, se nada for feito para reduzir as emissões de gases poluentes, a temperatura média da Terra, até o fim deste século, estará 4 graus acima da atual. Isso poderá causar, entre outras catástrofes, a elevação do nível do mar e o desaparecimento de regiões costeiras inteiras. Para que o aumento de temperatura seja limitado a 1,8 grau, é necessário que 70% das emissões de gases do efeito estufa sejam cortadas até 2050.

AS GRANDES MIGRAÇÕES
Quatro décadas atrás, 78,5 milhões de pessoas viviam fora de seu país de origem. Hoje, esse número é de 190,5 milhões, o equivalente à população do Brasil. Os Estados Unidos e a Europa Ocidental são ímãs poderosos que atraem milhares de imigrantes por ano, provenientes de nações pobres. Tanto no caso americano como no europeu, essa mão-de-obra é fundamental para a realização de trabalhos pouco qualificados que os cidadãos nativos já não querem executar.

No que se refere à Europa Ocidental, há outro ponto: os imigrantes passaram a ocupar vazios deixados por populações originais que, em razão do binômio baixas taxas de natalidade/envelhecimento, entraram em declínio. Apesar dessa necessidade de gente, nunca os países ricos impuseram tantas restrições à imigração — numa atitude que mistura a mais crua xenofobia com o receio fundamentado de um esgarça mento do tecido sociocultural.

Os Estados Unidos construíram uma cerca na fronteira com o México e as marinhas de alguns países europeus agora policiam a costa do norte da África, para evitar que barcos com clandestinos aportem na margem próspera do Mediterrâneo.

O QUE DISSE VEJA EM 2007
“Até a metade do século, a população mundial tende a parar de crescer. A concorrência por imigrantes ficará tremendamente acirrada”.

PERSPECTIVA
A ONU estima que, em meados deste século, 46 países, a maioria deles da Europa Ocidental, terão uma população menor que a atual. A tendência, portanto, é que, a despeito de todas as barreiras, aumente o número de pessoas dispostas a cruzar fronteiras em direção à porção mais afluente — e despovoada — do mundo.

(Revista Veja - 10/09/2008)

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