segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ambiente: Expectativa em Cuba pela chegada de Gustav

Por Dalia Acosta, da IPS

Havana, 29/08/2008 – Enquanto a tempestade tropical Fay ainda ameaça os Estados Unidos e a oitava depressão da atual temporada de ciclones nasce com o nome de Hanna, a população do ocidente de Cuba segue com atenção a evolução de Gustav, que já causou pelo menos 22 mortes no Caribe. Esta tempestade tropical, que ontem já começava a afetar o norte da Jamaica com fortes chuvas e rajadas de vento, poderia intensificar-se nas horas seguintes e, segundo previsões especializadas, atingir a categoria de furacão e se fortalecer bastante quando avançar pelas águas do Caribe.

“O calor oceânico, entre 31 e 32 graus, e as condições favoráveis na atmosfera superior” aumentam as probabilidades de Gustav se converter em “um furacão importante”, disse na televisão José Rubiera, chefe do Centro Nacional de Previsão do Instituto de Meteorologia de Cuba. “Há um fortalecimento rápido do sistema”, acrescentou, alertando que, embora as possíveis trajetórias afastem o sistema tropical de Cuba pelo sul, o ocidente desta ilha deve ficar em alerta. “Em 2002 tivemos um sistema semelhante que margeou a Jamaica e depois afetou o ocidente” cubano, recordou. No entanto, Hanna “não representa um perigo” para a maior ilha do Caribe, disse o meteorologista.

Informações de imprensa procedentes da Jamaica indicam que essa ilha vizinha amanheceu ontem paralisada à espera de Gustav, enquanto as maiores expectativas eram em torno da ameaça potencial da tempestade para as instalações petroleiras dos Estados Unidos no golfo do México. A Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) informou que trabalha com as autoridades do país para ajudar as vítimas da tempestade tropical Gustav, que na quarta-feira “provocou fortes ventos, chuvas torrenciais e inundações no sul de seu território”.

Os efetivos da Minustah ajudam a evacuar milhares de pessoas com botes ou caminhões e, segundo o serviço de notícias das Nações Unidas em Cuba, houve preparativos para dar assistência imediata a cerca de três mil famílias nas localidades afetadas. As vítimas fatais nesse país são estimadas em pelo menos 14, número que se soma às mais de 50 pessoas mortas este mês quando tentaram cruzar de carro um rio que transbordou durante a tempestade tropical Fay.

Os danos também são altos na República Dominicana, que compartilha a ilha La Española com o Haiti, onde a Defesa Civil registrou mais de 5.700 refugiados e cerca de mil casas danificadas. Uma família de oito pessoas morreu nesse país devido a um deslizamento de terra. “Gustav pode ficar mais forte e chegar a categoria de furacão e ganhando maior intensidade em sua trajetória sobre o mar do Caribe ocidental, ao sul de Cuba, nesta sexta-feira”, afirma a última previsão divulgada pelo Instituto de Meteorologia de Cuba.

Segundo o Aviso de Ciclone Tropical nº 5, divulgado ao meio-dia de ontem, Gustav tem ventos máximos de 110 km/h, com rajadas superiores, e sua pressão mínima caiu para 983 hectopascais, um indicador de sua intensificação. Como sempre nestes casos, uma equipe da televisão estatal se dirigiu à sede do Instituto, no povoado de Casa Blanca, em Havana, de onde os especialistas desse órgão mantêm a população informada sobre a evolução do ciclone tropical e as possíveis trajetórias.

No entanto,o Estado Maior da Defesa Civil manteve a fase de alerta de ciclone para cinco províncias orientais e decretou a fase informativa para as ocidentais de Havana, em Ciudad de Havana, Pinar del Rio e Ilha da Juventude, ao sul de Cuba. As medidas preventivas, tomadas rapidamente no oriente cubano, agora se traslada para o ocidente da ilha. Apesar da distância ainda do sistema, que pode chegar a esta zona no final de semana, Havana amanheceu nublada e com chuvas isoladas.

“Nos últimos dias choveu quase todas as tardes e sempre minha casa inunda”, disse à IPS Vigen Gómez, moradora de uma casa velha multifamiliar na zona central do Vedade. “Cada vez que vem um ciclone dizem que devo sair, mas não deixo minha casa por nada”, acrescentou a mulher de 58 anos, com 2,2 milhões de habitantes, a capital cubana recebe cada ciclone com a agonia de seus moradores que temem o impacto que possam ter em suas casas as fortes rajadas de vento, as chuvas intensas e as invasões do mar, nas zonas costeiras da cidade.

Além da capital, o ciclone poderia afetar a província ocidental de Pinar del Rio, território que conta com as mais importantes plantações de tabaco de Cuba e grandes reservas naturais do sistema cubano de áreas protegidas, com a da Sierra del Rosario e a Península de Guanacahabides. O alerta de chuvas que acompanham Gustav se mantém no oriente da ilha, onde a Defesa Civil aplicou as medidas preventivas previstas para estes casos, que incluem evacuação da população em situação vulnerável. Também foram protegidos recursos os econômicos de cada território.

Só em Santiago de Cuba, a 700 quilômetros de Havana, foram evacuadas 31.140 pessoas e cerca de 16 mil animais foram levados para locais seguros, segundo a televisão da província. Medidas especiais de proteção foram tomadas também na baía de Santiago para evitar perdas econômicas. Mas, o Conselho de Defesa da província de Guantânamo informou sobre a evacuação de 984pessoas para casas de parentes e vizinhos, o traslado de mais de 11 mil animais e 31 equipamentos de irrigação, bem com a colheita de alimentos prontos para consumo da população.

Em Holguín, o membro do Comitê Político do Partido Comunista de Cuba e presidente do Conselho de Defesa Provincial, Miguel Díaz Canell, orientou a evacuação de mais de 1.500 pessoas, moradoras em zonas baixas com risco de inundações e penetrações da água do mar, segundo a versão digital do jornal local Ahora. Ao meio-dia de ontem, já havia registros de chuvas em várias províncias orientais do país que poderiam causar danos maiores, principalmente nas montanhas e zonas costeiras. “Amanheceu tranqüilo, mas o tempo começa a mudar e temos chuva”, disse à IPS por telefone Aberlardo Jiménez, morador em Santiago de Cuba.

A zona oriental da ilha ainda pode esperar “chuvas fortes e localmente intensas, que afetarão sobretudo as regiões montanhosas e a costa sul. Também pode-se esperar inundações costeiras”, afirmou Rubiera, reiterando o chamado da Defesa Civil à população para se manter informada. Algo semelhante aconteceu em meados deste mês com a tempestade tropical Fay, que em sua passagem por Cuba isolou vários povoados montanhosos e causou a cheia de um rio na comunidade de Falcón, no centro da ilha. Cerca de 200 casas foram danificadas penas nessa localidade devido às chuvas. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/IPS)

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