quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Mercado de carbono está reduzindo ou apenas se aquecendo?

O fracasso da Rodada de Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC) para abertura do comércio global afeta o sistema internacional de negociações de forma a tornar ainda mais remota a possibilidade de acordos sobre o aquecimento global e a proliferação nuclear. A falta de consenso entre os cerca de 35 ministros reunidos em Genebra até esta terça-feira mostra como é difícil conciliar as visões de países ricos com as de nações em desenvolvimento.

"Se não conseguimos nem administrar o comércio, como vamos nos encontrar em posição de lidar com novos desafios, como as mudanças climáticas", questiona a comissária de Agricultura da União Européia, Mariann Fischer Boel. "É um fracasso com consequências mais amplas do que as jamais vistas".

As preocupações aumentam quando se pensa que os mesmos países precisarão definir até o ano que vem um tratado climático que substitua o Protocolo de Quioto. Assim como os acordos comerciais, os pactos climáticos precisam ser adotados por consenso, o que se mostrou impossível entre os 153 países da OMC.


Dessa forma, o fracasso de Genebra pode ser um mau presságio para a reunião do final de 2009 em Copenhague e também para os esforços contra a proliferação nuclear, especificamente no caso do Irã, acreditam analistas.

"Isso vai minar enormemente a confiança na boa-vontade multilateral", entende Mark Halle, do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável. "Ninguém acredita que podemos conseguir um tratado climático sem superar a profunda desconfiança no mundo em desenvolvimento".


E foram justamente as divergências entre os Estados Unidos e os grandes países emergentes que fez com que a Rodada de Doha, lançada em 2001 com o objetivo declarado de ajudar os países pobres por meio do comércio, fracassasse. Os principais entraves à conclusão das negociações sempre foram o fim dos subsídios agrícolas nos EUA e a redução generalizada de tarifas agrícolas e industriais de importação. Desta vez, a Índia defendeu um mecanismo de salvaguardas para proteger pequenos agricultores de países em desenvolvimento contra surtos de importação. Como não houve acordo, as discussões foram encerradas.

Diferentemente do Protocolo de Quioto, que exige reduções de emissões apenas por parte dos países desenvolvidos; o próximo acordo do clima deverá prever cortes também para grandes nações em desenvolvimento. Questão que não abriga nenhum consenso até hoje.


"Será extremamente difícil (para os países em desenvolvimento) reconstruir sua confiança no sistema multilateral com relação ao desejo dos ricos de fazerem qualquer coisa", afirma Halle.

A ascensão de grandes países emergentes, como Brasil, China e Índia, desde o início da Rodada Doha, também vai mudar a dinâmica das negociações climáticas, acredita Bruce Stokes, pesquisador do Fundo Marshall dos EUA na Alemanha. "Certamente a Índia em particular será um ator-chave em Copenhague", diz. "As objeções de última hora da China ao acordo de Doha salientam sua influência, que evidentemente será ainda maior".


A Índia resiste particularmente a qualquer exigência de redução de emissões de carbono, e sua posição firme na disputa contra os EUA em Genebra sugere que Nova Délhi terá também pouca flexibilidade nas discussões climáticas.

Brasil


As negociações para se tentar um acordo global sobre o etanol também foram paralisadas com o fracasso da Rodada de Doha. Agora o Brasil deverá realizar um consulta na OMC sobre as tarifas para a exportação do produto cobradas pelos EUA. Este é o primeiro passo para que se faça uma queixa formal de solução de controvérsias, meio pelo qual o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pretende resolver o problema.

Atualmente é cobrada uma taxa de 54 centavos de dólar por cada galão de álcool brasileiro que entra nos EUA, além da tarifa regular de importação de 2,5% sobre valor do produto. Esse pagamento é considerado pelo setor privado uma forma disfarçada de os americanos protegerem os seus produtores menos competitivos da concorrência.


* Com informações da Reuters Interactive
(Envolverde/Carbono Brasil)

Nenhum comentário: