sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Atividade carvoeira ilegal provoca desertificação no Nordeste, diz Minc

Por Mariana Jungmann, da Agência Brasil

Brasília - No sertão de Pernambuco, as árvores estão sendo queimadas e a caatinga está virando deserto. Essa foi a justificativa apresentada nessa quarta-feira (27) pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para a derrubada de fornos de carvão promovida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Operação Vesúvio.

No primeiro dia da operação, 69 fornos de carvão foram destruídos na fazenda Carnaúba, em Serra Talhada, a 400 quilômetros de Recife. O objetivo da iniciativa - que conta ainda com o reforço da Polícia Militar do estado, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal - é destruir mais 200 fornos, nos próximos 3 dias.

O Ibama estima que existam pelo menos 800 fornos ilegais em funcionamento no polígono formado pelos municípios de Serra Talhada, Ibimirim, Salgueiro e Custódia. Os outros 600 carvoeiros estariam escondidos entre galhos, no meio da mata.

"Acabou a moleza. A caatinga não vai virar carvão e o Nordeste não vai virar deserto”, afirmou o ministro referindo-se também aos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão.

Segundo Minc, nesses estados nordestinos, o processo de desertificação está avançado e já atinge cerca de 10 milhões de hectares. Uma das vilãs desse processo, disse o ministro, são as carvoarias ilegais, que queimam as árvores nativas sem fazer o manejo adequado.

O produto apreendido hoje seria destinado a siderúrgicas em Minas Gerais e Espírito Santo. Só na fazenda Carnaúba, cerca 750 sacos, de 50 quilos de carvão, eram retirados de cada um dos fornos. Cada fornada consumia de 15 a 20 árvores e os fornos precisavam ser reabastecidos a cada dois dias.

“A atividade é toda ilegal. Desde a extração de árvores nativas, como a ingazeira e a angica, passando pela transformação em carvão sem licença, e, por fim, no transporte que utilizava notas frias”, relatou o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel.

Com o saco de carvão estimado em R$ 6,50, calcula-se que o lucro da fazenda passe dos R$ 300 mil por mês. A equipe da Operação Vesúvio constatou ainda que os carvoeiros não pagavam os direitos trabalhistas de seus empregados. Os 20 trabalhadores da fazenda fiscalizada recebiam só o valor das diárias (de R$ 10 a R$ 15), não tinham carteira assinada e trabalhavam em condições insalubres.

Mesmo com essas constatações, Francisco Assis, responsável pela carvoaria no momento da operação, garante que não empregava crianças e negou que os empregados estivessem submetidos a condições semelhantes à escravidão. “Nóis é tudo liberto”, afirmou, contando que coordenava trabalhadores de oito carvoeiros e recebia o mesmo valor que os outros.

O funcionário assinou as notificações e recebeu a explicação do ministro de que seria detido para prestar depoimento. “Eu tô assinando com muita parcimônia, mas eu não sou o responsável”, disse.

Nenhum dos donos da fazenda apareceu para se responsabilizar pelas irregularidades durante a Operação Vesúvio. Eles serão multados em R$ 200 mil, devem responder criminalmente e serão obrigados a restaurar o dobro da área desmatada.


(Envolverde/Agência Brasil)

Nenhum comentário: