quinta-feira, 10 de abril de 2008

Países devem aumentar metas para conter desastre climático


Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil

Ao pesquisar amostras nucleares do fundo do mar, cientistas descobriram que as metas atuais adotadas por países desenvolvidos para reduzir as emissões de carbono estão muito abaixo das necessárias para se evitar um desastre climático.

O chefe do Instituto de Estudos Espaciais Goddard da Nasa em Nova York, James Hansen, e sua equipe utilizaram-se de evidências da história da Terra para obter um cenário mais preciso da sensibilidade do clima. Hansen diz que o resultado dos seus estudos é mais confiável do que o dos realizados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (fundamentados em modelos teóricos).

Com base nas amostras nucleares tiradas do fundo oceano, os cientistas traçaram os níveis de CO2 por milhares de anos e verificaram que há 35 milhões de anos, durante a Era Glacial em que o planeta começou a se esfriar, a concentração de CO2 na atmosfera era de 450 ppm.

A partir dessa informação, Hansen conclui que a meta atual de corte de emissões na União Européia – a mais restrita do mundo, que visa estabilizar as emissões em 550 partes por milhão (ppm) - é insuficiente para conter o avanço das mudanças climáticas. Ele sugere que seja alterada para 350ppm para que o planeta seja preservado.

“As emissões de CO2 na atmosfera já alcançaram um nível perigoso de 385 partículas por milhão, o que representa um ponto crítico", explica.

A pesquisa revela que, com níveis tão altos quanto 550ppm, a Terra se aqueceria 6ºC. Estimativas anteriores acreditavam que o aquecimento seria de apenas 3ºC.

"Se nós ficarmos a 450ppm por tempo suficiente, o aquecimento provavelmente derreterá todo o gelo - o que irá gerar uma elevação de 75 metros no nível do mar. O que nós descobrimos é que a meta que todos nós temos buscado está fadada a levar-nos a um desastre - um desastre garantido", enfatiza.

O trabalho também contou com evidências recentes que mostram o efeito do chamado mecanismo de feedback – como no processo em que o derretimento das capas de gelo são substituídas pelo oceano e reduzem o efeito albedo, o que significa mais calor absorvido e a retirada mais rápida do gelo.

Com a redução do gelo, compõem-se o efeito de aquecimento. Tecnologias de satélite mostraram que nos últimos três anos as camadas de gelo estão derretendo mais rápido do que o esperado, com grandes perdas de massa principalmente na Groelândia e na região Oeste da Antártica.

Hansen diz que agora considera “implausível” a visão de muitos cientistas de que o derretimento das camadas de gelo levaria milhares de anos para ocorrer. “Se continuarmos no mesmo ritmo, eu não vejo como o Oeste da Antártica sobreviverá mais de um século. Nós estamos falando do aumento do nível do mar em pelo menos alguns metros ainda neste século”.

Histórico

Desde que os primeiros estudos supondo o aquecimento da Terra começaram a ser publicados, entre as décadas de 1960 e 1970, Hansen se mostrou intrigado com a possibilidade de os humanos anularem a natureza e forçarem um aquecimento global.

“Há mais de um século sabe-se que o aumento do CO2 poderia provocar um efeito na temperatura global”, afirma o cientista ao lembrar dos trabalhos pioneiros na área, datados do século 19. Mas um aquecimento global em um futuro próximo é outra questão.

As primeiras experiências de Hansen na área iniciaram com um modelo climático para simular como as mudanças na atmosfera alteram a temperatura média da Terra. Ele avaliou o acúmulo de gases do efeito estufa produzidos pelo homem (exceto CO2) para ver se o efeito no clima poderia ser sentido globalmente. Surpreso, descobriu que o aquecimento provocado por todos esses gases juntos é comparável ao efeito de aquecimento do CO2.

Hansen também estudou o período em que Terra apresentou um resfriamento, entre 1940 e 1970, e concluiu que o fenômeno era atribuído tanto a causas naturais, como a ocorrência de vulcões e a atividade solar; quanto a um fator humano: o uso de aerossóis.

Enquanto os gases causadores do efeito estufa forçavam o clima na direção do aquecimento, os aerossóis (produzidos em larga escala depois da Segunda Guerra Mundial) causavam um resfriamento, porque as suas partículas liberadas no ar absorviam a luz solar.

Ao se provar os malefícios dos aerossóis para a saúde das pessoas, para a agricultura e para os recursos naturais, a população passou a rechaçar o uso desses produtos. Enquanto isso, a queima de combustíveis fósseis cresceu em ritmos acelerado, principalmente com a expansão da indústria do petróleo. Assim chegamos ao ponto atual de aquecimento do planeta.

“Eu acredito que a necessidade de uma ação para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa é urgente, principalmente porque estamos prestes a alcançar o ponto de não-retorno”, avalia. “As evidências mostram com uma clareza razoável que um acréscimo de 1oC no aquecimento global poderá nos deixar em um território muito perigoso”, conclui.


(Envolverde/Carbono Brasil)

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