quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Não há biocombustível sustentável, diz colunista do 'Guardian'

"Não há biocombustível sustentável, a não ser óleo de cozinha usado", afirma o colunista George Monbiot em artigo publicado no diário britânico The Guardian, nesta terça-feira (12).

Segundo o colunista, os governos, que "não dão ouvidos nem aos geólogos, nem aos ambientalistas", dificilmente poderão "ignorar os capitalistas", citando um relatório publicado pelo Citibank na semana passada, que afirma que será difícil aumentar a produção de petróleo, particularmente a partir de 2012.

O relatório, segundo Monbiot, diz que apesar das novas perfurações já planejadas para os próximos anos, "existe o medo de que a maior parte desta produção não será suficiente para contrabalançar os altos níveis de declínio da produção atual".

Segundo Monbiot, o governo britânico não parece ter nenhum "plano B" para lidar com a falta de combustível, ao contrário da Comissão Européia, que teria um plano "desastroso".

"A Comissão reconhece que 'a dependência do petróleo do setor de transporte... é um dos problemas mais sérios de insegurança nos suprimentos de energia enfrentados pela União Européia'. Em parte para diversificar os suprimentos de combustível, em parte para cortar as emissões dos gases causadores de efeito estufa, ela ordenou os Estados membros a garantir que até 2020 10% do petróleo queimado por nossos carros terão que ser substituídos por biocombustíveis", diz Monbiot.

Para o colunista, isso não vai resolver a falta de petróleo e poderá criar outros problemas ainda maiores na área ambiental.

Monbiot diz que a própria Comissão Européia já impôs regras afirmando que eles não deverão ser produzidos a partir da destruição de florestas ou outros habitats, já que isso poderia aumentar ainda mais a emissão de gás carbônico.

A Comissão também exige que as culturas de matérias-primas para os biocombustíveis não destruam a biodiversidade de ecossistemas.

"Parece bom, mas há três problemas. Se os biocombustíveis não puderem ser produzidos em habitats virgens, eles precisam ser confinados às terras cultivadas já existentes, o que significa que toda vez que enchermos o tanque do carro, estaremos tirando comida da boca de outras pessoas.

"Isso, por sua vez, aumenta o preço dos alimentos, o que encoraja os fazendeiros a destruir habitats virgens para plantar."

Segundo o autor, o terceiro problema é o "custo de carbono" - extremamente alto - da produção de biocombustíveis, descrito recentemente em dois novos relatórios.

"Mesmo a fonte mais produtiva (de biocombustível), a cana-de-açúcar plantada nas savanas do centro do Brasil, cria um débito de carbono de 17 anos. Como os maiores cortes nas emissões de gás carbônico têm que ser feitos agora, o efeito líquido desta cultura é exacerbar as mudanças climáticas."

Para Monbiot, a única maneira de evitar esses problemas é usando restos de cultivos como matéria-prima para os biocombustíveis, mas mesmo isso também não seria uma solução, já que esses restos são essenciais na manutenção da terra agrícola.

"Tirando a gordura usada para fritar batatas, não existe algo como um biocombustível sustentável", afirma o colunista.

"Todas essas soluções apresentadas foram criadas para evitar uma mais simples: reduzir o consumo de combustível para transporte. Mas essa exige o uso de uma commodity diferente. Os suprimentos globais de coragem política parecem, infelizmente, ter alcançado seu ápice há algum tempo." (Estadão Online)

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