sábado, 16 de fevereiro de 2008

'Ambientalista cético': Combater aquecimento não compensa

Daniel Gallas
De São Paulo

Em 2001, quando o painel da ONU que estuda mudanças climáticas (IPCC, na sigla em inglês) lançou seu terceiro relatório, um livro publicado por um cientista dinamarquês causou polêmica ao dizer que a questão do aquecimento global estava sendo exagerada.

Em O ambientalista cético, Bjorn Lomborg argumenta que iniciativas como o Protocolo de Kyoto e esforços de redução das emissões de carbono podem até ser eficientes para combater o aquecimento global, mas que eles trariam poucos benefícios a alto custo.



Segundo ele, outras prioridades – como combate à aids e redução da pobreza – poderiam ter um efeito mais desejado no bem-estar geral e até no meio ambiente.

Seis anos depois, depois de muita polêmica e até um processo na Dinamarca, o movimento dos “ambientalistas céticos” cresceu, recebendo adesões de vencedores do prêmios Nobel.

Em 2004, Lomborg formou o Consenso de Copenhagen – grupo que propõe priorizar outras questões econômicas acima do combate ao meio ambiente.

Neste ano, enquanto escreve a continuação de O ambientalista cético, Lomborg pretende trazer suas idéias para a América Latina, para formar a Consulta de São José, na Costa Rica, uma versão regionalizada do Consenso de Copenhagen.

Lomborg conversou por telefone com a BBC Brasil sobre aquecimento global.

BBC Brasil - Em seu livro, publicado há alguns anos, você diz que o problema do aquecimento global estava sendo exagerado no debate global. Isso ainda é verdade hoje?

Lomborg - Mudança climática não é o único problema no mundo. O que podemos fazer contra mudanças climáticas trará benefícios relativamente baixos a custos relativamente altos.

Estou perguntando: essa é a forma correta de ajudar o mundo? Minha resposta é, em grande medida, não. Mudança climática é algo que precisamos consertar, mas é um problema de longo prazo, e certamente não é o problema mais importante do mundo.

BBC Brasil - Em 2004, o Consenso de Copenhagen classificou os problemas econômicos do mundo em diferentes categorias. Mudanças globais foram classificadas como prioridade “muito baixa”. Isso ainda é verdade?

Lomborg - Sim. O principal a ser dito sobre isso é que o painel da ONU sobre mudanças climáticas vai repetir as avaliações passadas, apenas com mais certezas.

O que nós (do Consenso de Copenhagen) estamos dizendo é que mesmo que todos, incluindo os Estados Unidos, assinassem o Protocolo de Kyoto, isso mudaria virtualmente nada daqui a cem anos. Isso adiaria o aquecimento global em cerca de cinco anos.

E o custo disso seria de US$ 180 bilhão por ano. Isso não é muito bom. É um preço muito alto. É isso que o Consenso tem tentado mostrar: que com todo esse dinheiro é possível fazer o bem em outras partes do mundo.

BBC Brasil - Nos Estados Unidos, o consenso geral tem sido oposto. As preocupações ambientais estão se espalhando por diversas correntes. O democrata Al Gore lançou um filme e um livro sobre preocupações com o meio ambiente e até mesmo o presidente americano citou as mudanças climáticas em seu discurso no Congresso. Eles estão todos errados?

Lomborg - O problema é ter muitas pessoas se preocupando demais apenas com um assunto. Se você se preocupa demais com um assunto, você deixa de se ocupar com outros problemas.

Estou feliz que muitas pessoas nos Estados Unidos se preocupam tanto com o resto do mundo. Só fico um pouco triste de ver que eles se preocupam com o mundo de uma forma tão particular que estão determinados a fazer pouco bem a um custo muito alto. Eles poderiam fazer muito mais, com baixos custos.

BBC Brasil - Qual é sua opinião sobre o filme e o livro de Al Gore, 'Uma verdade inconveniente'?

Lomborg - É muito alarmista. Pega apenas as piores previsões possíveis e conta histórias de aterrorizar. Só leva as pessoas a imaginarem que esse é um problema muito mais grave do que ele realmente é.

BBC Brasil - Na sua avaliação, então, as Nações Unidas deveriam abandonar o esforço de coordenar medidas globais de combate às mudanças climáticas?

Lomborg - Não. É bom que tenhamos o IPCC. Pesquisa não custa muito dinheiro. Mas deveríamos estar mais preocupados em fazer com que as Metas do Milênio sejam concretizadas, em vez de se ocupar com emissões de carbono. Isso trará muito mais benefícios com custo muito menor.

BBC Brasil - As prioridades de hoje ainda são o combate ao HIV e a liberalização do comércio?

Lomborg - Pretendemos continuar discutindo essas questões e revisar o Consenso de Copenhagen a cada quatro anos. Vamos refazer o Consenso no ano que vem, em 2008, onde atualizaremos todas essas prioridades. Vamos discutir: há novas informações? Há alterações, tanto em mudanças climáticas.

Também haverá uma reunião do grupo em São José (Costa Rica), chamado Consulta de São José, em conjunto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em outubro deste ano. Teremos especialistas da América Latina discutindo quais são os principais problemas na região. Esses especialistas vão analisar: “o que podemos fazer na América Latina com recursos limitados?”.

(BBC Brasil)

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