segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Cientista premiado defende reforço nas ações para adaptação às mudanças climáticas

O Prêmio Nobel da Paz, divulgado esta semana, destacou o trabalho do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU). Formado por cerca de 3 mil pesquisadores de diversos países, o painel possui nove representantes de instituições sediadas no Brasil.

O pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre faz parte desse grupo. "Participamos diretamente da elaboração do relatório sobre mudanças climáticas divulgado este ano", lembra Nobre, para quem o trabalho no Brasil teve um retorno imediato e um efeito multiplicador.

"O grau de consciência da população sobre essa questão das mudanças climáticas hoje é muito maior do que há alguns anos e muito disso tem a ver com o trabalho do painel. É isso que tem ajudado a dar credibilidade ao fato de que as mudanças climáticas são algo real, preocupante.”

Para o pesquisador do Inpe, formado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutor em Meteorologia, o Brasil ainda reluta em tomar medidas na área de adaptação às mudanças climáticas. Essas medidas aumentariam a capacidade das populações mais vulneráveis de conviver com um clima diferente e a sobreviver aos desastres naturais, como secas prolongadas e inundações.

"É mais tarde do que nós imaginávamos. Em outras palavras, as mudanças climáticas já se tornaram irreversíveis numa grande medida", alerta Nobre. "É obrigatório que todos os países, principalmente os países em desenvolvimento, tenham uma agenda muito forte em adaptação à mudanças climáticas. E essa agenda política de adaptação o Brasil demorou muito mais. Ainda reluta um pouco, mas, finalmente, fala desse assunto.”

No que diz respeito à redução nas emissores dos gases causadores do efeito estufa, o pesquisador do Inpe acredita que o Brasil pode assumir a posição de país mais "limpo" do mundo. Para isso, bastaria reduzir os desmatamentos na Amazônia e no Cerrado a índices próximos a zero.

"O Brasil é um dos poucos países que estão numa posição única, que são os países que tem muita eletricidade que vem da água, das hidrelétricas. Tem o maior programa de combustíveis renováveis do planeta, que é o etanol", destaca Carlos Nobre.

O cientista também atua na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e preside o Comitê Científico do International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). "Estamos numa situação invejável de se tornar o país mais limpo do mundo. E certamente, um modelo ao mundo em desenvolvimento de aproveitamento de energias renováveis.”
(Fonte: Paula Laboissière / Agência Brasil)

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