sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Petrolíferas tradicionais perdem espaço para as emergentes

A geopolítica do petróleo está sofrendo uma profunda transformação e as tradicionais empresas dos países ricos que por décadas dominaram a produção mundial estão sendo obrigadas hoje a concorrer de uma forma cada vez mais acirrada com companhias dos países emergentes, como CNOOC e Sinopec (da China), Lukoil (Rússia), Petronas (Malásia) e Petrobras.

A análise é da ONU - Organização das Nações Unidas, que em um estudo publicado nesta quinta-feira, 27, aponta que a alta no preço do barril está fazendo com que vários países emergentes que contam com reservas estejam se aproveitando do momento para modificar suas leis, fazer novas exigências e cobrar altos impostos sobre as companhias estrangeiras.

Segundo o levantamento, a realidade é que o espaço de atuação das grandes multinacionais dos países ricos está diminuindo no setor do petróleo. Com o barril acima de US$ 70,00, e com grande parte das reservas em países emergentes, o poder de barganha dessas companhias está sendo minado.

De acordo com a ONU, os países ricos ainda consomem mais da metade da produção de petróleo e gás no mundo. Mas apenas um quarto dessa produção está nas economias desenvolvidas. O desequilíbrio ainda fica evidente quando se trata de reservas existentes de gás e petróleo. Menos de 8% delas estão nos países desenvolvidos. Das 25 maiores reservas, 21 estão em países emergentes ou em transição.

Nessa lista, elaborada em 2005, o Brasil está na 18ª colocação. A lista é liderada pela Rússia, Arábia Saudita e Irã. A Venezuela é a sexta colocada.

Ritmo - Outro fator que a ONU destaca para demonstrar o desequilíbrio no cenário internacional é o fato de que a exploração das reservas nos países ricos está ocorrendo a um ritmo dez vezes superior ao das reservas nos países emergentes. "Isso significa que os países industrializados terão de depender cada vez mais no petróleo e gás importado dos países em desenvolvimento", afirma o estudo.

Para a ONU, os países ricos terão de se acostumar com um cenário cada vez mais complexo no que se refere ao acesso às reservas energéticas.

Barreiras se proliferam em alguns mercados, enquanto questões políticas impedem o acesso aos campos no Sudão e Irã, pelo menos para as empresas americanas.

As Nações Unidas citam tanto o caso da Bolívia como da Venezuela como exemplos dessas novas dificuldades. La Paz, com sua nova lei de 2006, transferiu o controle dos recursos ao Estado e exigiu novas negociações sobre os royalties. Em Caracas, o governo modificou as regras para reduzir os lucros das empresas estrangeiras e aumentar os recursos que entram para o Estado.

Medidas similares foram tomadas na Rússia, com renegociação de contratos e limites para atuação de empresas estrangeiras.

Para completar o cenário, uma série de empresas de países emergentes já compete de igual para igual com as grandes companhias.

Algumas, como as chinesas, e mesmo a Petrobras, já estão entre as maiores investidoras em vários mercados. "Essas empresas hoje operam lado a lado com as tradicionais multinacionais de países desenvolvidos. Suas capacidades administrativas e tecnológicas estão progredindo rapidamente", afirma a ONU.

"Estamos observando o surgimento de uma economia mais diversificada e complexa", afirmou o secretário-geral da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento, Supachai Panitchpakdi. (Estadão Online)

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