Aumento do nível do mar, derretimento das geleiras, chuvas intensas, furacões: diante das graves conseqüências de um planeta cada dia mais quente, torna-se urgente adaptar, e até reinventar, o desenvolvimento urbano, alertam especialistas em recursos hídricos.
Com cerca de 80% da população mundial vivendo a menos de 50 km de distância da costa, o Instituto Internacional da Água (Siwi), em Estocolmo, lembra que "um dos vários efeitos provocados pelas mudanças climáticas é o aumento do nível do mar".
"Deveríamos insistir de verdade no fato de que a dimensão climática deve ser levada em consideração no planejamento urbano; deveríamos elaborar mapas de vulnerabilidade, desenvolver programas de ação", disse à AFP Johan Kuylenstierna, diretor da Semana Mundial da Água, que ocorreu de 12 a 18 de agosto.
O congresso anual chegou à sua 17ª edição e reuniu em Estocolmo cerca de 2.500 especialistas em recursos hídricos vindos dos cinco continentes. As mudanças climáticas ocupam o lugar de destaque na agenda deste ano.
"A gestão da água é uma ferramenta importante para enfrentar as mudanças climáticas. Administrando corretamente a água, nos preparamos corretamente para as mudanças climáticas", resumiu Kuylenstierna.
Segundo o diretor da conferência, o homem assiste hoje ao dobro do crescimento da população mundial e do aquecimento do planeta. "Por exemplo, há cem anos, Bangladesh tinha uma quarta parte de sua população atual. Se acontecia uma inundação, os efeitos eram bem menores do que hoje. A isso se somam agora as mudanças climáticas."
Enchentes na Índia, Nepal e Bangladesh já deixaram milhões de desabrigados e 1.900 mortos desde junho.
Segundo o Siwi, "as mudanças climáticas, aliada a uma população que continua aumentando e à expansão dos centros urbanos, é uma receita para catástrofes". "As cidades costeiras podem ficar ameaçadas se medidas para adaptação não forem tomadas agora", afirma o instituto.
Segundo Kuylenstierna, uma das medidas poderia ser "deslocar as populações que vivem (...) perto de rios e do mar". "São regiões muito atraentes, mas talvez tenhamos de aceitar que não se pode lutar contra a natureza sempre", completou.
Hábitos - Kuylenstierna comemorou o fato de algumas companhias de seguros nos Estados Unidos terem advertido seus clientes de que não fazem mais apólices de construções erguidas em áreas consideradas de risco. É evidente que, diante das dificuldades de mudar os hábitos de cidadãos e autoridades, o dinheiro e a pressão econômica são argumentos convincentes, observou.
Para Sunita Narain, diretora do Centro para a Ciência e o Meio Ambiente da Índia, seu país está em pleno processo de urbanização e passa por um "boom" da construção civil nas cidades - uma oportunidade para desenvolver alternativas que amenizariam os efeitos das mudanças climáticas e inventar "novos modelos" de cidades, considera a influente especialista.
"As mudanças climáticas significam que cada vez haverá mais acontecimentos imprevisíveis, cada vez mais inundações. Temos de planejar uma gestão da água, para onde ela irá", explicou Narain, destacando que até hoje a construção das cidades gira em torno dos edifícios, sem levar em conta a questão dos recursos hídricos.
"Temos de fazer cidades mais resistentes às mudanças climáticas", insistiu. A especialista destacou ainda a importância de se tomar medidas, principalmente no setor dos transportes, para combater o aquecimento global e reduzir as emissões de CO2.
Folha Online
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