quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Cientistas comparam mudança climática à ameaça da Guerra Fria

As mudanças climáticas representam o maior problema de segurança enfrentado pelo mundo desde a Guerra Fria, mas as pessoas não perceberam ainda os riscos envolvidos no fenômeno e nem parecem dispostas a adotar soluções fáceis como economizar energia dentro de casa, afirmaram especialistas na terça-feira (21).

"Ainda não nos demos conta da escala do que precisamos fazer", afirmou o embaixador britânico para a área de mudanças climáticas, John Ashton, em um seminário do qual participaram 40 cientistas e autoridades de 13 países. O encontro aconteceu em Ny Alesund, Noruega, a cerca de 1.200 quilômetros do Pólo Norte.

Segundo Ashton, o aquecimento global deveria ser reavaliado como um problema de segurança, tais como uma guerra ou o terrorismo, a fim de ajudar a mobilizar apoio para uma ação mundial mais eficiente capaz de diminuir as emissões de gases do efeito estufa liberados na queima de combustíveis fósseis.

"A Guerra Fria apresentou o último grande problema enfrentado pelo mundo em tantas frentes simultâneas - econômica, política, industrial", afirmou.

Outros especialistas presentes no encontro, realizado em uma base de pesquisa do Ártico, também disseram haver uma preocupação excessiva com os custos envolvidos no corte dos gases do efeito estufa, e nem tanto com a elevação do nível dos mares ou com o agravamento das secas e das enchentes, segundo projeções da ONU - Organização das Nações Unidas.

O aquecimento global "deveria ser encarado como um tipo totalmente diferente de desafio em vez de ficarmos apenas nos perguntando quanto custa isso ou aquilo", afirmou Joergen Randers, um importante economista da Noruega. Apresentar o aquecimento global como um problema de segurança mundial poderia facilitar a adoção de medidas contra ele.

A maior parte dos presentes disse que os custos envolvidos no enfrentamento do fenômeno seriam provavelmente administráveis. Um relatório do painel da ONU sobre o clima divulgado neste ano afirmou que mesmo as medidas mais drásticas significariam um prejuízo, até 2030, de apenas 3 por cento do PIB - Produto Interno Bruto mundial.

Mas, segundo os especialistas, seria difícil convencer milhões de indivíduos a poupar no uso de energia ou convencer as empresas a investir em novas tecnologias a fim de que se evite os danos de longo prazo provocados pelo aquecimento.

Reduzir emissões - Para Randers, a forma mais barata de diminuir as emissões de gases do efeito estufa nas regiões de clima mais frio seria fazer com que todos diminuíssem a temperatura dentro das suas casas em 1 grau Celsius e com que usassem blusas de manga comprida caso precisassem esquentar-se.

"Pode-se fazer isso sem que haja diminuição no nível de conforto", disse, acrescentando que a medida poderia ser imposta por uma "polícia do suéter". Outra solução seria cobrar preços para altos dos que desejem aquecer suas casas para além de, por exemplo, 18 graus Celsius.

Os pesquisadores observaram que as pessoas costumam agir sem considerar as consequências de longo prazo de seus atos -- muitos fumam cigarro ou comem excessivamente sem considerar o perigo de contraírem um câncer de pulmão ou de ficarem obesas.

De forma semelhante, a "maior parte das pessoas não considera vantajoso comprar uma lâmpada mais cara e de maior duração", afirmou Nebojsa Nakicenovic, da Universidade de Tecnologia de Viena.

Ainda assim, em algumas áreas, o comportamento das pessoas está mudando.

Estadão Online

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