quinta-feira, 14 de junho de 2007

Neve no Kilimanjaro pode não ser sinal de aquecimento global

Perda do gelo no pico mais alto da África seria culpa da radiação solar, afirma tese


As neves do Kilimanjaro, na Tanzânia, estão diminuindo há mais de um século, mas é provável que o aquecimento global não seja o culpado, afirmaram pesquisadores.

Embora a redução dos glaciares e do gelo no topo das montanhas de latitudes médias - onde vive a maior parte da população - esteja definitivamente ligada às mudanças no clima, não se pode dizer a mesma coisa sobre o Kilimanjaro, escreveram cientistas na edição de julho-agosto da revista American Scientist.

O topo gelado do Kilimanjaro, que deu o título para um conto famoso de Ernest Hemingway, está perdendo o gelo há mais de 100 anos, segundo Philip Mote, da Universidade de Washington, e Georg Kaser, da Universidade de Innsbruck, na Áustria.

A maior parte da redução aconteceu antes de 1953, quase duas décadas antes das primeiras evidências conclusivas sobre o aquecimento atmosférico.

"É certamente possível que a calota tenha ido e vindo muitas vezes, ao longo de centenas de milhares de anos", disse o climatologista Mote, numa declaração.

"Mas, para os glaciares temperados, há amplas evidências de que eles estão diminuindo, em parte por causa do aquecimento decorrente dos gases-estufa."

De acordo com o trabalho, o desaparecimento do gelo do Kilimanjaro é determinado pela radiação solar, já que o ar em torno do topo raramente está acima do ponto de congelamento. Já os glaciares de latitudes médias têm sua redução determinada pelo aquecimento do ar que os cerca.

O Kilimanjaro, um vulcão extinto que fica perto da fronteira da Tanzânia com o Quênia, é o pico mais alto da África, com 5.963 metros de altitude, e atrai números enormes de turistas e alpinistas, por causa de sua vista espetacular.

Os pesquisadores atribuíram a redução no gelo a uma interação complexa entre vários fatores, como o formato vertical da beirada do gelo, que impede sua expansão. A redução na precipitação de neve também influencia.

Boa parte do gelo do Kilimanjaro está desaparecendo por sublimação - quando o gelo, a temperaturas muito baixas, transforma-se direto em vapor, sem passar pela fase líquida -, disseram os cientistas.

O Estadão on line

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