sexta-feira, 1 de junho de 2007

Marina: decisão dos EUA sobre aquecimento é importante, mas não resolve problema

Publicada em 01/06/2007 às 03h13m

Agências internacionais, O Globo
Um ciclista passa em frente a uma fábrica de aço em Shenyang, na China - Planeta

BRASÍLIA/WASHINGTON - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse na quinta-feira que a decisão do presidente americano George W. Bush de reunir os países que mais contribuem para o aquecimento global e propor soluções para o problema é importante, já que os Estados Unidos - país mais poluidor do mundo - tem evitado tomar posições sobre as mudanças climáticas.

Mas, para Marina, a posição americana apenas não resolve o problema, uma vez que "as mudanças climáticas devem ser tratadas no contexto das relações multilaterais". A ministra ressaltou também o dever dos países ricos na luta contra a crise do clima:

- Os países que pertencem ao anexo 1 têm necessariamente que assumir suas responsabilidades - disse Marina, referindo-se ao grupo de países de maior industrialização, que, de acordo com o Protocolo de Kyoto, devem reduzir o nível de emissão de carbono.

O Brasil, por ter industrialização recente, não pertence ao anexo 1 e não é obrigado a cumprir metas. Comprometeu-se apenas em colaborar por meio do incentivo governamental à pesquisa voltada para o controle das emissões de carbono.

Bush quer estabelecer meta até 2008

O presidente dos EUA, George W. Bush, propôs nesta quinta-feira que os 15 países que mais contaminam o planeta se reúnam e determinem até o fim de 2008 uma meta de emissão de gases que produzem o efeito estufa. Pela primeira vez o mandatário reconheceu que a mudança climática é um "desafio sério".

- Os EUA vão trabalhar com outras nações a fim de estabelecer um novo cronograma para as emissões de gás do efeito estufa, para quando o Protocolo de Kyoto expirar, em 2012 - disse Bush.

- Então minha proposta é: até o fim do próximo ano, os EUA e outras nações vão estabelecer uma meta global de longo-prazo para a redução dos gases do efeito estufa. Para desenvolver essa meta, os EUA vão se propor uma série de reuniões de nações que emitem o maior número de gases do efeito estufa, incluindo nações que experimentam rápido crescimento econômico, como Índia e China - acrescentou.

Até o fim do próximo ano, os EUA e outras nações vão estabelecer uma meta global de longo-prazo para a redução dos gases do efeito estufa

A reunião dos maiores emissores de gás do efeito estufa - que produzem um total combinado de 80% das emissões do mundo - deve acontecer nos Estados Unidos, disse uma autoridade do governo de Washington.

Brasil deverá ser convidado

A reunião vai provavelmente incluir os países desenvolvidos do G8, China, Índia, Brasil, Austrália, África do Sul, México, Coréia do Sul e Rússia, de acordo com a autoridade.

O novo plano prevê a eliminação de barreiras tarifárias dentro de seis meses, liberando a distribuição de nova tecnologia ambiental, segundo a Casa Branca. Com isso, acredita o governo americano, os países teriam mais intercâmbio tecnológico nas áreas de energia alternativa, transporte e combustíveis.

O governo dos Estados Unidos rejeitou, ainda, a proposta européia para deter as mudanças climáticas no mundo com limites de emissões de carbono ao estilo do protocolo de Kyoto.

No ano passado, os EUA registraram uma queda nas emissões de dióxido de carbono, o gás mais associado ao aquecimento global. O declínio de 1,3% desde 2005 - o primeiro em 11 anos - deveu-se principalmente à ocorrência de um inverno não tão rigoroso e a um verão mais ameno.

O líder de Washington revelou o plano em um discurso sobre propostas de desenvolvimento internaciona dos EUA às vésperas do encontro de cúpula do G8, que acontecerá na próxima semana em Heiligendamm, na Alemanha, no qual as mudanças climáticas terão papel predominante.

A chanceler alemã, Angela Merkel, que será anfitriã do evento, já propôs que os membros do G8 - grupo que reúne os países mais industrializado mais a Rússia - comprometam-se na reunião entre 6 e 8 de junho a limitar o aumento da temperatura mundial a dois graus centígrados, antes de começar a cair. Para isso, é preciso que em 2050 o volume de emissões de gases como o dióxido de carbono seja a metade do registrado em 1990, segundo especialistas.

No entanto, o principal assessor ambiental de Bush, Jim Connaughton, disse na quinta-feira que esse enfoque não é muito prático e rejeitou a criação de um mercado internacional no qual se possam comprar e vender cotas de emissão de gases poluentes.

Com o novo plano, Bush aparentemente aspira a objetivos menos estritos e quer evitar que só os membros do G8 se comprometam com eles. Isso não agradou as entidades ecologistas.

- O que a Alemanha propõe é muito mais específico do que o plano de Bush. Até mesmo o que a Alemanha sugere não é suficiente. Então, que é que Bush vai propor? - perguntou David Willett, em nome do Sierra Club, a maior organização ambientalista do país.

Pela primeira vez (a América) está determinando seus próprios objetivos domésticos

Saudações da Grã-Bretanha

Após o discurso de Bush, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, saudou a estratégia sobre mudança climática e afirmou que é importante que os EUA tenham dito pela primeira vez que querem fazer parte de um acordo global.

- Pela primeira vez (a América) está determinando seus próprios objetivos domésticos, pela primeira vez está dizendo que quer um objetivo global para a redução de emissões e, portanto, pela primeira vez temos a oportunidade de ter um acordo global apropriado - disse Blair à Sky News durante visita à África do Sul.

Um comentário:

João Soares disse...

Bom dia
Bom e oportuno blog.
Sejam bem-vindos ao meu BioTerra.Também estou a abordar esta temática neste momento.
Abraços a todos, desde Portugal