sexta-feira, 4 de maio de 2007

Conter aquecimento custa 3% do PIB global, diz ONU



RIO - O mundo ainda pode evitar uma catástrofe climática se investir mais em energias renováveis, conservação de florestas e tecnologias que limitem as emissões dos chamados gases-estufa. E isso pode acabar saindo barato.
A conclusão está no último relatório do IPCC, painel da ONU que reúne cerca de 2.000 cientistas que estudam o aquecimento global, seus riscos e as alternativas para evitá-lo.
O estudo, divulgado na madrugada desta sexta-feira, em Bancoc (Tailândia), indica que, para estabilizar as emissões de gás em um nível considerado aceitável, o custo seria uma desaceleração do crescimento mundial de apenas 0,12 ponto percentual ao ano, o que representaria, de forma cumulativa, 3% do PIB global em 2030.
Mas os cientistas deixaram claro que é preciso agir já. Se nada for feito e continuarem os padrões atuais de desmatamento e consumo de petróleo, as emissões de gases que provocam o efeito-estufa podem crescer de 25% a 90% até 2030.
A projeção tem como base o que aconteceu entre 1970 e 2004: uma elevação de nada menos que 70% nas emissões de gases-estufa, principalmente gás carbônico, o maior vilão do aquecimento global. Os maiores incrementos se deram nos setores energético (145%) e de transportes (120%).
Se as emissões nao se estabilizarem até 2030, as conseqüências são as já anunciadas nos outros estudos do IPCC: maior ocorrência de secas, elevação do nível dos mares, migrações massivas, extinções etc.
O IPCC ressalta que o custo de 3% do PIB para evitar a tragédia é uma média, e que algumas regiões terão um custo maior para se adaptar. O estudo não aponta com clareza quem terá de pagar a maior parte da conta, mas não deixa dúvidas sobre a responsabilidade maior dos países ricos pelo aquecimento.
Estados Unidos, Canadá, Japão e países europeus, com cerca de 20% da população mundial, emitem 46% dos gases-estufa.
As conclusões do relatório do IPCC coincidem com as de um estudo do Greenpeace, lançado no início do ano, intitulado "Revolução Energética". A entidade ambientalista defende a tese de que é possível limitar o aquecimento do planeta a 2 graus centígrados - patamar que não causaria tantos estragos - sem afetar o crescimento econômico. A saída proposta é um pesado investimento em energias renováveis, como a solar e a eólica (baseada nos ventos).
IPCC e Greenpeace divergem em um ponto fundamental, porém: o uso da energia nuclear. Segundo o painel da ONU, haveria efeitos benéficos para o clima se a energia nuclear substituísse parte da que hoje é gerada com a queima de óleo ou carvão. Mas o próprio IPCC reconhece que há restrições e riscos associados a esse modelo.
O relatório divulgado hoje não faz referência direta ao etanol, combustível que Estados Unidos e Brasil promovem como alternativa ao petróleo.
O IPCC cita os biocombustíveis como uma das alternativas para reduzir as emissões de carbono, mas de forma genérica. Também aposta em um ganho de produtividade futuro com a eventual viabilizaço comercial da produção de etanol de celulose. Com essa tecnologia, em estudo em diversos países, será possível, em tese, produzir álcool de qualquer planta.
O cenário "pró-clima" do IPCC também aponta como fatores importantes o desenvolvimento de novas tecnologias de seqüestro de carbono, a adoção de padrões arquitetônicos que privilegiem a eficiência energética nas construções, o aprimoramento dos veículos híbridos e elétricos.
Entre as alternativas de menor custo e maior eficiência está a conservação e exploração sustentável de florestas - um setor em que o Brasil pode se destacar. O estudo indica que até 50% da meta de estabilização até 2030 pode ser alcançada com a redução do desmatamento e outras atividades relacionadas, como o reflorestamento e o cultivo de espécies usadas na produção de biocombustíveis.
Jornal do Brasil on line

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