sexta-feira, 4 de maio de 2007

Clima: Brasil se alia à China


Pressão para que países ricos assumam culpa pelo aquecimento global.



BANGCOC e BRASÍLIA - Brasil e a Índia se uniram na quarta-feira à China para exigir mudanças no texto do terceiro relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês), que está em discussão em Bangcoc, na Tailândia. Cientistas e representantes de cerca de 150 países definem, até sexta-feira,as mudanças que terão de ser feitas no fornecimento de energia, nos transportes, habitação, agricultura, indústria e manejo de resíduos para ajudar a combater a mudança climática.

Os três países querem ver incluído no texto final um parágrafo no qual se diz que "se os países com alta taxa de emissão per capita de gases-estufa não reduzirem suas emissões significativamente, será difícil fazer progressos substanciais no combate do aquecimento global". Os países com alta taxa per capita são as nações desenvolvidas. Embora vá se tornar o maior poluidor do mundo até o fim deste ano, a China tem baixa emissão per capita, já que este índice está associado também ao nível de consumo.

- Eles exigem a declaração de que as emissões acumuladas pelos países industrializados são muito elevadas, cerca de 75% do total - disse à revista britânica "New Scientist" um delegado que participa da reunião do IPCC.

Esta semana a China praticamente bloqueou as negociações

ao propor a maioria das 1.500 emendas apresentadas ao sumário do relatório de apenas 24 páginas. O relatório do IPCC não tem valor legal. É um documento científico, mas de grande credibilidade e peso político, já que é fruto do trabalho de mais de 2.000 cientistas e representantes de cerca de 100 países.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse na quarta-feira, em Brasília, que o Brasil tem posições em comum com a China e a Índia sobre a responsabilidade dos países desenvolvidos pelo aquecimento global. O raciocínio é que as economias desenvolvidas poluíram o planeta durante mais de um século e agora devem empreender maiores esforços para recuperar o meio ambiente.

- Os países desenvolvidos não podem abdicar das suas responsabilidades. Nós temos as nossas e vamos cumpri-las - disse Celso Amorim.

Segundo ele, é natural que o Brasil tenha um papel de destaque na discussão de temas ambientais. Ele lembrou que a matriz energética do país não é poluidora, pois tem como principal fonte a energia hidrelétrica.

Pelo Acordo de Kioto, somente os países industrializados têm cotas obrigatórias de redução de emissão de gases do efeito estufa. No entanto, Estados Unidos e União Européia pressionam para que países em desenvolvimento, em especial Brasil, China e Índia, também sejam obrigados a fazer reduções. Enquanto China e Índia têm uma economia em franco crescimento baseada numa matriz energética considerada suja - principalmente carvão - o Brasil é criticado pelas queimadas na Amazônia, que o colocam entre os maiores poluidores do planeta.

O desmatamento é justamente o principal problema brasileiro no que diz respeito a mudanças climáticas. Luiz Pinguelli Rosa, coordenador do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, diz que o próprio Brasil deveria determinar metas de redução de desmatamento:

O Fórum apresentou um pacote de medidas ao governo brasileiro, como uma contribuição ao Plano de Ação Nacional de Enfrentamento das Mudanças Climáticas. E certamente o combate das queimadas é a principal delas.



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