segunda-feira, 19 de março de 2007

Créditos de Carbono vão nos salvar?

19/03/2007
Luis Otto Faber Schmutzler
É engenheiro civil e industrial químico.


Aos poucos percebemos que estamos como num trem em alta velocidade e sem freios, caminhando para um abismo. Na realidade, neste trem está toda a humanidade. O problema é o acúmulo de gás carbônico em nossa atmosfera, que causa o chamado "efeito estufa", que está aumentando a temperatura da terra e dos mares, causando graves perturbações meteorológicas, e o que é mais grave, aumentando o nível dos oceanos devido à expansão térmica das águas, e o derretimento das calotas polares. Neste inverno europeu, em alguns países já não havia neve suficiente para se esquiar. Problema sem importância?

Na tentativa desesperada de se reverter o problema, uma empresa holandesa propõe até instituir uma taxa para quem viaja de avião, de 2 a 3% do valor da passagem, para compensar a emissão de CO2, durante o vôo, para usar o dinheiro em projetos de reflorestamento e de energias alternativas.

Tentativas como esta são pífias, pois a geração de CO2 é gigantesca em cada viagem, e não daria tempo das árvores plantadas consumirem o gás.

A humanidade já queimou bilhões de toneladas de combustíveis fósseis, petróleo, gás natural e carvão mineral, resultando em bilhões de toneladas de gás carbônico, o CO2, que no passado talvez tivesse sido absorvido pelas florestas e pelo fitoplancton marinho, mas que, devido a grande desproporção entre geração do gás e reabsorção, inevitavelmente resulta em uma porcentagem crescente na atmosfera. O que vai acabar primeiro, o petróleo ou o planeta?

Como o assunto agora está atraindo mais a atenção de cientistas e do público em geral, fica claro que algumas pessoas queiram saber o que podem fazer individualmente para diminuir o crescimento do problema.

Parece claro que no futuro as viagens aéreas ficarão muito caras, e os que estão aqui embaixo perguntarão: o que será que está levando aquele avião de tão urgente? Então, muito provavelmente voltarão os Zepelins, que tinham um consumo específico de energia muito menor. O que dizer do gigantesco volume de cargas aéreas, conseqüência da necessidade de aumentar a produtividade da indústria, o que acelera ainda mais o problema de nossa atmosfera? Será interessante observar quanto tempo o modelo econômico atual, devorador de energias, vai agüentar.

Diante deste cenário aterrador para a humanidade, o aquecimento dos oceanos, com a conseqüente expansão térmica da água, enormes áreas hoje habitadas serão inundadas e perdidas para sempre, desalojando muitos milhões de pessoas.

Como conseqüência, atividades humanas recreativas, como as corridas de automóvel, podem ser encaradas como um acinte à humanidade, uma brincadeira de crianças irresponsáveis, visto que não trazem mais nenhum benefício importante para a indústria automobilística, que deveria se concentrar em fazer verdadeiros milagres na redução do consumo de combustíveis geradores de CO2! Vejam também o absurdo das corridas de caminhões!

Quanto combustível fóssil poderia ser economizado para ser gasto em atividades essenciais, como o próprio transporte de alimentos?

Um caso típico também, de cegueira ambientalista, são as dificuldades impostas pelas autoridades ambientais, para aprovar obras como o Rodoanel de São Paulo, cujos congestionamentos nas Marginais produz desnecessariamente toneladas de CO2, e de outros gases poluentes, que são respirados por mais de 10 milhões de pessoas, que mesmo os que não são fumantes, têm seus pulmões agredidos de forma cruel.

É esperar para ver quando a inteligência da humanidade vai começar a funcionar! Não podemos continuar a ser perdulários em termos de energia fóssil!

Antes de se contabilizar créditos de carbono, é necessário contabilizar inteligência e decência na política, o que pode resultar em benefícios reais a mais curto prazo!

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