segunda-feira, 19 de março de 2007

Aquecimento global é um grande negócio

Ronaldo Pereira Santos

Como já sabemos, a mídia nos bombardeou o suficiente sobre o que é o aquecimento global. Em rápidas palavras, nada mais é do que o que todos já sentem na pele: o tempo está cada vez mais quente (ou, contraditoriamente, mais frio) e mais louco (!). Esqueça as demais explicações acadêmicas - o que poupa nosso tempo. Entretanto, após o relatório do IPCC - e ainda que o assunto não seja de interesse geral -, até onde a mídia aprofundou as entrelinhas e interesses escusos do aquecimento? Com pontuais exceções, muito pouco.

Em tempo: não espere neste texto mais tripulante do barco sem condutor empunhando a bandeira de que o aquecimento global é balela, de que não está nada comprovado e bla-bla-blá. Como um bom defensor da ciência moderada, acredito nas provas dadas pelo método científico de que o modo de vida atual causa males ao planeta e ponto. Portanto, não é disso que falaremos aqui. O texto - que não é a descoberta da pólvora - visa, de forma crítica e aberta, a instigar nosso pensamento: afinal, alguém sai ganhando com o alardear sobre o aquecimento do planeta?

Sobe preço do petróleo

Como nada na vida pode ser neutro - especialmente quando se trata de ciência, política ou economia -, claro que alguém sempre lucra (como com qualquer outra coisa que aconteça abaixo dos céus). Assim, tentemos um exercício de listar os principais interessados em alardear que mundo está esquentando. A lista pode ser densa; olhemos para os mais óbvios.

Primeiro, os ambientalistas. Eles, sempre tratados de loucos e alarmistas, agora têm sua vez. lém disso, as organizações ambientais passam a ter mais argumento na hora de captar recursos. Afinal, alguém precisa fazer alguma coisa; nem que seja barulho (muitas fazem mais que isso). Creio que estes ganham de forma justa e pode ser visto como positivo.

Como a queima de combustíveis fósseis é a razão do aquecimento, então produzir energia de outras formas menos-emissoras seria a solução. Se for assim, também seria ótimo mudar a matriz energética com esforço global, pois dividiria gentilmente o bolo da culpa e seria mais facilmente alcançado se a maioria dos interessados estivesse buscando a solução do que alguns poucos.

Aonde chegaríamos então? No curto prazo, à tão temida energia nuclear. Sem ingenuidade na polêmica sobre as armas nucleares, a tecnologia nuclear é dominada por outros poucos que, quando solicitados, podem vender por milhões de dólares equipamentos, tecnologia e assistência técnica por décadas - incluindo o que (não) fazer com os rejeitos (veja a vontade do Japão em ajudar). Ora, não esqueçamos, ainda, que forçar a redução do uso de petróleo implica em aumentar os preços (!) o que interessa - e muito - aos (poucos) vendedores.

Quem paga a conta?

Na mesma linha, se o problema é global, então os países desenvolvidos poderiam contar também com a ajuda dos países em desenvolvimento (e menos poluentes?) com tecnologia ou medidas mais limpas (tais como, o Brasil com biodiesel, álcool, energia eólica etc). Ao mesmo tempo, acenar com a bandeira retórica da redução de desmatamento em florestas tropicais - um dos vilões do carbono atmosférico - ajuda os países desenvolvidos a expurgar sua culpa por terem dizimado suas florestas e, de quebra, os coloca como bons moços por ajudar na preservação das dos outros. Bem verdade que o Protocolo de Kyoto tentou ser justo com quem mais ou menos poluía. Mas essa é outra história.

Falando em Kyoto, um dos instrumentos desse Protocolo foi incentivar projetos agora têm sua vez. Além disso, as organizações ambientais passam a ter mais argumento na hora de captar recursos. Afinal, alguém precisa fazer alguma coisa; nem que seja barulho (muitas fazem mais que isso). Creio que estes ganham de forma justa e pode ser visto como positivo.

Catástrofes anunciadas

E o Brasil, o que tem com isso? Tem, e muito. O país tem interesse econômico direto no aquecimento global, pois seria um dos que mais poderia vender esses projetos (estima-se que o país abocanharia 10% da fatia mundial). Não é pouca coisa, num mercado lucrativo e em crescente expansão. Além disso, o aumento dos gases atmosféricos fortalece o lobby para o uso do etanol, do qual o Brasil é líder mundial, e puxará os debates para a expansão do uso no restante do mundo.

Por fim, as catástrofes anunciadas pelo IPCC (relatório da ONU sobre aquecimento global) vão demandar bilhões de dólares para a economia mundial em ajudas humanitárias, programas de recuperação, perdas agrícolas e aumento nos preços dos alimentos ( The Economist, em inglês), valores dos seguros etc. Enfim, em economia, todo dinheiro que sai de algum bolso pára em outro.

Um valioso ganha-pão

Muitos podem argumentar que pouco interessa para a grande massa o que sai ou não na mídia a respeito do aquecimento global. É um bom argumento, mas maiores reflexões são sempre bem-vindas. Lembremos que o desmatamento em nossas florestas é visto com péssimos olhos no exterior - validando o argumento para o Brasil entrar no trem da alegria dos que precisariam reduzir suas emissões ou pagar a conta.

Em vez disso, o aquecimento pode ser um valioso ganha-pão para os brasileiros em futuro próximo, associando redução do desmatamento com energias limpas. Em outras (e frias?) palavras: para o Brasil, o aquecimento global também é um grande negócio.

Fonte: Edição 424 de 13/3/2007 www.observatoriodaimprensa.com.br

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