terça-feira, 6 de abril de 2010

A Hora do Planeta no Brasil

Por Felipe Lobo, da WWF-Brasil 


Em São Paulo e em todo o Brasil, as velas substituíram as lâmpadas durante a Hora do Planeta.

No dia 27 de março de 1512, o explorador espanhol Juan Ponce de Leon avistou a Flórida, nos Estados Unidos, pela primeira vez. Pouco menos de dois séculos depois, em 1703, o Czar Pedro, o Grande, fundou São Petersburgo (na atual Rússia), a quarta maior cidade europeia. Agora, quando o calendário marca o ano de 2010, em pleno século XXI, a data volta a entrar para a história. Desta vez, no entanto, o motivo está diretamente relacionado à luta contra as mudanças climáticas: um bilhão de pessoas, nos quatro cantos do mundo, apagaram suas luzes no último sábado durante 60 minutos em gesto simbólico para reduzir as emissões de carbono. O Brasil participou em peso da Hora do Planeta, com 98 cidades, sendo 20 capitais.

Em toda a extensão do território nacional, seja nas grandes metrópoles ou municípios modestos, a escuridão falou mais alto do que as tradicionais lâmpadas que iluminam a noite. Pelo menos durante uma hora. Às 21h30, os interruptores giraram novamente, mas desta vez em favor da claridade. Chegava ao fim a edição deste ano do movimento que teve início em 2007, na cidade australiana de Sidney, e aportou no Brasil dois outonos depois. A mensagem que ele passa, porém, está apenas começando.

De norte a sul do país, os monumentos apagados faziam companhia a inúmeras casas que escolheram as velas para demonstrar a disposição em combater o aumento médio na temperatura global e apoiar a conservação de ecossistemas terrestres e aquáticos. Mas as ruas também estavam repletas de adeptos da causa. Em Campo Grande (MS) um grupo com cerca de 30 ciclistas pedalou por dez quilômetros, entre a principal avenida da cidade, Afonso Pena, e a Praça de Esportes Elias Gadia. Com equipamentos de segurança, pisca-alertas e adesivos reflexivos, eles conseguiram chegar a tempo de ver o início da Hora do Planeta.

A pedalada noturna fez parte do projeto 36 Horas de Esporte, responsável por levar à capital do Mato Grosso do Sul competições e atividades de 30 modalidades esportivas diferentes no último fim de semana. Na hora em que o movimento organizado pelo WWF-Brasil começou, os holofotes e toda a iluminação interna da praça em questão foram desligados, e os jogos, interrompidos. Apenas o truco continuou, com a ajuda de um gerador. O Caminhão da Cultura, iniciativa que leva atrações culturais e musicais para vários bairros, também ficou às escuras, assim como feiras, eventos e parques espalhados no perímetro de Campo Grande.

Prestes a se tornar uma cinquentenária, a capital brasileira mostrou empenho para deixar suas vias, bares, residências e ícones no escuro. O Terraço Shopping, por exemplo, promoveu nada menos do que um aulão de spinning para aproximadas 100 pessoas em sua entrada principal, com a iluminação da fachada apagada. Realizado pela academia Julia Adnet, o exercício mostrou que uma hora em cima da bicicleta pode gerar muita energia – ainda mais se for ao som do grupo musical Patubatê, com seus instrumentos reciclados.

O Café da Rua 8, um dos mais boêmios e movimentados da Asa Norte, também fizeram uma ótima badalação na noite do movimento. Entre 20h30 e 21h30, os músicos Jaime Ernest Dias e Célia Rabelo fizeram uma apresentação à luz de velas. Mas a iluminação de verdade ficou por conta de uma Harley Davidson, do grupo de motociclistas Carcarás. A solução fez tanto sucesso que os proprietários e clientes decidiram permanecer às escuras até o fim da noite. Mas não foi só. O governo local e a administração federal também fizeram a sua parte e, em Brasília, apagaram o Congresso Nacional, a Catedral, o Museu da República e a Esplanada dos Ministérios.

Na Amazônia, de tudo um pouco

A Amazônia também marcou presença na mobilização presente em 125 países no mundo, um recorde absoluto de público e adesões. Em Belém (PA), um palco montado em frente ao famoso Mercado Municipal São Brás uniu a população em torno de apresentações de dança, culto ecumênico e shows de bandas de rock. Antes do “apagão”, um vídeo com os impactos da ação predatória do homem sobre o meio ambiente e as possíveis consequências das mudanças climáticas foi mostrado ao público.

Pelo segundo ano consecutivo, a capital acreana apagou as luzes do Palácio Rio Branco – construção neoclássica, sede do governo estadual. Desta vez, o mesmo aconteceu com a Assembleia Legislativa e o Horto Florestal, onde se situa a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Mas, para além dos edifícios públicos, Rio Branco também contou com a adesão espontânea de centenas de casas e residências, empolgadas com a oportunidade de demonstrar indignação perante a crise ambiental vigente.

Em outra grande metrópole encravada no meio da maior floresta tropical do planeta, o Teatro Amazonas viu suas luzes externas serem reduzidas quando acabou o Fórum da Sustentabilidade, encontro com participação do inconvenientemente verdadeiro Al Gore e do diretor do fenômeno Avatar, James Cameron. Foram muitos, também, os hotéis e restaurantes que ficaram no escuro, assim como algumas ruas. O fato curioso, no entanto, foram os moradores que colocaram cadeiras nas calçadas e ficaram por ali mesmo, durante uma hora, conversando sobre tudo um pouco.

No sudeste, duas das principais capitais brasileiras ficaram de prontidão para a Hora do Planeta 2010. No Rio de Janeiro, restaurantes como o Restô Ipanema, Zazá Bistrô e Via Sete (que fez um belo painel especial para o evento) ofereceram jantares à luz de velas para seus clientes. Enquanto isso, o Planetário da Gávea realizava uma observação do céu – facilitada pela escuridão –, a orla de Copacabana adentrava na noite e o Cristo Redentor se apagava, mesmo cheio de andaimes em virtude das obras.

Já no Parque do Jardim Botânico, o evento oficial do movimento no Brasil teve início às 19h e aproveitou a performance do grupo de dança Intrépida Trupe. Às 20h30 em ponto, o prefeito do Rio de Janeiro, acompanhado do ministro de Meio Ambiente, Carlos Minc, virou o interruptor simbólico e deu início à mobilização no horário oficial de Brasília. Lugares como Arpoador, Igreja da Penha e Fiocruz também escureceram voluntariamente.

Música e participação ativa

O recém inaugurado Parque do Povo, no bairro de Itaim Bibi, foi o ponto central da Hora do Planeta em São Paulo. Justamente lá aconteceu o pontapé inicial dos 60 minutos que se seguiram e foram apoiados por muitos moradores. Durante 40 minutos, o público presente ao novo complexo de lazer acompanhou o Coral da Gente, formado por 40 vozes de crianças e adolescentes da comunidade de Heliópolis. Elas formam o Instituto Baccarelli.

Espalhados pela cidade, ícones como a Ponte Estaiada, Monumento às Bandeiras, Obelisco e o Viaduto do Chá também ficaram no escuro pela primeira vez em 2010. Mas o motivo é nobre e a beleza do momento rendeu imagens para todo o globo. A expectativa é de que, agora que terminou, a Hora do Planeta tenha deixado um ótimo exemplo para que a sociedade civil, empresas e governos comecem, de fato, a batalhar diariamente para modificar a curva crescente das mudanças climáticas.

O Sul do Brasil não ficou de fora. Além de inúmeras cidades, as suas três capitais confirmaram ações de apoio à causa. Em Curitiba, liderada pelo HSBC e Fundação O Boticário, a população se manifestou a favor da preservação ecológica e fim do desmatamento – o que, em consequência, reduz o lançamento de gases causadores do efeito estufa. Espetáculos de teatro, restaurantes e empresas gostaram e também entraram. Foram 12 os ícones da cidade que desligaram suas luzes, como a Estufa do Jardim Botânico, a Torre da Biodiversidade e o Teatro do Paiol. O Palácio da Avenida ficou às escuras e recebeu, como convidado, o Coral das Crianças do HSBC, formado por meninos e meninas que vivem em lares adotivos.

A Rede Wal-Mart promoveu um evento oficial para a Hora do Planeta em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e convidou a prefeitura para participar e virar o interruptor simbólico para desligar trechos da capital. Uma hora depois, o movimento chegava ao fim no Brasil. Mas não a esperança de que a crise ambiental seja levada a sério pelos membros de todos os setores da sociedade, o quanto antes. Esta, ao contrário, não tem data para terminar.

Crédito da imagem: WWF-Brasil/Juvenal Pereira

Fonte: Envolverde/WWF-Brasil

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