terça-feira, 13 de abril de 2010

A destruição sísmica começa em casa

Por Patricia Grogg* 


Existe uma escassa percepção do risco presente nos desastres telúricos para os edifícios de regiões vulneráveis como Cuba, afirmam especialistas.

HAVANA, 12 de abril (Terramérica).- Com as feridas expostas causadas pelos terremotos no Haiti, Chile e outros locais da América, o maior desafio passa por adequar a construção das casas à prevenção desses desastres naturais. “Um terremoto não é apenas um fenômeno físico, também é social”, segundo Fernando Guasch, pesquisador auxiliar do Centro Nacional de Pesquisas Sismológicas (Cenais) de Cuba, um dos países em área de risco e de edificações extremamente vulneráveis a impactos deste tipo.

No Chile, o terremoto de 27 de fevereiro de 8,8 graus Richter, seguido de um maremoto, causou a morte de quase 500 pessoas e prejuízos de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 21 bilhões correspondem a perdas em infraestrutura, segundo o Ministério da Fazenda. No Haiti, o país mais pobre da América, os mortos pelo terremoto de 12 de janeiro, de sete graus Richter, passam de 220 mil, enquanto mais de um milhão de pessoas ficaram sem teto. Em janeiro e fevereiro de 2001, os movimentos sísmicos afetaram El Salvador e deixaram 1.159 mortos e 1,5 milhão de desabrigados.

O impacto econômico, tanto direto como indireto, foi avaliado em US$ 2,8 bilhões, de acordo com dados divulgados em 2003 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A região da América Latina e do Caribe é uma das mais expostas do planeta às ameaças naturais, pois inclui ao menos quatro placas tectônicas, cujo choque é um fator permanente de atividade sísmica e vulcânica. A isso se acrescenta, em algumas áreas, como o Caribe, a combinação de furacões e inundações.

Documentos do Pnuma qualificam como alta a vulnerabilidade de Cuba diante de furacões, terremotos, inundações e secas. A devastação sofrida por Haiti e Chile, seguidos de uma ameaçadora atividade sísmica no Caribe, reavivaram em Cuba a adormecida percepção de risco de um desastre semelhante e a certeza de que é preciso se preparar para minimizar suas consequências. Neste ano, mais de 20 tremores de terra perceptíveis na parte mais oriental deste arquipélago tiveram seu clímax em 20 de março com um tremor de 5,6 graus que fez todo mundo abandonar suas casas, a maioria inadequadas para resistir a movimentos de grande intensidade.

O epicentro foi detectado 62 quilômetros a sudeste de Santiago de Cuba, com profundidade de 7,6 quilômetros, sendo perceptível em outras três províncias da região – Guantánamo, Granma e Holguín –, com menor grau e maior risco sísmico. Especialistas no assunto alertam que podem ocorrer terremotos de grande intensidade em todo o país. “Aqui sabemos o que fazer na temporada de furacões (de junho a novembro), mas como enfrentar algo que se desconhece quando pode acontecer?”, pergunta Maria Eugenia Rodríguez, moradora de Havana e com sua família dividida entre Santiago de Cuba e Guantânamo.

Em 2008, três furacões causaram a este país caribenho prejuízos estimados oficialmente em cerca de US$ 10 bilhões. Esse custo inclui os danos a mais de meio milhão de casas, acentuando o déficit habitacional crônico da ilha. Uma preocupação dos especialistas do Cenais, com sede em Santiago de Cuba, é a escassa percepção de risco de desastres telúricos. O maior perigo na porção mais oriental de Cuba se deve à proximidade do sistema de falhas Bartlett-Caimán, que constitui o limite ativo das placas litosféricas da América do Norte e do Caribe.

Uma das maiores vulnerabilidades de Santiago de Cuba, capital da província de mesmo nome e habitada por 500 mil pessoas, é a qualidade de suas casas, que vai de regular a má em quase 80% dos casos. Especialistas consultados pelo Terramérica, que pediram para não serem identificados, alertaram que muitas construções feitas em Santiago depois da década de 70 têm projeto antissísmico, mas a falta de manutenção, as infiltrações e a deterioração de 20 anos as deixam em condições ruins. Além disso, as mais novas não foram feitas com a qualidade necessária e não respeitam as normas de resistência a tremores de terra.

A norma sísmica estabelece parâmetros de construção para todo o país de acordo com o perigo da região, mas nem todas as empresas a seguem, porque não é obrigatória, encarece os projetos ou até porque muitos não sabem como empregá-la.

* A autora é correspondente da IPS.
Crédito da imagem: Jorge Luis Baños/IPS

Legenda: Rachaduras em um antigo edifício de Santiago de Cuba.

LINKS

Em busca de uma pecuária sem metano
http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3369&olt=457

A pecuária tem álibi, em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=94883

O predador ignorado, em espanhol
http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=94203

Fundação Takuara Renda, em espanhol
http://www.takuararenda.org/index.php


Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

Terramérica

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