quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Em entrevista o consultor holandês em finanças ambientais Ivo Mulder explica porque tesouros naturais, como a água, só podem ser salvos se as empresas começarem a pagar pelo que hoje retiram gratuitamente dos ecossistemas

Fernanda B. Muller

O holandês Ivo Mulder, autor do livro “Biodiversidade, o próximo desafio para as instituições financeiras?”, publicado pela União de Conservação Internacional (IUCN), pesquisa há muitos anos as relações entre a preservação ambiental e finanças e acredita que os tesouros da natureza espalhados pelo mundo só podem ser salvos se os setores empresariais e financeiros começarem a internalizar o valor da biodiversidade e serviços ambientais em seus modelos de negócios.

Por isso, é comum ouvi-lo falar em ‘commodização’ da natureza, termo que ele explica nesta entrevista concedida com exclusividade a CarbonoBrasil.

Hoje Mulder atua como conselheiro para projetos internacionais da empresa holandesa Triple E (Economia, Ecologia e Experiência), um centro de conhecimentos focado na relação entre economia e ecologia, operando em parceria com governos, setor privado e ONGs. A organização realiza pesquisas, consultorias e projetos para visualizar e comercializar o potencial econômico da natureza.

O especialista já trabalhou no Escritório de Desenvolvimento de Mercado e Conselhos Estratégicos do Fundo Nacional Holandês para Áreas Rurais, consultor da KPMG Sustaninability e da Sustaintability Finance Ltd., além de ter integrado a equipe do IUCN.

Confira a entrevista a seguir.

O que significa "commoditizar’ a natureza?

Ivo Mulder - É o processo de tentar identificar o valor quantificável da natureza em termos dos bens e serviços que oferece, o que os economistas têm tentado fazer há 20, 30 anos. Os serviços ecossistêmicos que foram identificados como possuidores de  valor de mercado são carbono, água, beleza cênica, qualidade da paisagem e biodiversidade, geralmente relacionados com uma macro-fauna carismática, como o leopardo.

"Commoditizar" a natureza é, por exemplo, você ter um hectare e contabilizar quanto carbono é estocado nele. Se pegar a água, você estimaria quanto a qualidade e quantidade da água melhoraria com a manutenção da qualidade da paisagem ou com a sua restauração para uma unidade de terra. Para o carbono é mais simples de se quantificar.

Mas como você aplicaria isto à biodiversidade?

IM - Neste caso você tenta identificar quais espécies são residentes na área e quais são atraentes para as pessoas. Isso não quer dizer que as outras não são importantes, mas para arrecadar dinheiro você tem que descobrir o que agrada as pessoas e as empresas. "Commoditizar" a biodiversidade seria, por exemplo, determinar quanto terreno um jaguar precisa e quanto dinheiro é necessário para pagar a um proprietário.

Claro que fica mais interessante se você juntar mais de um serviço ecossistêmico em um certificado, como carbono, biodiversidade e até mesmo água e então tentar identificar uma empresa que esteja interessada em proteger a biodiversidade ou compensar as emissões, ou ambos.

A Triple E já organizou alguns leilões para vender estes certificados. Eles foram baseados em certificados de biodiversidade?

IM - O foco era especificamente arrecadar dinheiro, capital, para elementos específicos da paisagem. Os holandeses já estão felizes em restaurar uma paisagem. Os 13 leilões organizados na Holanda e na Alemanha focaram principalmente na qualidade cênica e biodiversidade, pois na Europa Ocidental lidamos com outras questões, diferentes do Brasil. Aqui ainda há muita biodiversidade, as pessoas realmente querem pagar para manter uma paisagem bonita, pagando para restaurar os elementos da paisagem.

Este ano tentamos também uma vez com o carbono em Belize, no que seria o primeiro leilão de certificados de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Neste caso tentamos juntar os valores do carbono e da biodiversidade em um certificado, porém a crise no setor financeiro dificultou a convocação de empresas para o leilão. Entretanto, acredito na idéia.

Sem contar com a crise, quem pagaria por isso?

IM - O primeiro leilão foi organizado no leste da Holanda. Os residentes das cidades, empresas locais, como bancos, escritórios de advocacia, escolas, restaurantes, foram convidados a participar e compareceram. Se esse leilão não fosse organizado este dinheiro não teria sido arrecadado.

Vocês têm projetos no Brasil?

IM - Não no momento.

Vocês pensam nisso?

IM - Certamente gostaríamos.

Fonte: Carbono Brasil

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