sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ONU busca impulso político para enfrentar mudança climática

Por Thalif Deen, da IPS 


Nações Unidas, 17/09/2009 – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, acredita que os líderes mundiais irão conferir um alto perfil político à crise ambiental que ameaça causar uma devastação global naspróximas décadas . “A mudança climática é o maior desafio desta e das futuras gerações”, alertou Ban, um dos principais promotores da cúpula sobre este fenômeno que acontecerá no próximo dia 22 nas Nações Unidas. “Se queremos evitar as consequênciascatastróficas para a população e o planeta, temos menos de 10 anos para frear o aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa”, acrescentou.

Da cúpula participarão cerca de cem governantes, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em sua primeira vista à ONU. Mas, nessa reunião não será adotado um plano de ação nem se aprovará uma declaração política, como costuma ocorrer com a maioria das cúpulas da ONU. Tampouco é uma conferência para arrecadar entre US$ 500 bilhões e US$ 600 bilhões necessários hoje para deter a mudança climática, com medidas como reduzir as emissões de gás estufa, interromper o desmatamento, deter a degradação dos solos, combater o aumento do nível do mar e prevenir secas e inundações. Em definitivo, espera-se que o secretário-geral elabora um “resumo” da cúpula que reflita as declarações políticas dos lideres mundiais.

O encontro é uma oportunidade única para que os governos mostrem que estão comprometidos em alcançar um acordo na 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá em dezembro na cidade de Copenhague. Foi o que disse Kim Carstensen, líder da Iniciativa Climática Mundial no Fórum Mundial para a Natureza (WWF) ,ao ser consultada se a cúpula será um exercício político inútil.

Espera-se que a reunião da capital dinamarquesa sirva para negociar um novo regime climático vinculante para reduzir as emissões humanas de carbono, o principal gás estufa. “Se os lideres fizerem declarações fortes e claras que sejam refletidas em um resumo elaborado por Ban Ki-moon, isso poderá ajudar a gerar o impulso político que precisamos tão desesperadamente nas atuais negociações da Convenção Marco”, disse Carstensen à IPS. “Esperamos palavras firmes das autoridades, que mostrem claramente a perseverança de seus representantes nas negociações climáticas da Convenção Marco”, acrescentou.

Janos Paztor, diretor da Equipe de Apoio para a Mudança Climática da ONU, disse na semana passada à imprensa que a cúpula se centrará em quatro áreas: medidas de adaptação à mudança climática, objetivos de redução dos gases estufa por parte de todos ospaíses ; financiamento para apoiar os esforços de mitigação e adaptação, e estruturas de gerenciamento necessárias para um regime climático novo e efetivo. Pasztor disse que o mais importante para a reunião de Copenhague não são os números do financiamento, mas “uma fórmula efetiva que reúna diferentes fontes de financiamento que possam ser ampliadas segundo as necessidades”. E, “se as coisas estivessem bem, não precisaríamos de uma cúpula”, ressaltou.

Em seu “Estudo Econômico e Social Mundial 2009”, divulgado no começo deste mês, a ONU diz que, segundo recentes estimativas, a cada ano morrem cerca de 300 mil pessoas devido ao aquecimento da Terra, enquanto as vidas de outros 300 milhões estão seriamente ameaçadas. Culpando principalmente as nações industrializadas, a investigação diz que a crise climática é o resultado de um modelo de desenvolvimento econômico muito desigual que evoluiu nos últimos dois séculos. “Este modelo permitiu que os países ricos de hoje conseguissem seus atuais níveis de renda em parte por não levarem em conta o dano ambiental que agora ameaça o sustente de outros”, diz o documento.

Carstensen afirmou que os governantes deveriam se centrar em compreender como a ação contra a mudança climática pode se converter em um beneficio econômico para seus países, gerando crescimento e empregos amigáveis com o meio ambiente. Também deveriam analisar como garantir um resultado claro e obrigatório nas negociações de Copenhague. “Espero que as autoridades venham a Nova York preparadas para dizer que se comprometerão com a ação para manter o aumento das temperaturas mundiais abaixo de dois graus. E que digam algo sobre como atuarão para que isto ocorra”, afirmou Carstensen.

Os países industriais devem se comprometer com fortes objetivos de médio prazo para reduzir sua contaminação e proporcionar um financiamentosignificativo à ação climática nas nações em desenvolvimento. Em troca, estas nações devem apresentar planos para reduzir suas emissões de gás estufa, incluídas as derivadas do desmatamento. Isto significa que o tratado mundial deve ser justo, ambicioso e obrigatório, acrescentou Carstensen.

Entre as demandas específicas da WWF figura um regime climático obrigatório para o período posterior a 2012 (quando expira o Protocolo de Kyoto) estipulado no novo Protocolo de Copenhague. A organização internacional também pede garantias de que as emissões mundiais de carbono cheguem ao seu teto em 2017 e depois caiam rapidamente, com o objetivo de reduzir em pelo menos 80% as emissões mundiais ate 2050, em relação aos níveis de 1990.

A WWF também reclama dos governos que “descarbonizem” as economias industriais ate 2050, e que, como primeiro passo, reduzam em 40% suas emissões ate 2020 (base de 1990). Além disso, a entidade pede que seja facilitada a transição para economias livres de carbono dospaíses em desenvolvimento, aportando US$ 160 bilhões anuais par5a os esforços de mitigação e adaptação, e permitindo acesso a tecnologias limpas. A WWF também quer que os governos apóiem uma ação imediata para a adaptação à mudança climática dos países pobres e que dêem respaldo a um objetivo de desmatamento zero ate 2020. IPS/Envolverde.

(Envolverde/IPS)

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