terça-feira, 4 de novembro de 2008

Crises econômica e climática serão os desafios do próximo presidente dos EUA

Por Paula Scheidt, do CarbonoBrasil

Os eleitores dos Estados Unidos decidem hoje quem será o próximo ocupante do cargo mais importante do mundo, que terá dois grandes desafios pela frente: a crise financeira e o problema climático. E, apesar dos alertas de que a questão das mudanças climáticas é mais grave do que a econômica, a atenção dispensada até agora aos dois problemas tem sido desequilibrada, principalmente pelo governo norte-americano.

“Ignorar os riscos das mudanças climáticas é muito mais grave do que ignorar os riscos financeiros. Por outro lado, as novas tecnologias de baixa emissão de carbono e os mercados de carbono são grandes oportunidades abertas pela crise ambiental. E elas se caracterizam pela sustentabilidade, ao contrário do que acontece com as bolhas especulativas das empresas na internet ou no mercado imobiliário”, declara o economista inglês Nicholas Stern, autor do relatório de 2006 sobre a economia das mudanças climáticas.

O custo de medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE), e assim mitigar o aquecimento global, sempre foi o principal argumento dos Estados Unidos para não aprovarem qualquer medida política neste sentido e nem aceitarem ratificar o Protocolo de Quioto.

No entanto, na atual crise financeira, em poucos dias o governo aprovou um pacote de socorro de mais de US$850 bilhões. Na Europa, a ajuda ultrapassou os US$2 trilhões. Por que estes recursos não apareceram antes para resolver o problema climático, mesmo depois de estimativas, como as feitas por Stern, dos altos custos que as mudanças do clima trariam para a economia mundial?

O economista João Rogério Sanson, doutor em economia monetária e fiscal pela Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, explica que esta é uma crise do circuito financeiro e que os recursos que estão sendo injetados no mercado pelos governos servem para garantir a circulação do dinheiro.

“Quando os Estados Unidos alegam que não aceitam reduzir as emissões de GEE está implícito o argumento de que o crescimento deve ser contínuo e de que não aceitam colocar o pé no freio da economia”, afirma Sanson. Assim, os custos citados pelo atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, referem-se a uma redução no Produto Interno Bruto do país, que interferiria no chamado circuito real da economia.

O professor de economia da Universidade Federal de Santa Catarina alerta que, no final das contas, o que os Estados Unidos não querem é mudar o padrão de consumo atual, o que seria provocado por uma desaceleração econômica caso fossem implantadas medidas para conter as emissões de dióxido de carbono (CO2).
“Discutir meio ambiente tem a ver com os valores da sociedade, com os aspectos éticos e com uma cultura de crescimento ilimitado - padrão almejado pelos países hoje”, comenta Sanson.

Benefícios para o meio ambiente

A crise, no entanto, pode ser vista como benéfica para a questão climática sob dois aspectos. O primeiro deles é a redução natural das emissões de GEE devido à desaceleração econômica prevista para o próximo ano. O segundo é que, pela primeira vez na história, houve uma atuação conjunta entre os países para buscar resolver o problema da crise, diferentemente de 1929, quando o mundo estava dividido.

“Vimos a América rica, a Europa e a Ásia ricas agindo em conjunto e isto pode ser uma oportunidade para se pensar em uma negociação também ambiental”, afirma Sanson.

O especialista ressalta que a maior dificuldade na questão climática, assim como na crise global, é justamente como chegar a um acordo. “Não existe um governo mundial, então é preciso negociar”, destaca.

O embaixador extraordinário para a Mudança do Clima do Ministério das Relações Exteriores, Sérgio Serra, é mais cauteloso ao avaliar os impactos da crise para as negociações climáticas internacionais. “Eu não acho que a crise vai ajudar. Em algum aspecto sim, pois diminui a atividade econômica e, naturalmente, tem-se a redução de emissões. Mas em termos de negociação, pode prejudicar a questão da transferência tecnológica”, afirma.

Segundo Serra, os investimentos em tecnologias, necessários para os países em desenvolvimento diminuírem as emissões e se adaptarem às conseqüências da mudança do clima, serão reduzidos.

Stern também alertou para a origem destes investimentos a partir de agora. “Esperava que só uma fração do que deve ser investido no desenvolvimento de novas tecnologias viesse do setor público. Mas, agora, o financiamento da inovação terá de vir desse setor, mais do que imaginávamos”, diz.

Fonte: Carbono Brasil

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