quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Islândia: A caça ao carbono

Por Lowana Veal, da IPS

Reiquiavique, 13/10/2008 – Na central geotérmica de Helisheidi, cerca de 30 quilômetros a leste de Reiquiavique, os islandeses desenvolvem novas maneiras de capturar o dióxido de carbono e o sulfuro de hidrogênio emitidos pela usina. A geotérmica é uma energia alternativa obtida a partir do calor interior da terra. O projeto do dióxido de carbono, chamado Carb-Fix, investiga o potencial do armazenamento de carbono – gerado pela usina geotérmica – na rocha basáltica, que constitui cerca de 90% do leito rochoso da Islândia e é de origem vulcânica.

O carbonato de cálcio se forma naturalmente na parte superior dos sistemas geotérmicos em áreas vulcânicas quando uma parte do dióxido de carbono reage aos íons de cálcio do basalto. O grupo busca desenvolver métodos para acelerar o processo. Os pesquisadores pretendem começar injetando dióxido de carbono no leito rochoso, em 2009. No começo, o dióxido de carbono da usina geotérmica de Hellisheidi será totalmente dissolvido em água doce e depois injetado nos poços, a uma profundidade entre 400 e 800 metros. Depois a equipe irá controlar o que estiver ocorrendo com o dióxido de carbono e calculará quanto tempo demorar o processo de mineralização. O ritmo de reação geoquímica é uma parte muito importante do projeto.

Do projeto participam pesquisadores da Universidade de Columbia (Estados Unidos) e da Universidade Paul Sabatier (França), além de islandeses. No momento há 10 estudantes de doutorado trabalhando na iniciativa, junto com especialisas da Reiykjavik Energy, Iceland GeoSurvey e universidades islandesas. Mas, o que torna Carb-Fix diferente de outros projetos de captura e armazenamento de carbono, que às vezes são vistos com cepticismo? “A qualidade única do projeto islandês é que enquanto os outros armazenam dióxido de carbono principalmente na forma de gás, onde este pode voltar a vazar para a atmosfera, Carb-Fix busca armazenar o dióxido de carbono criando minerais carbonados sob a superfície.

O carbonato de cálcio, um importante componente da pedra calcária, é um mineral comum e estável na Terra, conhecido por persistir durante dezenas de milhões de anos ou mais”, explicou a gerente do projeto, Holmfridur Sigurdardottir. “Até agora, o dióxido de carbono é armazenado principalmente como um gás em associação com importantes centrais de produção de gás e petróleo, como Sleipner no mar do Norte, Salah na Argélia e Weyburn no Canadá”, afirmou. Segundo Sigurdardottir, o armazenamento geológico do dióxido de carbono consiste em guardá-lo em formações subterrâneas profundas, como reservas de petróleo e gás esgotadas e profundos aqüíferos salinos.

As reservas de petróleo e gás possuem dióxido de carbono naturalmente armazenado e outros gases e fluidos para milhões de anos, sem que ocorram vazamentos significativos. “Entretanto, nada é absolutamente seguro. Assim, o armazenamento meneralógico do dióxido de carbono busca armazená-lo de modo permanente, sob a forma de minerais carbonados. Ao levar o dióxido de carbono ao seu estado termodinâmico, os potenciais riscos para a saúde, a segurança e o meio ambiente são minimizados”, afirma Sigurdardottir. Os pesquisadores controlarão os vazamentos de dióxido de carbono na parte superior do sistema de água subterrânea e na atmosfera.

“A Islândia é constituída por basalto, uma rocha que contém abundantes cátions divalentes de metal, como cálcio, ferro e magnésio, que são os componentes básicos de um mineral carbonado estável. A mineralização do dióxido de carbono requer a disponibilidade de cátions divalentes, como os listados anteriormente. As rochas basálticas e periódicas consistem em minerais ricos em cálcio, magnésio e ferro e, portanto, são ideais para o armazenamento mineralógico do dióxido de carbono”, acrescentou Sigurdardottir.

A usina geotérmica de Hellisheidi produz um quilo de dióxido de carbono por segundo a partir de condensadores, embora isto aumente na medida em que a instalação se expande. Do vapor ali produzido, 0,5% é de gás geotérmico e 83% é dióxido de carbono. O sulfuro de hidrogênio que compõe o vapor também causa problemas, e se pensa que seja a provável causa dos danos à vegetação causados pela usina. Mas, parece haver uma solução também para isto. Acaba de ser assinado um acordo entre Reikjavik Energy e a empresa Prokatín para determinar a maneira de usar o sulfuro de hidrogênio produzido pela unidade.

“O vapor geotérmico contém não apenas água, mas também cerca de 1% de gás geotérmico, composto principalmente por hidrogênio, dióxido de carbono e sulfuro de hidrogênio”, disse à IPS o presidente da Prokatín, Arnthor Aevarsson. “Há microorganismos, entre eles alguns que vivem em fontes termais, que podem usar hidrogênio e sulfuro de hidrogênio como fontes de energia e, por sua vez, usar a energia para fixar o dióxido de carbono. Pode-se fazer com que esses microorganismos cresçam em recipientes de cultivo alimentando-os com gás geotérmico em uma adequada solução salina sob certas condições. Eles transformam o sulfuro de hidrogênio em sulfuro sólido ou, mais além, em ácido sulfúrico”, acrescentou Aevarsson.

Assim, “pode-se usar esta solução biológica para prevenir emissões de sulfuro de hidrogênio e dióxido de carbono das usinas de energia geotérmica. A biomassa microbiana formada no processo pode ser utilizada na produção de proteínas unicelulares, que constituem um produto valioso para atender uma crescente demanda por fontes protéicas para uso na alimentação na piscicultura, por exemplo”, disse Aevarsson. “É um processo promissor e apresentamos uma patente para a tecnologia. É uma maneira de combinar a utilização de a energia geotérmica e a biotecnologia de uma maneira que dê resultados”, acrescentou.

Por fim, encontrou-se outra maneira de usar o dióxido de carbono gerado pelas usinas geotérmicas. A Carbon Recycling International acaba de assinar um contrato para usar o dióxido de carbono de uma usina geotérmica em Svartsengi, 30 quilômetros a sudoeste de Reiquiavique, para produzir metanol para automóveis que utilizam biocombustível. Trata-se de outra experiência pioneira para a Islândia nessa área. O vapor rico em dióxido de carbono desprendido da usina de Svartsengi será misturado com hidrogênio e depois transformado em metanol. A empresa diz que também é possível converter o metano em dimetil éter, que pode ser utilizado como substituto do diesel. O metanol e o dimetil éter serão usados para substituir 10% da gasolina e do diesel, respectivamente.

Fonte: Envolverde/IPS

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