segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A insensatez ambiental da ganância tecnológica

Por Paula Mendes dos Anjos*

Existe um provérbio chinês muito interessante: o chinês planta uma árvore para a geração futura colher a sua sombra. É muito importante pensarmos que destino teremos, mediante nossas atitudes. Nossos atos do presente é que determinarão o que há de vir. Planejar e executar ações pensando no provir é fundamental; mas será que o ritmo movido pela ganância tecnológica imposta pela nossa civilização permitirá que continuemos a ter condição no futuro, de desfrutarmos, por exemplo, da deliciosa e frondosa sombra de um jambeiro? Árvore é sinônimo de vida, ela está perenizada em poesias, pinturas, casas, e ainda hoje encontramos inúmeras florestas, vitais para a existência da humanidade. Desde a sua formação, a Terra passou por inumeráveis processos naturais, porém, a partir da Revolução Industrial, quando o homem conseguiu desenvolver novas tecnologias buscando conforto e evolução, promoveu também uma enorme interferência em nosso processo natural de existência.

A Revolução Industrial trouxe um profundo impacto na evolução tecnológica, como também nos aspectos sociais e econômicos. A partir daí o capitalismo se estabelece e a máquina suplanta o trabalho humano. Foi marcos incontestáveis, que possibilitou uma relação maior entre os países e se estabeleceu a cultura de massa.

É imprescindível que nós, seres humanos, saibamos conduzir todo este processo de evolução tecnológica mais equilíbrio ambiental. Infelizmente, a comunidade científica é enfática – embora haja controvérsias – ao afirmar que a relação custo/ benefício nos traz um bem momentâneo, porém, gera um grande custo futuro, levando-nos a um passivo ambiental que afetará a economia mundial e o dia-a-dia de nossas vidas. Hoje, corremos contra o tempo na busca do reequilíbrio desse descompasso antropogênico.

Segundo o relatório Stern, a sociedade deve enfrentar imediatamente o problema do aquecimento global, investindo 1% do PIB do planeta. Caso contrário, o valor presente dos custos dos danos futuros será igual à perda de 5% a 20% do PIB mundial “agora e para sempre”. A julgar por tais conclusões, a humanidade estaria no limiar de uma verdadeira catástrofe.

Todos somos culpados. Não pensamos na hora de comprar uma televisão ou um celular novos, jogando fora o maquinário antigo e gerando conseqüências ambientais. Não pensamos quando vamos sozinho de carro para o trabalho e emitimos, desnecessariamente, mais CO2 no ambiente. Afinal, existem outros meios de transporte... Somos constantemente estimulados a consumir, a tal ponto que um estudo de 1995 revelou que os americanos jogam fora 27% da comida disponível para consumo. Uma família de quatro pessoas joga no lixo 4,7 quilos mensais só de carne e peixe. Frutas, legumes frescos ou processados, são mais de 15 quilos mensalmente. Se fosse recuperado um quarto de todo o desperdício dos mais afortunados, daria para alimentar vinte milhões de pessoas a cada dia. Enquanto isso mais de dois milhões de somalis, dentre eles crianças, vivem sem o mínimo necessário de proteínas e calorias diárias. A insensatez leva à insensibilidade e ao aumento da desigualdade social, resultando em problemas ambientais. Evidentemente, a culpa é proporcional ao seu raio de ação. Solução existe, mas depende da nossa consciência e da mudança de nossos hábitos.

O oxigênio levou mais de 1,5 bilhão de anos até sair de uma concentração inferior a 1% para os 21% dos dias atuais. Como vemos, o processo de transformação é lento e natural. Só que o homem vem interferindo em mudanças que envolvem o clima, compreendido nos diversos fenômenos meteorológicos terrestres, desde a energia do Sol, como também os ventos, tempestades, chuvas etc., todos fenômenos essenciais à nossa existência. Uma alteração em seu ciclo pode levar a acontecimentos lastimosos, como temos observado ultimamente.

Gaia, a Terra, pode ser observada sob a ótica da fisiologia humana, em que existe uma constante interação de seus componentes (pulmões, nervos, circulação, sistema endócrino, etc.). A hidrosfera, biosfera, atmosfera e litosfera também se encontram em constante interação. Qualquer eventual problema em uma de suas composições leva a outros que se sucedem, gerando às vezes irremediável efeito cascata.

Gaia precisa de um tempo para se restabelecer e, com certeza, de um remédio eficaz para sua pronta recuperação.

Moramos em um pálido ponto azul, um pequeníssimo ponto se comparado à imensa arena cósmica existente. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há indício de que, de algum outro mundo virá socorro que nos salve de nós mesmos.

Devemos usar nossa racionalidade, que nos diferencia dos demais seres vivos, para fazer uso sustentável do meio ambiente, da mesma forma que os índios, seringueiros e castanheiros.

Só assim iremos continuar perpetuando a nossa espécie.

* Paula Mendes dos Anjos é bióloga, ambientalista, estudiosa dos aerossóis na interferência climática, com o climatologista Ricardo Calheiros de Miranda, professor titular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. E-mail: p.manjos@uol.com.br.


(Envolverde/O autor)

Nenhum comentário: