quarta-feira, 20 de agosto de 2008

I Seminário Madeira Energética discute produção de carvão vegetal a partir de capim

A realização do 1º Seminário Madeira Energética – MADEN 2008 nos dias 2 e 3 de setembro, no Rio de Janeiro, servirá como vitrine de exposição para a primeira fábrica de carvão vegetal a partir da biomassa do capim elefante do Brasil, localizada no município de Conceição de Macabu, no interior fluminense. O projeto foi realizado em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a TermoRio, o Ministério de Desenvolvimento Agrário e a Prefeitura da cidade.

Além do carvão vegetal, a fábrica produz bio-óleo (alcatrão) e água ácida, poderoso agente inseticida biológico para uso em agricultura orgânica. A tecnologia de fabricação do "carvão verde" foi desenvolvida e patenteada pela Bioware, empresa incubada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O empreendimento é gerido pela Cooperativa de Produção Agrícola e Pecuária de São Domingos, em Macabu.

A ação faz parte das iniciativas do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE) para ser criada no país uma política para o uso energético da madeira e seus derivados. O uso do capim elefante como biomassa será debatido durante a palestra "Biomassa de ciclos curtos", ministrada por Vicente Nelson Giovanini Mazzarella, Coordenador Geral de Projetos Especiais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e por Segundo Urquiaga, Pesquisador da EMBRAPA Agro-biologia.

Alta produtividade de biomassa

O capim elefante é uma designação genérica, que reúne mais de 200 variedades de capim. Mazzarella explica que o capim elefante tem aspectos importantes como alta produtividade, em torno de 40 toneladas de massa seca por hectare por ano. Sua produtividade é no mínimo quatro vezes maior que a da madeira de eucalipto. Seu ciclo de produção é de seis meses, enquanto que o primeiro corte da madeira de eucalipto se faz a partir do sexto ano.

"Na apresentação, vamos explorar a capacidade de determinadas biomassas de produzirem mais em menos tempo. O capim elefante se destaca porque tem uma produtividade maior que a do eucalipto e da cana-de-açúcar", afirma o coordenador. Além dessas características, há menor necessidade de áreas, menor custo de biomassa, maior assimilação de carbono e prováveis custos competitivos com outras fontes de energia, além de ser um energético renovável e ambientalmente amigável.

Estudos divulgados recentemente pela Embrapa indicam que o uso do capim elefante como fonte direta de energia apresenta um balanço energético de até 24:1. Ou seja, 24 unidades de energia produzidas para uma unidade de energia investida. No caso da cana-de-açúcar, o balanço energético é de 9,3:1.

O capim elefante é uma espécie vegetal oriunda da África, utilizada para alimentar vacas para a produção de leite e carne bovina. Para este fim, são utilizadas altas doses de nitrogênio químico, adubo que representa aproximadamente 60% do custo total dos fertilizantes, e que garante à biomassa maiores níveis de proteína. No caso da produção de energia, a Embrapa realiza pesquisa para selecionar uma variedade de capim elefante que demande menos nitrogênio químico e com isso gere menos custos.

"Uma técnica aplicada ao capim elefante é a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), que consiste na substituição da adubação nitrogenada química pela fixação do nitrogênio do ar, por bactérias existentes no solo e nas plantas. É um processo similar ao que já acontece na colheita da soja, da cana de açúcar e do feijão", esclarece o pesquisador Urquiaga. Sem o nitrogênio químico, a colônia de capim elefante terá menos proteína e mais fibra, características ideais para a produção de energia.

Diferentes aplicações da matéria-prima


O capim elefante pode ser utilizado para geração de energia elétrica para venda, geração de eletricidade e vapor para uso próprio, calor para secagem e queima em cerâmicas, produção de carvão para processos metalúrgicos, produção de briquetes e peletes para mercado interno e exportação. "Apesar das diversas aplicações, o plantio do capim elefante ainda não é feito de forma extensiva como matéria-prima para fornecimento de energia no Brasil. Na Europa, já se constitui um grande mercado para peletes na geração termelétrica", assegura Mazzarella. Urquiaga aponta também que existem atualmente no Brasil aproximadamente de seis mil olarias, que fabricam tijolo e cerâmica vermelha. Cerca de 98% delas utilizam lenha no seu processo de fabricação e maior parte dessa madeira vem do desmatamento. Existe um outro estudo da Embrapa, realizado de forma experimental, para utilizar o capim elefante no lugar da lenha e assim reduzir o impacto ambiental. "O capim elefante pode ser usado como fonte direta de energia, substituindo a madeira e diminuindo o desmatamento", afirma.

Os dois palestrantes avaliam o tema da biomassa da madeira como fonte energética como extremamente oportuno e conveniente. "O Brasil é o único país que tem condições ideais para desenvolver esta área. Além de utilizar uma bioenergia, o que significa ser renovável, o país possui grande extensão de terra, insolação na maior parte do ano e razoável regime de chuvas. Os solos de pastagens degradados podem ser reutilizados sem que haja avanços para áreas agrícolas".

Regulamentação da energia criará reais condições de comercialização

De acordo com o diretor-geral do INEE Jayme Buarque de Holanda, a madeira como insumo energético é uma questão basicamente brasileira, já que o país a utiliza de forma intensa e sua produtividade por área plantada é mais de cinco vezes a média da Europa ou dos Estados Unidos. "Por ser um país com mais insolação, a madeira fixa mais a energia solar através da fotossíntese. Esta é uma vocação brasileira e acreditamos que a lenha energética seja um passo tão grande ou provavelmente mais importante do que foi a cana-de-açúcar no Brasil", disse.

Para que isso aconteça, ele acrescentou que serão necessários investimentos em pesquisa e incentivos aos pesquisadores para trabalharem na área. O INEE é uma organização não-governamental sem fins lucrativos, que reúne pessoas e instituições interessadas em promover a transformação e o uso eficiente de todas as formas de energia para alcançar uma economia mais saudável, meio ambiente mais limpo, maior segurança quanto ao acesso à energia e bem-estar na sociedade.

Está sendo finalizada também uma proposta de política governamental para o uso energético elaborada pelo INEE. A proposta utiliza a legislação já existente (Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005) que criou a figura dos biocombustíveis, denominação para todos os combustíveis derivados de biomassas. No entanto, há um vazio normativo no que diz respeito ao uso da madeira como insumo energético. A entidade trabalha exatamente para que se seja definida com mais detalhamentos a aplicação do seu uso.

"É preciso regulamentar a produção, a comercialização, as condições e a descrição detalhada dos biocombustíveis da madeira para que o mercado se organize em torno de um produto definido", afirmou Buarque de Hollanda. "Acreditamos que no momento em que este mercado estiver regulado, vão ser criadas as condições econômicas para produzir os biocombustíveis da cadeia da madeira de forma mais competitiva no mercado formal, que hoje não existe". Na visão do diretor, esta é a forma mais indicada para asfixiar economicamente a produção de carvão usando madeira nativa, que hoje supre cerca de metade desta energia.

Dentre as diversas utilizações da madeira energética está a sua forma mais primitiva, como lenha, para queima direta. O insumo pode ser transformado também em carvão vegetal, que ao ser produzido resulta em bio-óleos, que podem ser usados para fins energéticos. Além disso, existe a biomassa densificada obtida através da compressão de resíduos agrícolas que se transformam em uma tora de madeira, com altas propriedades energéticas. Há ainda a gaseificação da madeira obtida por meio de altas temperaturas, que pode ser usada como gerador de energia elétrica e como combustível líquido sintético chamado synfuel.

Seminário

Organizado pelo Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE) e pela Iniciativa Carvão Verde (ICV), o 1º Seminário Madeira Energética – MADEN 2008 será realizado no Rio de Janeiro, durante os dias 2 e 3 setembro, das 8h30 às 18h, na Academia Brasileira de Ciências (Rua Anfilófio de Carvalho, 29 - 3º andar). O evento reunirá os mais importantes especialistas em cada um dos setores abordados para a discussão dos principais aspectos relacionados ao uso da madeira como fonte de energia.

O programa do seminário conta com palestras, painéis e mesas redondas que visam à troca de idéias sobre a necessidade de racionalizar a cadeia de utilização da energia proveniente da madeira, além de informar as mais novas tecnologias no uso deste insumo. As inscrições podem ser feitas até 2 de setembro de 2008 no site MADEN2008, sendo que até 18 de agosto, com desconto. Informações complementares podem ser obtidas pelo telefone (21) 2532-1389 ou pelo e-mail bruna@inee.org.br.

Serviço

MADEN 2008 – 1º Seminário Madeira Energética
Data: 2 e 3 de setembro
Horário: 8h30 às 18h
Local: Academia Brasileira de Ciências
Endereço: Rua Anfilófio de Carvalho, 29, 3º andar – Rio de Janeiro
Outras informações: telefone (21) 2532-1389 ou e-mail bruna@inee.org.br


(Envolverde/Assessoria)

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