segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Empresas africanas começam a agir contra mudanças climáticas

Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil

A África, apontada como o continente que mais sofrerá as conseqüências das mudanças climáticas devido à falta de estrutura e recursos, deixa de esperar apenas por ajuda de nações ricas e passa a enfrentar o problema com ações para combater o aquecimento global. Algumas empresas do “continente esquecido” já estão agindo por conta para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e para conscientizar seus consumidores sobre a questão ambiental.

“O meio ambiente não está sendo levado muito a sério na maioria dos mercados emergentes porque ainda não começamos a sentir a pressão”, diz Adan Mohamed, presidente do Banco Barclays do Quênia. “Mas a questão precisa ser enfrentada e cabe a nós, empresas, liderar isso”.

A pobreza na África – aonde aproximadamente três quartos das pessoas depende da agricultura – indica que esta é a parte do mundo menos capaz de se adaptar às severas mudanças climáticas que serão desencadeadas pelo aquecimento global, acreditam os especialistas. Entre as conseqüências previstas está a falta de água e comida para milhões de habitantes, que também enfrentarão impactos que vão da proliferação de doenças à elevação do nível dos oceanos.

Apesar da falta de condições atingir o continente como um todo, há cidades como Lagos, na Nigéria, que lutam para conquistar desenvolvimento a partir do petróleo. A megalópole que hoje não possui saneamento, transporte ou segurança planeja ser comparada a Cingapura ou Dubai dentro de dez anos.

O crescimento urbano e conseqüentemente as atividades poluidoras dessas cidades afetarão o mundo, mas principalmente a África. Com essa idéia em mente, os empresários locais começam a arregaçar as mangas e a se juntar aos esforços globais para combater as mudanças climáticas. Empresas do Quênia relacionadas com aviação e produção de cerveja, entre outras, já estudam maneiras de tornar suas operações mais “verdes” para ajudar a reduzir o golpe.

Até a estação mais popular de rádio em Nairóbi – a Capital FM – entrou na onda. Ela pagou 2 mil dólares a uma empresa de compensação para se tornar neutra em carbono e, com isso, aumentar o senso de preocupação com a questão entre os seus ouvintes.

As iniciativas apontam para mudanças de atitudes no sentido da proteção ambiental nos países mais pobres do mundo.

Em entrevista à agência Reuters, em novembro do último ano, o representante do clima na ONU, Yvo de Boer, disse que a África era o “continente esquecido” na batalha contra o aquecimento e que precisava desesperadamente de ajuda. Para ele, os estragos previstos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas para o continente justificariam ações mundiais mais enérgicas – antes mesmo de considerar possíveis conseqüências para outras partes do planeta.

Na ocasião, Boer afirmou que os grandes países em desenvolvimento como China, Índia e Brasil recebem, por parte das nações ricas, mais fundos para ajudar no corte de emissões do que a África. A ajuda vem por meio de investimentos em usinas eólicas, hidroelétricas ou redução de emissões industriais. Apenas 2,4% dos mais de 1.100 projetos para corte de gases do efeito estufa nas nações em desenvolvimento pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU são na África.

Mudando atitudes

A maior economia do continente, África do Sul, possui vários desses projetos. Um deles é da maior produtora de combustível a partir de carvão do mundo, a Sasol, que lidera um plano para vender créditos de carbono com a conversão de gases do efeito estufa em nitrogênio e oxigênio e ainda lucrar com isso.

Baseado em duas instalações na África do Sul, o projeto converterá óxido nitroso e cortará o equivalente a 1 milhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. Para se ter idéia, cada tonelada de óxido nitroso possui o mesmo efeito de aquecimento global de 310 toneladas de CO2 – o principal gás do efeito estuga.

Cerca de 90% da eletricidade do país é produzida a partir da queima de carvão. Mas, a instalação de equipamentos de captura e armazenamento de carbono (CCS) será obrigatória para as novas usinas de geração de energia. Hoje, nenhuma usina opera em qualquer lugar do mundo ainda com equipamento CCS e, apenas poucos países – incluindo EUA, Grã-Bretanha, Canadá e Noruega – prometeram dinheiro público para testar a tecnologia em escala comercial.

No entanto, cenas como a da Kenya Airways plantando milhares de sementes para compensar as emissões de seus vôos ou de jantares servidos pelo restaurante neutro em carbono Azálea ainda são raras na África. Muitos dos países estão primeiramente focados no desafio de desenvolver a infra-estrutura básica de energia para eliminar a necessidade de geradores. A urgência de empresas oferecerem compensações de carbono como forma de limpar a consciência parece estar muito distante nesse caso.

Desire Kouadio N'Goran, representante do Ministério do Meio Ambiente da Costa Ivory, diz que o seu governo incentiva o uso de energia solar e de fogões mais eficientes, assim como o transporte público, para reduzir as emissões de veículos.

Mohamed, do Barclays do Quênia, entende que os tempos estão mudando e que os negócios na África precisam ser planejados a longo prazo. Ele afirma que seu banco apenas empresta dinheiro a projetos ambientalmente sustentáveis. “As pessoas comercializam unidades de carbono globalmente, não há razão para não passarem pelos mercados emergentes”.

* Com informações da Reuters Interactive.


(Envolverde/Carbono Brasil)

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