segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Agricultura pode se transformar em solução, diante das mudanças do clima

Por Alana Gandra, da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Apesar de ser considerada uma das vilãs do aquecimento global, a agricultura pode passar a ser vista como uma solução, diz a pesquisa “Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira”.

O estudo será divulgad nesta segunda-feira (11) pelos pesquisadores Hilton Silveira Pinto e Eduardo Delgado Assad, da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no 7º Congresso Brasileiro do Agribusiness, em São Paulo.

Em entrevista à Agência Brasil, Hilton Silveira destacou que há cerca de dois anos, a pior vilã agrícola no Brasil era a cana-de-açúcar, porque estava vinculada às queimadas, que aumentam as emissões de gás carbônico (CO2) na atmosfera.

“Hoje, com a tecnologia que temos, a cana-de-açúcar é, vamos dizer, a menina mais boazinha da agricultura. Ela consegue seqüestrar [capturar] em todo o ciclo industrial quase um terço da energia fornecida em carbono”, afirmou o pesquisador.

Isso significa que a cana está fazendo com que a taxa de carbono atmosférica caia, apesar de todo o processo agro-industrial. Outras culturas também ajudam a incorporar muito mais CO2 ao solo.

“Então, a agricultura não é mais a bandida. Ela passa a ser a mocinha da história”. Graças às modernas tecnologias, as coisas que eram analisadas anteriormente como ruins ganham uma nova percepção.

Hilton Silveira é diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp. Segundio ele, o plantio direto evita a queimada e faz com que a área cultivada com milho ou soja, por exemplo, absorva durante um ano cerca de 500 quilos de CO2 por hectare. Antigamente, isso não ocorria. “Você queimava a mata para fazer agricultura. Aí, sim, estava causando aumento de CO2. Hoje, não mais”.

O estudo traça dois cenários para a agricultura, diante da perspectiva de mudanças climáticas, um mais pessimista e outro mais otimista. Hilton Silveira analisou que o mundo todo vai ser forçado a caminhar para o cenário mais otimista.

“Porque, se caminhar para [o cenário pessimista], há indicações muito seguras hoje de que o pior cenário já está pior do que se imaginava. Ou seja, os modelos que foram feitos, como os que nós seguimos, já estão um pouco atrasados. Porque o aumento de CO2 atualmente medido já fugiu da curva original traçada. Já está mais do que se esperava”. Por isso, ele recomenda que sejam adotadas ações para minimizar esses efeitos.

O setor do agronegócio cresceu 7,89% no ano passado, superando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no Brasil. Para isso contribuíram os altos preços das commodities (produtos agrícolas e minerais negociados no mercado externo) e a safra recorde de 133,3 milhões de toneladas de grãos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2007, o PIB evoluiu 5,4%. O agronegócio representou 24% da economia brasileira no ano passado.

O estudo da Unicamp/Embrapa acentua, porém, que as mudanças climáticas podem interferir de forma negativa nesse processo de crescimento. Em relação à soja, a pesquisa analisa que o aquecimento global pode diminuir a área de baixo risco ao cultivo no país em, pelo menos, 21% até 2020.


(Envolverde/Agência Brasil)

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