terça-feira, 3 de junho de 2008

Os privilégios e os desafios brasileiros na questão energética

Por Redação do Instituto Ethos

Zylbersztajn: Brasil leva vantagem por ter muitas alternativas em energias renováveis.

A matriz energética brasileira é privilegiada em relação a outros países, mas ainda é preciso desenvolver tecnologia e educar os consumidores, entre eles as empresas e o governo, para um consumo mais consciente de energia. Essas foram as conclusões do painel “Gestão Sustentável da Produção e do Consumo de Energia”, na Conferência Internacional Ethos 2008.

Segundo David Zylbersztajn, diretor da DZ Negócios com Energia, em qualquer situação, a energia, seja limpa ou renovável, representa degradação para o meio ambiente. Na verdade, de acordo com Zylbersztajn, “não existe uma energia 100% limpa”. A vantagem do Brasil é a possibilidade de utilizar alternativas renováveis, como biomassa, sol e vento, para produzir energia de qualidade, ressalta o diretor da DZ.

Um dos problemas que o país enfrenta é a centralização da produção de energia elétrica, principalmente levando em conta a extensão territorial e a distribuição da população, concentrada nas regiões sudestes e litorânea. “Não tem tanto sentido a energia ser produzida lá (na região Norte) para ser consumida aqui (na região Sudeste)”, afirma Zylbersztajn.

O ideal é que a produção ocorra de forma descentralizada, na opinião do professor Marco Antonio Saidel, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétrica da Escola Politécnica da USP. “Mas, para que isso ocorra, é preciso resolver entraves burocráticos, para, por exemplo, instalarmos chuveiros aquecidos pela energia solar. Naturalmente alguns perderão com a descentralização, já que as hidrelétricas ou termelétricas terão uma demanda menor caso isso ocorra”, observa o professor. Outro entrave à expansão de uma produção descentralizada, como o uso de aquecedores solares de água, é a atual legislação brasileira. “Será necessária uma lei que regulamente o uso e a ocupação do solo, porque se eu instalar na minha residência o aquecedor solar e um prédio for construído ao lado, obstruindo a luz do sol, terei problemas”, explica Saidel.

O americano Titus Brenninkmeijer, fundador da Solgenix – Solar Power to the People, também acredita que descentralizar é a melhor saída. Ele observa que especialmente no caso de zonas rurais, é muito mais barato a longo prazo instalar a energia solar do que a elétrica.

Mas, de acordo com Marco Antonio Saidel, simplesmente mudar as fontes ou as formas de produzir energia não é suficiente. “Fazer a transição para fontes renováveis requer uma mudança institucional e gerencial, tanto para os governos como para as empresas. Isso implica também avaliar como é usada essa energia”, sugere Saidel. Para ele, é preciso investir e ampliar as pesquisas na área de tecnologia para aumentar a produção de energia elétrica sem causar mais impactos ao meio ambiente.

Crédito de imagem: Nelson Aguilar

(Envolverde/Instituto Ethos)

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