segunda-feira, 2 de junho de 2008

Ambiente: O rock na luta contra a mudança climática

Por Mario de Queiroz, da IPS

Lisboa, 30/05/2008 – Utilizando a música como veículo de comunicação de emoções e linguagem universal, Rock in Rio, um dos maiores festivais do mundo, escolheu as alterações climáticas como tema central de seu projeto social, destinado especialmente a sensibilizar as novas gerações. Às vésperas de sua abertura, já estão instalados 200 painéis fotovoltaicos no Palco do Mundo, que farão parte da cenografia para a apresentação de artistas de renome internacional procedentes de vários países. As duas sessões iniciais acontecerão hoje, sábado e domingo, para depois recomeçar as apresentações nos dias 5 e 6 de junho.

Nesses dias, o Parque da Bela Vista em Lisboa se transformará em uma autêntica cidade do rock, com horas de festa e atividades adicionais para todos os gostos e idades. Diante dos painéis de energia solar atuarão figuras como Amy Winehouse, Rod Stewart e Joss Stone, da Grã-Bretanha; o grupo Metallica, Lenny Kravitz e Bon Jovi, dos Estados Unidos; Ivete Sangalo, do Brasil; Alejandro Sanz, da Espanha; Alanis Morissette, do Canadá; Tókio Hotel, da Alemanha, e o astro nascente de Cabo Verde, João Gil. Após três semanas de intervalo, Rock in Rio reaparecerá em Madri, primeiramente nos dias 27 e 28 de junho e, na segunda e última apresentação da edição 2008, de 4 a 6 de julho.

Nas cinco edições realizadas até agora, três no Rio de Janeiro (1985, 1991, 2001), de onde toma seu nome, e duas em Lisboa(2004 e 2006), o festival reuniu mais de quatro milhões de pessoas e foi transmitido via satélite pela televisão para 70 países, com audiência calculada em aproximadamente um bilhão de pessoas. A preocupação ambiental é definida pelos organizadores como parte de seu projeto intitulado “Por um mundomelhor”, cujo objetivo central é incentivar uma cultura de responsabilidade social. Rock in Rio-Lisboa “é muito mais que um espetáculo de música: é um evento catalisador de emoções e um mobilizador social”, explicam.

Iniciado em 2001 no Rio de Janeiro, o projeto foi concebido a fim de chamar a atenção e sensibilizar as pessoas através da música “para contribuir com a melhoria das condições sociais das comunidades através das mais simples atitudes cotidianas’, lembram os responsáveis pela iniciativa. Os painéis do cenário e outros 200 existentes serão instalados nos 20 centros educacionais vencedores do concurso Escola Solar, promovido pelo Rock in Rio, cuja produção energética será usada nos próprios centros de ensino e o excedente vendido para a Rede Elétrica Nacional (REN). O dinheiro obtido será destinado a projetos de apoio social.

O inovador concurso mobilizou mais de três mil alunos e 240 professores de 197 escolas portuguesas. Em três dos centros vencedores já foram instalados os painéis fotovoltaicos. O projeto, aprovado pela prefeitura de Lisboa, pelos ministérios da Economia e da Educação, por empresas de energias renováveis e meios de comunicação, se insere na ctegoria de apoios sociais do Rock in Rio-Lisboa 2008.

Na terça-feira aconteceu o ato formal de instalação dos painéis solares no Colégio Valsassina, da capital portuguesa, um dos premiados, que contou com a presença do responsável por Meio Ambiente da municipalidade, José de Sá Fernandes, lutador implacável para converter Lisboa em um exemplo para o resto da Europa no uso de energias renováveis. O Colégio Valsassin a é o terceiro centro a receber o prêmio como um dos vencedores com um projeto de “Ação contra o carbono”, cujo propósito é combater as alterações climáticas em nível local, propondo a implementação de políticas sustentáveis na área da energia e dos transportes.

A intenção dos alunos é elaborar e implementar um sistema de “gestão do carbono associado às atividades do colégio, como maneira de integrar as diversas questões ambientais onde a escola tem impacto”, tais como redução do consumo de energia e da conseqüente emissão de gases causadores do efeito estufa. O prjeto selecionado indica que “a intenção fina é que Valsassina se transforme em uma escola onde as preocupações com o impacto de sua atividade no clima se integrem em sua gestão cotidiana, realizando ações que reduzam seu impacto no clima”.

A parte de energia solar que esta escola captará e que será vendida à REN permitirá financiar projetos sociais durante os próximos 15 ou 20 anos, estimam os especialistas. O concurso se dirige às escolas de todo o país que possam apresentar projetos onde se conjuguem benefícios de caráter ambiental e social com aplicações em suas respectivas comunidades. Os equipamentos instalados nas escolas contam com um terminal de informação interativo, que inclui conteúdos educativos e informativos sobre energias renováveis e alterações climáticas, além de permitir um acompanhamento em tempo real da produção de energia dos 20 micro sistemas instalados nos colégios vencedores do concurso em todo Portugal.

Em março, a Escola Básica de Galiza, nos arredores de Lisboa, foi a primeira receptora deste sistema, pelo empenho da maioria de seus alunos nas causas ambientais e, em particular, por um relógio de sol de alta precisão científica, para cuja construção, por respeito à cultura e identidade nacionais, os jovens usaram o típico azulejo português. Em abril, o sistema fotovoltáico foi colocado na segunda escola premiada, a Domingos Rebelo, no arquipélago luso dos Açores, o Atlântico, em reconhecimento à iniciativa dos alunos de realizar um aproveitamento racional da energia geotérmica de Furnas, lugar de grande atividade vulcânica secundária.

O projeto dos jovens de Fuhrnas contempla a dupla intenção, de reduzir o consumo energético de fontes não-renováveis com a conseqüente redução dos gases causadores do efeito estufa e melhorar o ambiente térmico para os moradores do lar de idosos da Santa Casa de Misericórdia. A colocação dos 400 painéis fotovoltaicos nas 20 escolas, bem como o microsistema fotovoltaico ligado à rede, contam com a “cumplicidade” de jornais, revistas e canais de televisão que apóiam o projeto divulgando as vantagens das energias renováveis, com especial ênfase na solar, colocando desta forma um tom pedagógico na iniciativa.
O prefeito Sá Fernandes disse à IPS que a importância do projeto é determinante como “um chamado à cidadania para a produção de energia a partir de fontes renováveis”, mais ainda quando é protagonizada por jovens. Seu principal impacto é psicológico, “porque leva as pessoas a pensarem no meio ambiente”, acrescentou, destacando que esta é uma maneira eficaz de “passar do discurso ao concreto. Este é o caminho. Estamos todos no mesmo barco e é hora de remar na mesma direção”, disse Fernandes.

O pesquisador Pedro Queda, em um trabalho publicado por uma revista universitária alerta: “Os 11 anos mais quentes desde 1850, dos quais há registros, ocorreram nos últimos 12 anos. Em 2050, é provável que 75% das geleira dos Alpes suíços tenham desaparecido”. Cada vez que se recicla uma lata de refrigerante “se economiza energia suficiente para manter a televisão ligada por três horas”, explica. “São fatos como estes que justificam o tema-chave da edição 2008 do Rock in Rio-Lisboa: o meio ambiente”, ressaltou. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/IPS)

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